segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Adeus ano velho...

Ano de achados e perdidos, de redefinições, reconstruções. Dois mil e nove foi um ano definitivamente atípico em minha vida. Comecei o ano com a vida virada de cabeça pra baixo e com a sala de casa cheia de tralhas, sem saber onde enfiar cada objeto e como guardar cada sentimento. À medida que fui organizando e escolhendo um lugar para cada coisa, também encontrei coisas minhas que eu não imaginava que existiam. Uma saudade antiga, uma loucura, uma força. Tive a liberdade dos que pouco têm o que perder. Tive uma necessidade imensa de buscar algo substancial que me era desconhecido. E nesse aspecto o teatro me salvou, permitindo que eu me jogasse, experimentasse, desafiasse. Pessoas saíram definitivamente de minha vida. Pessoas entraram. Pessoas retornaram. Pessoas passaram. E o que marcou meu ano foi isso: pessoas. Essas que já faziam parte da minha rotina, mas que agora entraram irreversivelmente. Essas que apareceram como boas surpresas. Essas que permaneceram tão profundamente ligadas mesmo à distância. Todas essas, que estarão comigo em 2010, 2011, 2020,...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Então é Natal...


Cada um de uma cidade diferente, reunidos para celebrar como se fôssemos uma família. E somos. Teve quem engasgasse de dar risada e comentasse que nunca viu um Tender andando por aí. Teve quem fosse vítima, verde e morasse na floresta. Teve quem usasse chapéu de Papai Noel. Teve quem aparecesse antes tarde do que nunca para dar um abraço necessário. Teve quem lambesse todo mundo e não gostasse de carinho com o pé. Teve quem nos adotasse e brincasse conosco porque é Natal, não um dia qualquer. Teve tentativa de acordar os últimos dorminhocos resultando em todo mundo dormindo na mesma cama. Teve praia. Teve foto com Papai Noel gigante do supermercado. Natal tem esse gosto de felicidade...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O mar

E finalmente dei meu mergulho. Não um mergulho qualquer, mas aquele que antecipava a chegada de um novo ano. Aquele que me lavaria de toda a carga que vim carregando até aqui. Os atritos, as lágrimas, os ensaios exaustivos, o cansaço, o cansaço, o cansaço.

Era noite e a praia era só nossa. A água estava mansa como gosto e não fazia frio. Entrei no mar e fui deixando a água salgada molhar meu corpo, meus cabelos. Entreguei meus pesares para o mar, que os recolheu com suas ondas.

E voltei pura. Suave com meu corpo salgado, algumas estrelas nos olhos e amores brincando entre os dedos. E é isso tudo que trago do meu ano. Uma saudade que aprendi a ter de pessoas que passaram por mim. Outras pessoas que entraram irreversivelmente em minha vida, a que diz sempre a palavra mais honesta, a que te faz rir, a que deixa seu mundo mais leve, a que permanece silenciosa e perene a seu lado e, finalmente, aquela que faz o coração bater mais forte.

São esses os tesouros que 2009 me ofereceu. Todo resto eu deixo pra trás, eu entrego ao mar.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Para além desses muros


Estréia se aproximando. A vida começa a ficar mais corrida, os ensaios mais puxados. Cheguei na CAL ontem e já havia uma galera organizando o cenário, colando papéis, enrolando bambolês. No final do corredor, havia uma porta aberta. Pra ser honesta eu nunca havia reparado que aquilo era uma porta. Então eu vi que, atrás dela, havia mais, muito mais, um espaço gigantesco que se abriu ante meus olhos, com mato, bambus, casa, cachorros, muitos outros caminhos, outros espaços. Aquele universo inusitado provocou em mim uma súbita sensação de liberdade. Minha vontade era sair correndo pela mata, subir em árvores. Estava me sentindo em uma chácara. Subi e desci escadas correndo, andei sobre muros, corri, falei adoidada. Estava feliz.
Quando eu era criança, eu e minha irmã dormíamos no mesmo quarto, em uma beliche. Algumas vezes meu pai desmontava nossa beliche, que se transformava em duas camas. Eu me sentia em um acampamento. Essa simples mudança no quarto me deixava contente como se estivesse em uma festa. E estava.
Às vezes abrir uma porta ou mudar a disposição de um móvel é o suficiente para fazer valer um dia. Ou uma vida. Basta uma alteração pequena, só para nos fazer ver que, na rotina, existem múltiplas possibilidades. E que tudo pode ser encarado sob outros ângulos, é só procurar um novo olhar sobre o mundo.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Assim é


Escuto uma música, assisto a uma peça ou filme, vejo um quadro ou uma paisagem. E pego pra mim aquilo que me pertence. Aquilo que é intrinsecamente meu e está espalhado pelo mundo, pelas obras. Gosto quando encontro uma frase, um diálogo, que me emociona. Certas palavras têm poder de evocar o que somos. Ultimamente uma fala da peça "Viver sem tempos mortos" povoa minha alma. Faz pensar no Amor e na Morte, minhas duas grandes obsessões, mas que talvez sejam um tema só, pois que não consigo pensar neles separados.
"Viver sem tempos mortos" é uma peça sobre a filósofa Simone de Beauvoir, representada por Fernanda Montenegro. Outra hora teço meus mil elogios à peça e à atuação de Fernanda, mas o que quero contar agora é esse trechinho de fala. Ao falar sobre a morte de Sartre, seu grande companheiro de vida, Simone diz: " SUA MORTE NOS SEPAROU. MINHA MORTE NÃO NOS REUNIRÁ. ASSIM É."
Amor é uma coisa meio aleatória. A pessoa aparece na sua vida do jeito certo e no momento certo. Outras pessoas aparecem. Mas, por algum motivo, é uma que te dá um sentido especial. E esse motivo quase nunca é a soma de qualidades. Não escolhemos alguém porque ela seja a mais bonita, a mais inteligente, a mais rica. Summer, em "500 dias com ela", reencontra seu ex após se casar com outro rapaz. Ela, que temia compromissos, agora estava casada. Como assim? Então acontece um dos diálogos mais bonitos do filme:
- Um dia eu acordei e soube.
- Soube o quê? - ele insiste.
- O que eu nunca tive certeza com você.
Simples assim. Alguém me disse, certa vez, que não existe a pessoa certa no momento errado. Tinha razão. Amor não tem muitas explicações. Contra amor não se argumenta. A gente sabe, apenas.
E é porque temos o sabor, o saber do Amor, que a Morte me é tão absurda. Porque torna finito aquilo que é transcendental. "Minha morte não nos reunirá". Eu amar e ter amado tanto faz com que eu não me conforme com a Morte. O universo funcionando como um sistema fá-la parecer natural. Tudo circula. A vida humana é, para mim, uma interrupção nesse fluxo. O modo como simbolizamos nossa vida, pricipalmente por esse modo, que é amar, atribuir a outros um sentido único, quebra o absurdo da falta de sentido. Mesmo que seja um sentido inventado. Não deveria fazer parte desse sistema em que tudo passa, não segue essa lógica.
Amar é aleatório. Mas morrer é imoral.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Blackout




E foi-se a luz. Pior que a luz indo embora foi o ventilador, reduzindo velocidade até parar. Eu já estava na cama, havia três dias que mal saía da cama, o corpo e a cabeça continuavam doendo. Eu poderia virar para o lado e dormir, não fosse o calor. Olhei para a bateria do computador, já quase no fim. Fechei as outras janelas abertas, para ficar só escutando música, pelo tempo que durasse. Não durou.


Na sala, agitação de vozes. De repente alguém me anuncia que vão descer, procurar algo para comer. Quem? Todos nós. E vai me deixar sozinha no escuro? Era só manha. Não tenho medo de escuro. Quer ir? Não. Preguiça de trocar de roupa. E fiquei no silêncio apenas pensando no que fazer com toda aquela escuridão. Fiz massagem nos dois pés, fiz alongamento, cantei em voz alta, bebi coca cola estirada no sofá. Apenas mais um desaforo pro estômago, que me incomodava havia dias e que havia pouco eu enchera de caldo de feijão. Má idéia. Nauseada, entornei o que sobrara de coca na pia. Olhei pela janela e as únicas luzes que via pela rua eram dos ônibus e automóveis. Estou entediada, quem sabe eu pegue um ônibus. Posso ficar olhando a cidade parada ou simplesmente levar um livro para ler. Lembrei das dores no corpo, da náusea. Outra má idéia, que desta vez reconheci antes de colocar em prática.


Com a fraca luz do celular fui escovar os dentes. No meio da escovação recebo uma mensagem, perguntando se poderia me ligar em casa. Por favor. Atendo ao telefone e a outra voz me alegra. Chegam pessoas em casa falando alto: "É o fim do mundo!" Silêncio, estou ao telefone. Curiosamente as pessoas que entraram não são as mesmas que mais cedo partiram. Mais tarde uma delas dirá que isso tudo parece um quadro ou um filme, não me lembro, surrealista. Estão com fome, não há lugar aberto para comer. Pergunto quem são elas. Justifico que não reconheço no escuro. Em pouco tempo chegam outras pessoas, agora sim, as que partiram mais cedo. Trazem cachorro quente, a única coisa que conseguiram encontrar. Vejo um monte de gente acampada na sala, comendo. Lembro um conto de Caio Fernando Abreu sobre os cachorros loucos.


