terça-feira, 29 de junho de 2010

Desapego


Hoje, ao descer as escadas da CAL para ir embora, eis que meu chinelo arrebenta. Da última vez em que isso me aconteceu, um rapaz tirou de dentro da mochila um par de havaianas tamanho 43 e eu cheguei na casa do André com duas pranchas de surf. Como hoje não apareceu ninguém com um par de calçados extra, aproveitei o dia para praticar o desapego e, ao mesmo tempo, fazer exercício de Gurdjieff. Peguei o ônibus do metrô, depois o próprio, e fui pra casa como se nada estivesse acontecendo.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Eu hoje...

Eu hoje instituiria a lei de que todos meus amigos deveriam ter um blog e atualizá-lo pelo menos de dois em dois dias. Então, nesses dias em que minha vontade é ficar quietinha e querendo bem, eu visitá-los-ia, de janelinha em janelinha, para ver como eles estão, o que fazem, o que sentem.

Mas chegará o dia em que todos eles estarão perto e em que o tempo vai abrir uma brecha, o tempo de dentro do tempo. Então o computador permanecerá desligado e eu irei visitá-los, um por um. E me serão oferecidos casadinhos, bolos e chás. E conversaremos horas a fio sobre todas as desimportâncias que nos são caras. E minha casa, também, estará aberta, com um sofá macio, guloseimas e brincadeiras. E todo dia será um Natal dos Amigos.

Fuga...


Ando em uns dias em que eu finjo que não é comigo. Nada demais, apenas necessidade de férias. Mas esse tal de viver, fazer as coisas, ser responsável, me importar, etc. e etc. cansa. Então eu finjo que não sou eu, que minha vida não é comigo. Eu sigo distraída pra esperar passar. Mais três semanas de aula, uma peça, trabalhos, e eu decidida a me fazer de desentendida. Eu preciso deixar de lado minha rotina de responsabilidades. Deixar de lado as expectativas, algumas pessoas que amo (o amor, essa prisão), algumas coisas que gostaria de fazer, mas em outro momento, com outra disposição.
Hoje eu quero virar hippie, fazer bonecos de papel, tomar sol na piscina. Hoje eu quero cachoeira, adolescências, chocolate. Uma passagem pra Grécia, um dia inteiro debaixo do edredom. Quero luau na praia. Master e Imagem e Ação com os amigos. Clube da Luluzinha, Fran's Café. Quero festa junina com bandeirinhas coloridas e canjica e crepelito. Quero passar o dia vestindo roupa de menino. Quero sair à noite de pijamas.
Hoje eu quero férias de mim pra poder ser eu.

domingo, 20 de junho de 2010

Jacarepaguá liberta

É, sim, longe pra caramba. Mas, como eu vim da Barra e de carro