Queria tomar um banho, mas não consigo no escuro. Tem vela, alguém me informa. Então tomo meu banho e penso que mais tarde, se a energia não voltar e eu não conseguir dormir, ficarei tomando banho. A noite toda, talvez. Penso nas coisas que esqueci de dizer ao telefone, digo por pensamento que descobri vela em casa. Saio do banho, pego papéis, lápis de cor, um livro da Clarice. O fogo me dá esse poder. Mas logo mudo de idéia e decido que quero ser examinada, algo sobre homeopatia. Respondo a muitas perguntas. Se meu temperamento varia? Sim. Se sou autoritária ou submissa? Autoritária ou submissa. Se sou isso ou aquilo? Isso. Isso e aquilo. Isso ou aquilo. Um de cada vez. E recebo em resposta que sou um pouco sulfúrica, mas mais fosfórica. Identifico-me com ambas as descrições. Isso. Isso e aquilo.


Resolvo dormir, sopro a vela sobre a mesa e vou para a cama pensando que nem ao menos perguntei se as pessoas que ficaram na sala precisariam de luz. Que desatenção, penso. A essa altura já dormi. A energia volta no meio da madrugada, tenho a leve percepção da Melissa se levantando para ligar o ventilador. Hoje de manhã ela me pergunta se eu estava dormindo quando a luz voltou ou se eu fiquei mesmo muito contente. Então ela diz que se levantou para apagar as luzes, ligar o ventilador e fechar a porta. Que horas eram? Umas cinco da manhã. Eu estava gargalhando. Não, não me lembro. Mas me lembro de ter acordado com minha própria voz, no meio da madrugada, dizendo alto: Intensidade!


Às vezes acontece...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Acontece...




Confesso, com alguma vergonha, que caibo em mim. Pequenamente meus sentimentos ocupam o espaço da praticidade cotidiana. Vivo com reservas, economizando nas ilusões, nos amores e no sangue. Caminhando em um ponto limítrofe, do qual eu talvez possa escapar. Mas eu quero a via crucis. Quero uma vida que não caiba na minha vida. Às vezes isso. Mas às vezes só quero ser simples e leve.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Chegada


Entro. Não sei quanto tempo fico. Sei que fico. Sacudo a poeira trazida de outras terras, dos tantos caminhos que percorri para chegar até você. Eu não sabia aonde ia, tantas vezes me perdi. Tateei cegamente até te encontrar. Aqui ergo minha nova morada. Dispo-me das mantas com que outros me aqueceram, arranco os espinhos com que outros me feriram, livro-me dos adornos, dos odores, dos sabores, dos saberes. Para chegar pura e sem medos.

Minto se disser que te reconheci de imediato. Minto se disser que não hesitei entre permanecer e seguir outros rumos. Mas simplesmente me permiti brincar nos seus jardins e, levianamente, infantilmente, fui sendo feliz. Até perceber que não quero ir embora. Não agora, enquanto ainda há tesouros a serem encontrados.

Porque ainda somos tão novos um ao outro, eu me perco continuamente em seus labirintos. Ainda não aprendi a decifrar sua língua, não me ajustei a seu fuso horário. Tropeço em pérolas e também em pedras. E às vezes olho sua paisagem e me pergunto se ela me será hostil ou suave. E por um segundo tenho medo, depois me encho de mais coragem.

Que marcas vocês imprimirá em meu corpo? Com que cores tingirá minha aura? Com que armas me ferirá? Quais serão nossas coincidências? O que me tornarei depois de você? Qual Lian você despertará em mim? De que sonhos você me alimentará? Qual será sua face para mim? Você deixará um rastro suave ou pegadas indeléveis? Ou simplesmente permanecerá? Ou talvez nem exista?

Não temos ainda uma história, temos perguntas e possibilidades. Todas elas. E a história que construiremos se erguerá sobre novas perguntas e nunca sobre respostas, pois duas pessoas nunca se encerram. Que nosso encontro tenha a suavidade de uma tarde de primavera. Que enfrentemos nossas oposições de peito aberto e coração desarmado. Que sejamos adubo para o sonho do outro, nunca castração. Que desbravemos juntos novos horizontes e que você me aponte um novo ângulo e que eu te apresente uma outra visão. E que possamos, sem receio, desnudar nossos segredos, ânsias e defeitos. E que apesar disso e por isso mesmo sejamos ainda mais amados. Por tudo que somos, incluindo aquela parcela de mim que me será sempre inalcançável e aquela de ti que lhe será inatingível.


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Faz pouco tempo postei um texto chamado "Partida", a partir de um meme cuja proposta era escrever uma carta terminando um relacionamento. Gostei tanto da idéia que me propus, agora, o contrário: um texto iniciando um relacionamento...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Vida inventada


Fim de semana cultural na casa do Luís Renato. Pintamos quadros baseados em frases de Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector, escutamos Maria Gadu, demos muitas risadas e conversamos longamente sobre o momento que estamos vivendo. São muitas as coincidências, os caminhos paralelos. A gente se entende se desentendendo e se desentende até pelo olhar. E aí acontece o entendimento, aquele verdadeiro. A gente não faz sentido, por isso ele é meu companheiro. A gente troca textos que nos tocam, mostra um ao outro músicas, pinturas e coisas bonitas. Ele é meu amigo-poesia, com quem o mundo é leve, bonito e não segue a lógica das coisas mundanas. "Que seja doce." E é.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Desabafo

Dias em que minha vontade é ligar no automático. E viver como zumbi. Saber conduzir todas as situações da melhor maneira possível. Sem ter dúvidas sobre o que é o bom, o que é o correto e, sobretudo, sem ferir. Os outros e a mim. Talvez seja excesso de amor esse medo de decepcionar. Amor pelos desconhecidos, pelos pouco conhecidos, pelas promessas, pelas expectativas alheias. Amor a quê? Não sei. Mas só amor tem poder de aprisionar, disso eu sei. Mesmo que ele seja feito de uma agressividade feroz que às vezes se parece com ódio.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Partida



Parto. Dou-o à luz e que ninguém se engane: a dor é minha. Você que estava recluso em minha escuridão. Que se alimentou do meu sangue, dos meus sonhos. Você que era uterino, que era entranhado. Que eu cultivei dentro de mim, fiz crescer. Você que sugou tudo o que eu era e assim me deu um sentido. Contigo cresci nesta gestação. Hoje te abandono ao mundo. Não sem dor.



Peço-lhe que não me peça que fique. Que não me pergunte se ainda há amor. Sempre haverá. O mundo sem você me assusta, pois era você o horizonte que eu seguia. Hoje não tenho rumo e é esse fio de passado que me sustenta enquanto caminho perdida. Com a liberdade das possibilidades e a pobreza dos sentidos. Mas você, que é névoa e vento e orvalho, você me conduz ao avesso. E sigo em frente.


Ter-te amado tanto faz com que eu tema a morte. Aqui nossos caminhos se separam pela eternidade. Nunca mais é grave e arde como um grito não dado. Mas, ah, os caminhos. São tantos os que preciso descobrir, desbravar. Com você entranhado em meu corpo era-me impossível. Amar pesa. Pressinto que sem você eu tropece em muitas pedras, me fira em muitos espinhos. Pressinto que em muitos momentos desesperar-me-ei ao me encontrar só e perdida. E que conversarei com você, mesmo em sua ausência. E te contarei meus pensamentos, descobertas e todas as coisinhas cotidianas que sei que você gostaria de ouvir.


E sigo mais corajosa porque coberta com todas as delicadezas com que você me vestiu. O lanche que preparava para eu levar para a aula. A mesa de quebra-cabeças. A atenção sincera dada àqueles que amo. As flores escolhidas a dedo, as flores colhidas em árvores. O poema transcrito em caprichada caligrafia. As palavras cruzadas. As tartarugas, os pinguins, os peixes, a cachorrinha bassê, o gato. O quadro. Os textos lidos lado a lado. As discussões filosóficas. A comida que eu gosto preparada com carinho, mesmo errando o ponto ou a mão no sal. A cachoeira gelada. O arroz com hortelã que me fez passar mal e estragar a viagem que lhe dera de presente. O colo em que eu dormia 48 horas seguidas nos longos percursos de ônibus. As músicas em que desafinávamos juntos. O jogo de xadrez que eu sempre perdia. Os chuviscos. O cheiro de sal no corpo. As constelações. As noites de despedida em que o mundo podia acabar. As longas cartas. As saídas noturnas para procurar as comidinhas que eu quase gravidamente desejava. Os apelidos diários que inventávamos. O sorvete de creme com nutella.


Sei que tantas vezes faltei com você. E gostaria de lhe ter dado um amor perfeito, mas era eu, imperfeita, com o melhor que soube dar. E meu melhor foi tão pouco e tudo que eu tinha. Sei que meu amor sempre foi uma oscilação entre o querer e o não querer. Sei que a necessidade da sua presença se completava com uma necessidade profunda de saudade e solidão. E que tantas vezes precisei me afastar. E agora ainda mais. E definitivamente. Definitivamente só e saudosa de ti. E por isso te amo mais.


Talvez algum dia nos cruzemos ao acaso. Que não haja mágoas entre nós. Que as doces lembranças superem as vezes em que te feri. Que seja permitido um abraço forte e sincero. Que nos seja permitido sorrir. Que nos seja permitido chorar. E que cada um siga seu caminho sabendo que somos maiores por termos tido o outro em nossa história. E me lembrarei que um dia fui imortal porque te tinha a meu lado. E seguirei. E seguirás. Que sejamos felizes.



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Esse texto é um meme proposto por Isa Sousa. A idéia é escrever um texto como se rompesse com alguém. Regras do meme: 1) Escrever uma carta como se estivesse rompendo com seu namorado. 2) Escrever estas regras e uma breve explicação do que é o meme. 3) Indicar cinco pessoas.

Li o texto do Renato Cirino em seu blog e fiquei morrendo de vontade de escrever o meu. Então fiquei super contente de ele ter me indicado. Escrevê-lo foi uma espécie de catarse, deixar fluir o dito e o não-dito ao amor simbólico, esse que é feito dos amores do passado, da experiência presente e da projeção de futuro. Espero que as pessoas que eu indicar também gostem da idéia e se divirtam. São elas: Erika, Alice, Mayara, Doug e Gustavo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Caio em mim

O Pablo era paixão antiga, mas um dia o relembrei de repente e me veio essa vontade súbita de revisitá-lo. De Pablo passei para Affonso. E agora Caio, minha nova paixão. Fecho-me no quarto para ficar, em silêncio, a sós com ele. Caio me entende como ninguém. Ou melhor, Caio me entende como alguém. Como Clarice. Caio me traduz. Ele encontra essa ferocidade em mim, essa ânsia, essa solidão profunda, indevassável. E me reconta com uma aspereza quase suave, que não me assusta. Nos encontramos em emoção ritualística. Tenho vontade de chorar. Acontece quando encontro um dos meus. Grito no silêncio absoluto da reclusão com Caio. Caio em mim. No infinito do meu ínfimo. Caio.... Caio...caio...

domingo, 23 de agosto de 2009

Seguir viagem

Essa semana veio acompanhada de uma vontade de sair correndo... começar a correr, percorrer cidades, países, correr, correr, até achar um lugar, o meu lugar. De repente o mundo em que estou me parece tão estranho e alheio a mim. Aí de repente encontro uma música, uma poesia, um conto, capaz de me comover. De me transportar para esse lugar onde eu gostaria de estar: eu.

sábado, 15 de agosto de 2009

Os dias de hoje


São dias em que o que me abriga também me ameaça.

São dias em que meu melhor é o que me acusa.

São dias em que tudo é antigo e de uma novidade assustadora.

São dias em que as ações mais inconsequentes trazem os maiores prêmios.

São dias em que espirrar, ter um resfriado ou crise alérgica são de um mau tom quase imperdoável.

São dias que são repetições dos dias.

São dias de planos coletivos, com sonhos de amanhã.

São dias que misturam as quatro estações do ano em um só dia.

São esses, os dias de hoje.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Elefantinho colorido


Quando a Marina esteve aqui, ela me comprou uma miniatura de estante. Pintamo-la e fizemos coisinhas para enfeitá-la. Mandei imprimir fotos pequeninas, fiz albinhos de fotografias, revistinhas, comprei porta-retratos de fotos 3X4.


Fiquei empolgada com coisas pequeninas e continuo fazendo-as.


Também tenho lido muita poesia.


Férias para mim é isso. Próxima semana, de volta à ativa.

sábado, 1 de agosto de 2009

Encontros

Estranhos encontros têm marcado meus últimos dias. Encontros ao acaso, encontros de gente desencontrada, encontros combinados, encontros desejados. A cada um deles é um pedaço de mim que também encontro. Aquele pedaço que sente o coração se apertar ou bater mais forte e me conta onde eu devo estar.

terça-feira, 28 de julho de 2009

...


Dia estranho... Prefiro não comentar!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

De volta ao Rio


Após uma semana em Goiânia, voltei, na segunda-feira, ao Rio. Fui embora com uma sensação esquisita, sabendo que não voltarei mais ao apartamento onde vivi por mais de quinze anos. Na minha próxima visita à cidade já estaremos na casa nova, o que também acabou me animando, já que adorei a casa. Foi bom rever os amigos, embora pouco, já que todos os que não viajaram estavam trabalhando. Mas isso mudará em breve, depois que eu escrever o Manifesto que eu e Júlia idealizamos. Também foi surpreendente reencontrar ao acaso gente que há tanto eu não via. Comi muita pamonha e também o macarrão chinês do meu pai.
De volta ao Rio, está sendo bom rever as pessoas queridas. Fizemos ontem uma longa viagem para Campo Grande, para um tão esperado aniversário infantil. Amo festas infantis com seus bolos, brigadeiros e brincadeiras. E, sobretudo, amo saber que aqui nesta cidade estou criando outras raízes e agregando famílias à minha família. E que tenho muitas casas onde sou recebida com o mesmo aconchego.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Clube da Luluzinha

Tivemos hoje um Clube da Luluzinha no Sr. Crepe, pra variar. Definitivamente, é a melhor terapia.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Em Goiânia

Aterrissei em Goiânia hoje cedo e ainda não consegui entender o que esta cidade provoca em mim. Meu apartamento já sendo desmontado e as coisas sendo transferidas para a nova casa, para a qual iremos no fim do mês. E eu com essa mania de achar que os lugares que deixamos para trás têm que parar no tempo e permanecer imutáveis. Quero meu passado eternamente materializado de modo que eu possa visitá-lo e revivê-lo quando assim o desejar. Também aproveito minha vinda a Goiânia para consultar todos os médicos possíveis, tortura necessária. Tenho um quadro por terminar e saber disso me agrada. É o alívio de uma saída de emergência. Há o livro que ficou aqui e de repente sinto urgência em reler. Há os gatos correndo pela casa. Os telefonemas amigos, a presença familiar. Os muitos planos, coisinhas a comer, pessoas por encontrar. Há nada para entender, há muito o que viver.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Férias!!

Encontro histórico: eu, Dani e Nel. Como nos tempos do Marista. Fizemos uma crepada aqui em casa com violãozinho e os amigos do presente. Uma gostosa mistura de tempos e lugares.

Não sei por que o Rio, nas férias, adquire uns ares de Goiânia na infância. Eu pensava nisso, andando na rua, quando encontrei um floricóptero. É nome que demos, crianças, àquelas florzinhas lilases que caem girando como helicópteros.

Então me lembrei das manteiguinhas. Não sei por que assim batizamos as pedrinhas arredondadas que encontrávamos. Sei que elas nos eram humanas, com suas vidas e sentimentos. E brincávamos com elas e cuidávamos delas.

Felicidade me tem um sabor familiar...

terça-feira, 7 de julho de 2009

Eu também quero falar

Nos últimos dias, "Hamlet", com Wagner Moura, esteve em Goiânia. Meus amigos, Erika e Rodrigo, escreveram suas impressões sobre a peça. E, como eu adoro um debate e minha opiniões não caberiam no espaço de comentários, publico aqui o textinho que escrevi quando assisti ao espetáculo. Agora espero os comentários!


Shakespeare, que no século XVII fazia teatro para o mais variado público, formado por desde altas classes até aquelas mais populares, chega ao século XXI com uma aura de hermetismo. Trata-se de um Shakespeare inatingível, cuja compreensão só pode ser alcançada por uma elite intelectualizada e pedante. Em sua montagem de Hamlet, Aderbal Freire Filho destrói esse Shakespeare hermético, destinado aos amantes de línguas mortas, e nos apresenta um teatro vivo, que se aproxima do público, sem que isso signifique profanizar o consagrado autor. Para Aderbal, não há profanização, simplesmente porque não há deificação. A grandiosidade de Shakespeare está em seu alcance, na maneira certeira como atinge as nuances da alma humana, universalmente.



A cuidadosa tarefa para aproximar Shakespeare do público iniciou-se já no trabalho com o texto, cuja tradução foi realizada pelo próprio diretor, juntamente com Wagner Moura e Barbara Harrington. Essa apropriação do texto deu à peça um entendimento uterino, já que cada palavra foi meticulosamente escolhida e digerida pela equipe. Buscou-se uma linguagem sem rebuscamento, mas não menos poética. As palavras, na boca dos atores, descristalizaram-se, enchendo-se de sentido e de sentimentos. A grandeza de tais sentimentos, porém, perdeu um pouco de sua sutileza ao manifestar-se, na atuação de Wagner Moura, como uma grandeza de gestos. Excesso que não passou despercebido pela platéia perspicaz, que encheu o teatro de gargalhadas, quando Hamlet afirmou que teatro nada tem a ver com exagero. A platéia achou graça da contradição, talvez mesmo sem se dar conta.



O cenário quase minimalista e o figurino, uma mescla de roupas atuais com alguns elementos simbólicos que remetem ao contexto da peça, evidenciam o que é constantemente revelado: que o teatro nos transporta, mas não nos ilude. Que estamos diante de uma ficção, que, entretanto, é capaz de nos atingir como talvez poucos fatos reais consigam. Aderbal nos transporta para esse mundo shakespeareano de maneira metalingüística, lembrando-nos que isso é teatro. É teatro e é real. Os atores, diante da platéia, transformam-se e se destransformam, transitando entre ator e personagem. O cenário abriga ambos. Uma câmera de vídeo, manipulada pelos atores em cena, cujas imagens são projetadas em um telão ao fundo do palco, amplia a ficção e sua metalinguagem. E assim Aderbal nos conduz por uma trama em que cada elemento é lucidamente escolhido, cada opção se revela coerente e dotada de sentido, para, enfim, chegar ao resultado esperado: aproximar Shakespeare de cada um de nós. Trazer Hamlet para tão perto, tão perto: para dentro. Se o objetivo foi alcançado, mede-se pela resposta do público, que lota o teatro: aplausos fervorosos e emocionados.

domingo, 5 de julho de 2009

Mulher à beira de um ataque de nervos

Obrigações, trabalhos, provas, diversões, emoções. Tanto a fazer e a viver. Eu não consigo escolher. Quero tudo. O que se passa fora e o que se passa dentro. Cumprir com as obrigações e viver todos os prazeres. Pouquíssimas horas de sono, tempo quase nenhum em casa. Euforia e sono se revezam ao longo do dia. E eu me entrego à vida mais do que meu corpo aguenta.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Das grandes decepções

Ciclicamente tenho alguma decepção que me faz desacreditar na humanidade. Semana passada tive uma decepção daquelas que fazem o mundo de repente parecer sem sentido. E olha que sou muito compreensiva com quase tudo que é humano. Uma coisa nunca vou entender: quem quer mal a quem um dia te quis bem. Pode você ter com alguém uma relação de amor e confiança e, um belo dia, passado tudo isso, a pessoa te querer mal a ponto de te prejudicar? Prejudicar só, não, sacanear mesmo, de modo baixo e sujo? Apesar de tudo que eu via por aí, eu acreditava secretamente que não podia. E confiava cegamente na bondade, no querer bem...

Mas eu me armo com a mesma ferocidade com que sou atacada (por alguém que outrora me protegeu!), encontro caminhos, tomo providências, alicio cúmplices, aciono contatos. E quanto mais forte me torno, também mais doce vou ficando. Porque descubro no meio disso tudo uma força que não é minha, mas que me é dada com o carinho do profundamente humano. E saio armada com mais ingenuidade e entrega do que antes. E ainda acredito, sim, na humanidade.

domingo, 21 de junho de 2009

Festa Junina!

Entre as muitas coisas que moram no meu mundo das saudades, uma delas são as festas juninas. Saudades por que, se há delas todo ano? Saudades simplesmente porque festas juninas, para mim, têm um gosto inexplicável de passado. Um gosto de escola, ensaios de quadrilha, milho, cheiro de quentão, canjica, correio elegante, paixões platônicas, primeiro namorado, encontro de amigos, cidade natal.

Ontem fomos ao Arraial da Providência e teve quase um gosto de infância. Tranças no cabelo e pintinhas no rosto... e éramos crianças novamente. Crianças para brincar de pula-pula e montar touro mecânico, para vibrar com cada comidinha, para dançar quadrilha alegremente.

A verdade é que, quanto mais velha fico, mais liberto minha criança. E me permito ser simples, boba, inocente. E quanto mais o faço, mais preservo minhas referências. Preciso ser criança para saber quem eu sou.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Para quem me entender

Mas talvez a salvação esteja na linguagem... A partir do momento em que se nomeiam as coisas, elas passam a existir. Então essa falta de que me queixo, no fundo, é um medo de pronunciar tais palavras, o medo de sua realidade. Há um vocabulário aprisionado em mim. Há um mundo inquieto por existir... Se ao menos eu ousasse nomeá-lo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

"Sobra tanta falta"


DAS AUSÊNCIAS
Nos últimos dias tenho me ausentado de tantas coisas importantes, eu sei. Passagem comprada para Goiânia, acabei cancelando-a, por diversos motivos. Entre eles os ensaios que eu não posso faltar e o dinheiro que me falta. O que me redime é que é a mim que minha ausência esvazia.
Casamento da Taís
Minha prima de alma casou-se no sábado, dia 13. Eu queria muito estar lá para dividir com ela esse momento de felicidade merecida. Não estava. Mas estava. Com minhas vibrações positivas e o bem-querer de quem sabe que essa é uma pessoa que doa ao mundo e por isso merece o melhor que o mundo tem a oferecer. O amor, talvez.
Aniversário da Érika
Eu botei a maior pilha para ela fazer uma festa junina e aqui estou eu, no Rio de Janeiro. Mas não me esqueço do aniversário dela, mesmo que ele não esteja no Orkut, desconfio que propositalmente. Não tenho palavras para descrever o que a Érika significou na minha vida, as histórias que passamos juntas no Rio e que continuamos passando. Uma pessoa que caiu no meu caminho por acaso e que escolhi como irmã.
Despedida do Eduardo
Ele tem esse tamanho todo, essa risadona marcante, mas foi de modo muito sutil que entrou na minha vida. Aparecendo nos encontros, normalmente levado pela Érika, pela Maria Cristina. E de repente era presença essencial no Master, no Franz, na Casa São Paulo, no Peixinho. Boa viagem, Eduardo!
DA PRESENÇA
Pra compensar tanta falta, veio minha amiga Júlia me visitar. Pra falar a verdade, o propósito dela não foi exatamente esse, mas ainda assim ela está aqui e enche a cidade com a alegria de sua presença.

sábado, 6 de junho de 2009

Por um mundo mais divertido

Quando eu era criança, os automóveis na rua eram vermelhos, verdes, azuis. Hoje a moda são os tons de cinza. Máquina com cor de máquina, em variações que vão do branco ao preto. Eu, que adoro cores, decidi que meu carro será amarelo. Mas se as coisas fossem do meu jeito... Os automóveis teriam forma de bichos. Teríamos o carro cachorro, com variações de raça, cuja buzina seria um latido. O carro gato, que miaria. O carro leão, que rugiria. O caminhão elefante, o guindaste girafa. O trânsito seria um divertido encontro de animais.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Os segredos que não me conto

Não sei que caminhos me trouxeram até aqui: essa vida que tratei de explicar e dissecar, à procura de um controle. Com os muitos espinhos eu me domei. Até um dia me encontrar nessa vida toda construída, cerceada, podada, reprimida, logicizada. E resolvi que precisava dar uma enlouquecida, remexer minha obscuridade, mergulhar ou fugir pra valer. Meditação ou mochilão. Arte ou ritual. Catarse. Purificação. Profundidade.

Fui ensaiar uma cena de "Vestido de Noiva" com uma colega doce. No primeiro ensaio, ela não teve coragem de me dar o tapa que a cena pedia. Então fizemos um exercício para desenterrarmos nossa violência. Lutávamos sem nos tocar e, por fim, nos aproximávamos e começávamos a nos estapear, cada vez com mais intensidade. Entrávamos em cena e ela fluía com a temperatura certa. Na saída eu lhe dizia: "É tão bom bater e apanhar, não é?" Ela não devia concordar, pois sorria calada.

Não sei quantos medos foram necessários para silenciar minha alma. Sei que agora, através do teatro, tento, de maneira indireta, alcançar minhas emoções anestesiadas: os segredos que não me conto. Mesmo que doa. Pois a dor vem com este grande prazer: o de me certificar viva.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Nada demais


Hoje me forço a escrever no blog, pois sei que passei uns dias em falta com ele. Mas, honestamente, não tenho nada a declarar. Não, não é que não tenha me acontecido nada. É apenas que ultimamente tenho mais absorvido que devolvido ao mundo. Imersa em minhas viagens particulares de coisas sem importância. Tive um cachorrinho por uma semana. Ontem ele foi embora, após passar como um furacão pela casa. Comeu até a parede. Literalmente. Nos últimos dias fui invadida em meu autismo temporário por dúvidas. Questões a ser resolvidas, decisões a ser tomadas. Eu forçosamente devolvida ao mundo. Parida. Eu, que tenho preferido não falar as coisas que penso. Ou simplesmente não pensar.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Coisas da vida


Ventos bons cruzaram meus dias. Aniversário, amigos, poesia, música, teatro. Coisas que fazem a vida valer. Alegrias vindas de avião, dos abraços, dos telefonemas, do correio. Receber a visita do Gabriel, amigo goiano que mora em Brasília. Chegar em casa e encontrar um pacote enorme, que rasguei curiosa, e encontrar um presente da Júlia. Amiga que me faz ver que os aniversários não levam embora a infância. Amiga criança, companheira de brincadeiras, de jogos de linguagem, de estorinhas e coisinhas. Ganhei um super livro de origami cheio de papéis diferentes. Pelo correio também me chegou um envelope vermelho, do amigo mineiro João. Também amigo na linguagem e na sensibilidade, que manda notícias e fragmentos de seu mundo, tão diferente do meu. Sempre um cd com músicas, videos, adesivos, fotografias e exemplares de sua arte. Gosto disso, ter contato com o mundo do outro. Seja no corpo, na palavra ou na arte. No sábado fizemos sarauzinho no Forte de Copacabana, sob a lua cheia. Tocamos nossas músicas, lemos nossos poemas. E saímos nos conhecendo um pouco mais, cada um de nós. Finalmente, no domingo completei meus 27 anos. Distraio-me do susto com a idade ao reunir meus amigos em torno de uma boa comida e conversa. E vejo que diante das amizades, da alegria e da poesia, meus próximos 80 anos são muito pouco tempo. A vida é demasiado curta para sua imensidão.

sábado, 9 de maio de 2009

10 de maio


Vinte e sete anos atrás. Dia das mães. O presente: meu nascimento. Talvez um presente de grego, eu sei. Anos antes minha irmã nascera como uma boneca. Eu, quando nasci, minha mãe levou um susto, ela conta. Chorando com uma boca que ocupava o rosto inteiro. No dia das mães, a minha ganhou uma filha de presente. Nada mais próprio. Eu ganhei uma vida e uma mãe.
Todas as pessoas falam que sua mãe é perfeita, a melhor. A minha é imperfeita, imperfeita, imperfeita. Mas a melhor de todas.
Imperfeita porque apenas após o crescimento de duas filhas, um dia descobriu que bebês são bonitinhos: "Agora que tenho gatos, percebi a graça dos bebês. Eles são como gatinhos!" Imperfeita porque só sabia contar uma estória, que ouvíamos sempre com a alegria da primeira vez. Imperfeita porque viveu longe por quatro anos e nos fez encontrar sozinhas a porção que tínhamos de infância, de maturidade e de loucura. Imperfeita porque fala mais do que deve e é campeã de ratas e micos. Imperfeita porque seu extenso repertório culinário se resume à comida da empregada requentada no microondas. Imperfeita porque, quando fui morar sozinha, me deu a seguinte lição: "Vou te ensinar a lavar roupa...nunca use roupas brancas, só use roupas coloridas, em que a sujeira fique imperceptível". Imperfeita porque quase me nomeou por "Chenny".
Mas a melhor de todas porque, em seu jeito comicamente distraído ante o mundo, ensina uma profunda lição: existem poucas coisas que realmente têm valor e às quais vale a pena dar atenção. A melhor de todas pois sempre prezou nossa felicidade em detrimento de qualquer dinheiro ou posição social. A melhor de todas ao me ensinar com seu exemplo que pequenas vantagens não trazem vantagens reais, e que muitas vezes é preferível ser passada para trás a voltar a mente para mesquinharias. E nisso ela me deu a real dimensão de sua generosidade. A melhor de todas porque o mingau que fazia na nossa infância era motivo de festa entre as crianças da vizinhança, que se sentavam à mesa para celebrar sua alegria. A melhor de todas porque levava de ônibus todas as crianças do prédio para o clube, com a paciência de outra criança.
A melhor de todas porque, com sua humanidade e sua imperfeição, salvou-me de uma vida encontrável e definível. E deu meus contornos de uma pessoa inalcançável: impossível.

sábado, 2 de maio de 2009

Coleção

Começou quase sem querer. Eu pegava foto de um, foto de outra... quando vi, estava colecionando fotos 3X4. Já tentara colecionar outras coisas, mas acabava invariavelmente deixando de lado. Hoje contei 128. São poucas, para uma coleção que, mesmo despretensiosamente, começou há uns dez anos. De vez em quando tiro todas da gaveta e fico revendo-as. Têm sua vida, sua época, sua história. De algumas pessoas, tenho várias fotos. Comparo-as, por vezes impressionada com as mudanças que o tempo imprime nos rostos de cada um. Pessoas que há muito saíram da minha vida. Pessoas que permanecem. Pessoas que saíram, mas sempre permanecerão. Cachorros, gato. Sim, também deles tenho fotos 3X4.

Hoje resolvi fazer um álbum para minha coleção. Fiquei recortando papéis coloridos e ressuscitei os adesivos de dupla face especiais para fotografia que havia comprado tempos atrás. Separei as fotos por tipos de relações e épocas. Família, amigos de colégio, de faculdade, do Rio de Janeiro... Tarefa que deu dor nas costas e prazer na alma. Depois fiquei o dia inteiro apreciando meu álbum. Vendo e revendo, folheando.

Ah, aceito mais doações para minha coleção!!!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

ENTRE-VISTA (Ou aquilo que ainda não me perguntaram)*


*O título é roubado da Elisa Lucinda. Achei um caderninho antigo em que tinha feito essa brincadeira, mas agora faço uma versão atualizada de mim.
... que bebo suco de frutas como se bebesse cerveja. Enquanto os outros ingerem álcool, vou no suquinho e me sinto tão relaxada, feliz ou boba quanto qualquer outra pessoa da mesa.
... que uma ducha resolve para lavar o corpo, mas só um bom mergulho lava a alma.
... que preciso parar um pouco de falar besteiras, pois descobri que as pessoas me levam a sério. Incrível, mas tem gente que acredita nas coisas que digo.
... que tenho tropas de anjos da guarda se revezando para me proteger. E isso é herança de família.
... que acredito que a maior procura do homem seja pelo sentimento de comunhão. Isso é buscado nas drogas, nas religiões, no amor. Eu encontro fácil nas filosofias de boteco.
... que existem vários tipos de sono, como o sono de olhos, o sono de peso no corpo e o sono de subir um palmo acima do corpo. E que este último é delicioso, quando já estamos na cama.
... que não suporto televisão como som ambiente.
... que tanto peixes quanto carros só são bonitos quando parecem de brinquedo.
... que acho os hippies os homens mais bonitos do mundo. E não é porque gosto de batas, sandálias, cabelão e barba. Por algum motivo misterioso, os hippies nascem mais bonitos.
... que coisas ruins também podem ser belas. As favelas, à noite, parecem árvores de Natal. E a poluição dá ao céu um lindo tom alaranjado.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Selinhos




Minhas bolhinhas receberam recentemente dois selinhos. A Erika me deu o selo "Blog nota 10" e da Aline ganhei o selo "Somos mulheres bem resolvidas". Vamos, agora, às minhas indicações:
Blog Nota 10
Dani Baleeiro
Doug
Plural Blog
Objetos de desejo
Renato Cirino
Somos mulheres bem resolvidas
Bolhas
Dani Baleeiro
Erika
Feito por Stella
Helen Fernanda
Lillian Bento
Maria Cristina*
País de Alice
Pensionato
Taís Seibt*
Apesar de não colocar os links dos blogs, todos eles estão aqui na página do Bolhinhas, fáceis de encontrar. Há aqueles blogs cujos textos são poemas, não importa se em versos ou em prosa. Há aqueles que sempre acompanho porque são de pessoas queridas. Há os divertidos, os profundos. E os que adoro, apesar de nunca serem atualizados, que foram premiados com asterisco (ou seja, com direito a um puxão de orelha).

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O chá e suas consequências

Tudo começou com um biscoito. Queria mergulhá-lo em algum lugar, para morder parte molhada e parte seca e sentir, na boca, o contraste do crocante com o macio. Pensando melhor, não começou com o biscoito, começou com um final de tarde fresco, que, por sua vez, começou com um dia quente. E tudo começou muito antes e veio de uma história de lugares, pessoas, sensações. Mas aí corro o risco de ficar subjetiva e não contar minha história de hoje.

O dia amanheceu quente, quase infernal. Vivi e me locomovi nesse dia quente. De repente olho para o lado e vejo uma chuvinha fina. Volto a mim. Olho para o lado novamente e vejo o céu limpo. E de uma hora para outra o tempo está fresco e o céu azulado e amarelado. Um livro em mãos e uma música no ambiente. O livro era "O jogo das contas de vidro", de Herman Hesse, e o CD, "The soul sessions", de Joss Stone, para quem quiser repetir a experiência e ver se funciona. E o biscoito, que é de onde começamos a história. E o chá, eleito para molhar o biscoito. E, em dez minutos, a vida inteira valia a pena. E em dez minutos eu vivia minha vida inteira. Todos os afetos, todas as lembranças que a memória não alcança e que não cabem em um fluxo de pensamento, mas que estão registradas nas células.

E eu que comecei o texto pensando em falar sobre chás...

Agora nem sei mais se chá cabe na minha história. Enfim, o de hoje era de erva doce, minha fase atual. Mas cada chá tem sua fase, suas circunstâncias e suas consequências. Chá Mate quentinho e com açúcar, por exemplo, é o sabor de tardes de infância na casa das avós de minhas amiguinhas. Erva doce tem sido o sabor das noites aqui no Rio. E tem o eterno favorito, Jasmim, cujo aroma recupera toda minha vida, minha casa, minha família, biscoitos, casadinhos, aulas de estatística no domingo, China, Goiânia. E o melhor de tudo é segurar a xícara entre as mãos e respirar o vapor perfumado e quente que sai.

Minhas emoções sempre foram olfativas. E juro que nunca tomei chá de cogumelo. Por incrível que pareça, nem hoje.

sábado, 4 de abril de 2009

Felicidade fácil


Hoje a Luana resolveu montar o móbile de fotos que há mais de um mês estava guardado na gaveta. Fomos nós procurar fotos para mandar imprimir. Fiquei olhando aquelas imagens armazenadas em arquivos digitais, que há tanto tempo eu não via. Escolhemos, imprimimos, montamos o móbile, penduramo-lo no teto. Tão bom ver aquelas fotografias flutuando pela sala. No embalo, montamos nosso painel no armário do quarto, com outras fotos e a letra de uma música que nos diz muito, a mim e à Luana. Cada qual com suas lembranças e esperanças. Por fim, resolvi fazer o mosaico que prometera para ela. Lu no computador, eu no chão da sala, Day na varanda. Musiquinha no ar. Fórmula certa para ser feliz. Escutar música e fazer coisinhas. Seja que coisinhas forem. Montar quebra-cabeça, pintar quadro. Hoje era mosaico, a coisinha. Às vezes parece que ser feliz é tão fácil...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Primeiro de Abril

Dia da mentira. Como falar verdades? Tenho me perguntado isso há algum tempo. Estou com uma verdade engasgada para falar. Verdade delicada. A situação é a seguinte: Conheço uma pessoa que fede. Não é má pessoa, mas fede. Cheiro de suor misturado com perfume. Fico incomodada com o odor. O incômodo transforma-se em repugnância, asco e, em seguida, em raiva. Mantenho distância. Mas lamento, pois sei que pode haver uma pessoa agradável por trás do cheiro desagradável. Mas quem saberá? Só se um dia alguém tomar coragem e avisar a essa pessoa. Talvez um dia eu tome coragem. Provavelmente não. Seguirei evitando-a e irritando-me sempre que ela se aproximar. Longos dias da mentira.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Mais da rotina...


Já faz alguns dias em que acordo de manhã e meus neurônios ficam dormindo. Estou inacreditavelmente sonsa. Confundi datas e até cismei que o relógio do Nel estava errado, provando-lhe ao apontar na minha agenda "está vendo que primeiro de abril é na terça-feira?", quando estava escrito bem legivelmente na página "quarta-feira". Quando a Leilane falou na varanda de casa, fiquei imaginando de que casa ela tratava, pois não lembrava que aqui em casa tinha varanda. E ela, chocada, dizia: "Lian, aonde você acha que aquela porta de vidro da sala vai dar??" E eu: "Ãh? Porta de vidro? Não é uma janela?" Quando cheguei em casa, fiquei espantada ao perceber que, de fato, há uma varanda no nosso apartamento. E o pior é que eu até a frequento, pois é sempre lá que corto as unhas ou fico olhando para a piscina do Clube América, louca para me atirar. Juro que não fumo nada. Pelo menos tenho a desculpa de ter passado o mês de fevereiro inteiro perto da Júlia.

Descobri que Saint-Éxupery é um chato de galocha. Encontrei um livro todo lindinho, chamado "O amor do Pequeno Príncipe", com ilustrações feitas por ele e trechos de cartas que ele escrevera para uma paixão. Senti-me mal pela garota. Em todas as cartas ele só faz cobranças e reclama, reclama, reclama. Diz que ela não ligou, não o visitou, não teve consideração, etc. etc. e etc. Um ressentido. Fiquei decepcionada. Mas também, o que deveria ficar de certas pessoas são suas obras, não suas intimidades impublicáveis publicadas. Se um dia eu ficar interessante ou famosa o suficiente a ponto de as pessoas se interessarem por minha vida após minha morte, estarei perdida. Tenho tantas coisas impublicáveis espalhadas por aí. Milhões de cartas distribuídas por vários destinatários. Milhões de poesias de quinta categoria em papéis soltos. Confissões e confissões em páginas aleatórias de cadernos quaisquer. Pedaços de mim? Pode até ser. Mas, lidos por não iniciados, essas palavras perdidas mais me mentem do que me revelam.

terça-feira, 24 de março de 2009

Superfície

Depois de encasquetar com a morte, de morrer de vontade de jogar um mochilão pelas costas e me perder pelo mundo, de querer me jogar de ou em algum lugar, rasgar, pintar, meditar, delirar ou fazer qualquer coisa catártica, essas duas semanas no Rio estão sendo simples, apenas. Permitindo-me viver adolescências, ficar cansada, gostar e desgostar das pessoas, desgostar e gostar das pessoas. Permitindo-me não pensar e ficar na superfície das coisas. A ponto de ficar dias sem escrever no blog por pura falta de assunto.


terça-feira, 17 de março de 2009

A eternidade

Percebi que a morte é assunto recorrente em meu blog. Mas juro que, quando falo em morte, estou falando de amor. Assunto que ciclicamente me espanta. A finitude desse algo infinito. Recentemente descobri que o amor faz a morte absurda. A arte a torna suportável.

E se eu vivesse 100 anos...

Cem anos é pouco. É quase nada.

A eternidade me bastaria. Se fôssemos eternos, não haveria despedidas. Viveríamos todas as vidas possíveis, todos os amores possíveis. Nos desencontraríamos tranquilamente, com a garantia de que haveria um reencontro mil anos depois, milhões de anos depois.

Mas, se fôssemos eternos, o que seríamos? Com certeza nada do que reconhecemos como humano. Amaríamos, ainda assim, na nossa inumana forma?

Mas 100 anos... O que se faz em 100 anos? É pouco. É muito pouco...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Rotina

Deu nos jornais que um maluco se jogou em um avião no Shopping Flamboyant. Peguei-me pensando que não é só a mim que Goiânia enlouquece. Um mês inteiro em Goiânia quase me enlouqueceu. Meu passado revisitado de fora. Tudo aquilo que fora tão meu, desta vez tão longe do meu alcance.

Voltei ao Rio e finalmente respirei. O presente. Desenraizado, mas presente. A volta da rotina, com novas aulas, novos professores. Fiquei quebrada fisicamente, cansada, exausta. Mas emocionalmente anestesiada.

Hoje mergulhei novamente em mim. E foi bom.

domingo, 1 de março de 2009

"Desculpe, mas se morre"


Clarice Lispector tem um texto em que ela cita várias pessoas suas conhecidas que morreram. E encerra com a frase: "Desculpe, mas se morre". Quando li a primeira vez, fiquei abismada. Chocada com aquela verdade que parece tão simples e tão óbvia, mas que só de repente a gente a retém. A morte é questão que muito me intriga, quando, por um segundo, consigo compreendê-la, não com a compreensão racional e as frases que somos acostumados a ouvir e repetir ( "é o ciclo natural das coisas", etc. e etc. ), mas com a sensação profunda de alguém que, de repente, depara-se com a finitude.

Eu queria muito acreditar em religiões, em salvações, em almas. Mas não acredito. Também nunca compreendi o "eterno retorno", de Nietzsche, até um dia um professor explicar de um jeito que pareceu fazer sentido: "Se partirmos do princípio de que o universo é finito, então temos que concordar que há um número limitado de combinações possíveis dentro desse universo. Encerradas todas as combinações, é preciso que elas se repitam". Mas daí eu penso que isso só pode ocorrer se o universo for finito no espaço, mas não no tempo. Mas não existe tempo sem espaço... Divagações... A verdade é que essa idéia, que ameaça fazer algum sentido, parece ser a última religiosidade que me resta. Às vezes me agarro a ela com desespero.

Como é possível que pessoas vivam, sintam, amem, criem sentidos, pensem ... e um dia simplesmente acabem? A morte dos outros me espanta. A minha morte me espanta. Não faz muito tempo que descobri que morro. Então eu, eu também, sou mortal? Quando criança, eu me pendurava do lado de fora da varanda do meu apartamento, confiante em minha imortalidade. Eu já pulei do terraço do prédio para dentro da janela do andar abaixo, menina-aranha. Eu, naquela época, não morria. Hoje morro.

Faz alguns anos tive uma infecção. Decidi não tomar antibióticos, pensando: "Ou meu corpo se defende, ou morro. Como não morro, é claro que meu corpo vai se defender sozinho." Resultado: Fui parar no pronto-socorro e não morri. Mas descobri que poderia. Foi nesse dia que, em um choque, descobri minha mortalidade. Dois dias atrás, virei a madrugada no hospital, com crise asmática, bronquite, febre, respirando com dificuldade. Não era caso de morte, era só caso de tratamento. Mas levei a sério o ofício de cuidar desse corpo que é tão finito e que é tudo que sou. Este corpo, que é minha alma. E nada mais tenho além da leve esperança de que um dia, em um tempo humanamente imensurável, galáxias, estrelas, planetas ressurjam. E que entre eles, haja um planetinha azul, e que surjam vidas e que surjam povos, culturas. E que eles se encontrem. E que, dentre os encontros e desencontros, nasça uma garota chinesa em Goiânia, chamada Lian. E que ela viva, sinta, pense, ame, tema a morte, morra. E que tudo se repita infinitamente.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Faxina - parte II

Depois de dispensar sacos e sacos de lixo, imaginei que finalmente tivesse me livrado das tantas tranqueiras depositadas em meu quarto. A verdade é que tenho um talento especial para o acúmulo. Mania de querer guardar a vida toda no presente e de encontrar um valor sentimental em cada objeto. Quando comecei a morar no Rio, meu quarto era vazio. Rapidamente ele se encheu de coisas que não sei de onde vieram. A Marina, ao me visitar no ano passado, ficou escandalizada com minha bagunça: coisas nos dois armários, na estante, nas mesas, gavetas, na cama que outrora fora da Érika, no chão. Mas logo ela aprendeu a se divertir com meu caos particular, revirando meu quarto e encontrando coisas que ela pudesse aproveitar. Agora tenho dois quartos superlotados: o do Rio e o de Goiânia. Divido-me. A cada cd ou livro que resolvo levar para o Rio, me dói um pouquinho. Ainda não me acostumei com a idéia de estar saindo de casa.

Enfim, pensei que me livrara do excesso armazenado em meu quarto de Goiânia, quando dei por falta de um texto, um artigo científico fictício que escrevi há alguns anos, sobre a Teoria dos Alimentos de Júlia Lemos. Então resolvi abrir a parte de cima do armário, que passara ignorada na minha faxina. Para minha surpresa, havia ali montes e montes de cadernos antigos, pastas lotadas de papéis, folhas soltas, textos, poeira. Ao encontrar aquela bagunça tão bem escondida, fiquei feliz. Ainda há bagunça em meu quarto! E percebi que não quero me higienizar e me organizar. Não quero ser sempre previsível e encontrável. Quero esse monte de papéis amontoados e, sobretudo, quero neles encontrar, um dia, uma linha que me emocione. Quero, com um susto, encontrar meus pedaços em meio a esse ser caótico que sou.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Palavras ao vento


Ontem fiquei até tarde da noite mandando mensagens para tentar divulgar a ressurreição da Revista Bolhas. Hoje todas as mensagens que enviei desapareceram misteriosamente, mas aí já é outra história (só não perguntem se aconteceu de verdade ou se foi sonho). Mas, enfim, para deixar recados, tive que digitar várias e várias daquelas letrinhas distorcidas. Aquilo atrasa a vida da gente, é verdade, mas confesso que é bem divertido. Fico olhando aquelas palavras que se formam e, puxa vida, dá para fazer trilhões de coisas com elas, dentre as quais listo algumas:
1) Escolher nomes de filhos:
Nomes de menino:
REFREU
DIERMO
EVETIO
ZONION
ULLOR
Nomes de menina:
EODISA
EILIN
MELI
DIMA
YEPHIE
2) Jogar Leréia:
SPACTR: Pimeira estação espacial russa, responsável pelo lançamento de satélites artificiais na órbita de marte.
SORATO: Estilo musical oriundo do norte da Itália, caracterizado por um canto choroso e pela teatralidade, com temática melancólica.
ADERMA: Síndrome congênita que aflige mamíferos na região do Cáucaso, caracterizada pela ausência total ou parcial de pele.
HALIZ: Erva aromática cultivada pelos índios Yanomami, muito utilizada na preparação de chás.
3) Conversar com adolescentes no Orkut ou MSN:
- GENDE, vcx viram o CHUSTU q eu levei?
- Minha miguxa me deu um CHUT e naum mora maix no meu S2.
- SERAW q vai xuver hj?
- Eu DICIE PRELA naum fazer aquilo!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Faxina


"Eu hoje joguei tanta coisa fora
E vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim."
Fazer faxina no quarto é atividade dolorosa/prazerosa. A gente revira os papéis e objetos guardados na alma. Encontra o passado, rasga aquilo que queremos apagar da vida, guarda com cuidado o que queríamos ter mantido, joga fora o que não nos faz sentido. A gente abre as gavetas há muito fechadas, levanta poeira pelo cômodo. O gato, animado com a bagunça, participa, quer pisar nos papéis, deitar nas gavetas. A gente acorda emoções que dormiam em alguma gaveta da alma. A gente encontra muitos "eus". Eu que queria mudar o mundo, no "Revolução em cadeia". Eu que tentava me encontrar em poemas. Eu estudante que fazia exercícios de Matemática. De quantos "eus" me faço e junto os pedaços para encontrar uma face que de tantas tem uma só certeza: sanidade é opção diária e exige esforço contínuo. E esse exercício de me ser é por vezes dolorido, pois quanto de mim tenho de abandonar. E abandono fazendo uma grande faxina, no quarto e na alma.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Expressões inventadas e reinventadas

HOMEM DE DANÇA DE SALÃO

Esse termo designa um tipo específico de homem: homens bregas, com calça de cintura até o peito e camisa para dentro, perfume forte por cima do cheiro de suor e mau hálito. A expressão surgiu a partir das minhas tentativas de fazer aulas de dança de salão, com rápida desistência, porque tinha que ter muita proximidade com o tal tipo de homem. Desde então, qualquer homem que se enquadre nesse estilo virou "homem de dança de salão".


CHATO QUE PASSA MAL

Você já reparou que, em um passeio ou viagem, é sempre a pessoa mais chata do grupo que passa mal? Pois é.


MIAR

Havíamos combinado um passeio pela manhã, quando, na noite anterior, nosso amigo Nel anuncia: "Gente, amanhã de manhã vou miar". Bem mais tarde ele explicou que "miar" significa "dar para trás", mas até lá eu já havia interpretado a expressão à minha maneira e, quer saber? Acho que fez muito mais sentido. Minha linha de pensamento foi: Gatos miam. Gatos são dorminhocos e preguiçosos. Logo, "miar" significa ficar curtindo preguiça. Bem melhor, né?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Curtas

Lembram o merengue delicioso que Júlia e companhia levaram para o Natal dos Amigos, dizendo que eles fizeram? Era mentira! O merengue foi comprado na Cravo e Canela, e a embalagem, descartada no caminho!

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Eu e Nel vamos fazer um dicionário sobre o uso correto das palavras. Por exemplo:
1) Quando dizer "bravo" e quando dizer "brabo"?
R: "Bravo deve ser usado para pessoas e animais, enquanto "brabo" deve ser usado para fenômenos da natureza.
- A professora está brava.
- Esse cachoro é bravo.
- Hoje o mar está brabo.
2) Quando pronunciar "pEpino" e quando pronunciar "pIpino"?
R: "PIpino" deve ser usado para o alimento, enquanto "pEpino" deve ser usado para nomes próprios.
- Vou comer pIpino.
- Eu estudei sobre PEpino, o Breve.
- Vamos à Praia do PEpino?

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Leilane e Luana no MSN:
LE - Vou estudar o regime de autarquia.
LU - Emagrece muito?

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Fernando e Júlia no Rio:
F - Vai começar o Campeonato Carioca. Será que amanhã vai ter jogo no Maracanã?
J - Pra que serve ter Campeonato Carioca, se não tiver jogo no Maracanã?

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No Buteko do João:
Rodrigo - Apareceu um rato lá em casa, eu dei uma vassourada, mas ele não morreu. Quando tentei dar uma paulada na cabeça, ele fugiu.
Erika - Mas acho que ele acabou morrendo, porque se jogou da sacada.
Lian - Ah, "eu acho que ele morreu, pois caiu do décimo andar..."
Maria Cristina - Se ele não tiver aberto o pára-quedas, então ele morreu.

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Júlia - Lian, você tem vontade de participar do Big Brother?

Lian - Claro que não!

Júlia - Ainda bem, porque você seria o tipo que as pessoas não iam gostar.

Mais um Natal dos Amigos


Muitos curiosos querem saber por que comemoramos o Natal em fevereiro, afinal. Ora, Natal em dezembro é data que se passa com a família, cada qual em sua cidade ou casa. Natal dos Amigos é o dia que inventamos para aproveitarmos a outra parte da família, aquela que não é unida pelo sangue, mas pelo coração. Mas por que em fevereiro, meu deus do céu? Simples: porque estou em Goiânia. No ano passado, foi em janeiro. Quer melhor data para comemorar o Natal dos Amigos senão quando os amigos podem se reunir?


O primeiro convidado a chegar foi o Apolo. Acompanhado, é claro da Georgia e do Leo. Atraindo para si a atenção de todos, esse neném bochechudo protagonizou cenas impagáveis, ao ver a mamadeira e ao fazer sua carinha de flash. E à medida que os convidados foram chegando, o terceiro andar do Edifício Araras foi se enchendo de vozes, risadas, alegria. Presenças e ausências. Pessoas que participaram pela primeira vez do nosso Natal, como a Amanda, a Lorena, a Ana, o Apolo fora da barriga. Pessoas que não puderam estar presentes, mas são eternamente benvindas, como a Taís, o Nel, a Elisa, o Altair.


Como sempre, tivemos gincana, com mímica, batalha musical, jogo de quem tem o quê e quiz sobre a Revista Bolhas. Para quem não sabe, nosso Natal marca também a ressurreição da Revista Bolhas, de coma já há algum tempo. A partir do meio desta semana, teremos novos textos e novo layout. Se a CPU da Érika reaparecer, é claro. Mas, voltando à gincana... o destaque foi a Júlia brincando com ferocidade e revoltada por não vencer. Os vencedores foram: Em terceiro lugar... Lorena! (aplausos) Em segundo lugar... Georgia! (aplausos) Em primeiríssimo lugar... Leandro! (aplausos com "uou uou").



Desta vez tivemos a participação de minha mãe. E, como mãe é mãe, além de fazer questão de comprar salgadinhos e trufas, ainda ficou insistindo para que jantássemos cedo, por medo de passarmos fome. Não adiantava argumentar que devíamos cear só à meia noite, pois era Natal. Apesar das insistência para comermos antes e brincarmos depois, seguimos nossa tradição, de revelar o amigo secreto antes. É claro que nesse momento já houve invasões na ceia, inclusive com a Júlia fissurada no sashimi.

Depois da ceia, cantamos parabéns para a Maria Cristina com merengue de morango e mais outros deliciosos doces. Eu sei, o aniversário da Maria Cristina é dia 24 de dezembro. Ou seja, Natal. Daí que a melhor data para se comemorar com os amigos é mesmo no Natal dos Amigos, mesmo que seja dois meses depois. Assim, ela ganha dois meses a mais de juventude.

E encerramos a noite com bate-papo de jornalistas, cada um falando sobre coisas chatas e os horários de trabalho mais loucos. E eu, como sempre, feliz da vida por não ser jornalista...

Depois as pessoas foram embora, as vozes foram desaparecendo, mas ficou aquele climinha de felicidade e bem-querer. Quando entrei no quarto, achei um presentinho. Na bagunça feita pelos meus gatos, foi derrubado no chão um caderninho, que eu havia perdido e há muito procurava. Dia desses eu havia comentado com o Nel sobre a perda dele, esse caderninho que tenho há dez anos, com recadinhos que meus amigos e colegas escreveram para mim. Pessoas que foram grandes amigas e que hoje quase não tenho contato. Pessoas que eu estava começando a conhecer e hoje são amigas de vida. Fui dormir com essa sensação gostosa de um feliz Natal.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Viva a sociedade alternativa!


Na época da faculdade, em que as menininhas de saia andavam juntas e realmente usavam saias, éramos frequentemente confundidas com hippies, só porque arrastávamos longos saiões indianos e usávamos colares de sementes e brincos de pena. Apesar de achar o estilo o mais lindo de todos, com o tempo fui fazendo questão de não me caracterizar assim, pois eu não queria ser tachada como alguém que eu não era. Eu era apenas uma moça certinha e conservadora, que tomava banho todos os dias e nunca experimentei maconha. Mas, ah, eu confesso...

Confesso que um dos meus desejos que mais me domina é uma tendência hippie que vem de longa data. É a ânsia por uma comunhão. É um desejo ancestral de estar em volta de uma fogueira, cantando e contando histórias, sentindo que todas as pessoas presentes são queridas, te pertencem e que você pertence a elas de alguma forma. Para mim, comunhão com as pessoas é a forma mais simples de se estar em comunhão com o mundo, ou com o que seria um deus.

Ontem, enquanto voltava pra casa, li uma matéria na revista "Vida simples" sobre habitações urbanas comunitárias, em que cada família tem sua casa, mas compartilha espaço e experiências com a comunidade. Então juntou tudo que venho passando, o fato de estar sozinha, de a Júlia e o Fernando terem ido embora, a minha eterna sensação de eu ter sido largada solta no mundo... e aflorou em mim esse desejo ancestral, que veio à tona em uma idéia fixa: "Eu quero viver em uma comunidade alternativa."

Cheguei em casa e tive uma daquelas longas conversas com a Luana, com desabafos, lágrimas, risadas, horóscopo, sonhos, planos... E planejamos nossa comunidade alternativa, criamos regras. Será uma comunidade hippie de família. Ou seja, cada um com seu parceiro. Nada de "todo mundo é de todo mundo" ou "ninguém é de ninguém". Todos serão uma só grande família, mas formada por núcleos monogâmicos. Eu não abriria mão de ter alguém que sempre estivesse lá para mim. A segunda regra é banho obrigatório todos os dias. Também depilação, desodorante e demais convenções de higiene. A terceira regra é: carnes não só são permitidas, como teremos churrasco quase todas as semanas. Também seremos ecologicamente corretos só na medida da não chatice. Reciclaremos, cultivaremos hortas, tudo o que nos permita uma convivência rica e gostosa, mas essa história de usar absorventes laváveis e não descartáveis, ou de parir de cócoras... sinto muito, não vai rolar. Manda uma anestesia geral e uma cesariana, que são muito bem-vindas...

Amigos que queiram se candidatar a viver nessa comunidade, que sejam pessoas de bom coração e que prefiram conversar, brincar e fazer saraus a assistir televisão... Amigos que queiram estar perto de amigos e que queiram uma relação de família, de querer bem, de cuidar uns dos outros... Aceitamos inscrições.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Três e alguma coisa

NEL - Quando são três horas e dez minutos, você diz o quê? Que são três e pouco?

LIAN - Isso. E se for três e quarenta e sete, eu digo que são três e tanto.

Até aí, todos nós (eu, Nel e Fernando) concordamos. Mas eis que surge a questão...

NEL - Mas e se for três e trinta e dois, são três e pouco ou três e tanto?

LIAN - Não, são três e alguma coisa.

NEL - Mas três e alguma coisa não vale, não existe.

LIAN - Claro que existe!

NEL - Sim, existe, mas se diz quando você não sabe as horas com precisão.

LIAN - E pra você, Fernando?

FERNANDO - Pra mim são três e meia.

LIAN - Mas três e meia não vale...

E a conversa seguiu...

sábado, 24 de janeiro de 2009

Eu nunca vi mulher de culote, Maria Chiquinha...

Nesses dias uma questão filosófica profunda entrou em pauta nas nossas conversas: Afinal, o que é culote? Existem duas vertentes: o culote parte do corpo e o culote vestimenta. O segundo é um conceito consensual, uma calça curta, fofinha e que fica justa na altura do joelho. Já quanto ao culote corpóreo, há quem diga que é o pneuzinho e há quem diga que são as ancas. O respeitado pensador Nel defende que, quando uma pessoa acumula gordura nas ancas, elas ficam pontudas. Isso seria o culote. Em minhas investigações, após exaustivas análises de imagens do Google, concluí que a palavra ora é usada para pneu, ora para anca, havendo inclusive ancas pontiagudas. E como a sabedoria wittgensteriana afirma que a verdade está nos jogos de linguagem, concluímos que o termo culote é correto se empregado para qualquer parte do corpo entre a cintura e o joelho. Mas o culote a que a música se refere é a vestimenta.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Este ano que se inicia...


Meu 2009 começou cheio de pessoas queridas. Depois de passar o Natal em São Paulo, trouxemos a Tia Stella e a minha priminha Priscilla para passarem o Reveillon com a gente. Depois veio minha mãe. Da minha tia, aproveitei as comidas deliciosas que só ela cozinha, da minha priminha, as brincadeiras e as tiradas e, da minha mãe, as conversas de boteco. Depois cada um foi indo embora. Hoje de madrugada levei minha mãe ao aeroporto. E agora a casa está vazia. Ou melhor, eu e os gatos.
A Tia Stella vive dizendo que somos a Família Adams. Pois é, cada família tem suas esquisitices. Estava lendo "Longa jornada noite adentro", peça autobiográfica de Eugene O'neill, sobre as esquisitices de sua própria família. A minha tem várias. Que me fazem morrer de rir e chorar de saudades. Pérolas e pérolas.
Em breve vêm mais membros de minha família, aquela família que eu escolhi: meus amigos Nel, Júlia e Fernando. Também são parte da família Adams e, com eles, tenho outras tantas histórias. Outras pérolas e situações inusitadas.
Enfim, 2009 começou do jeito que me é mais importante: com as pessoas que amo. Que assim seja durante todo o ano!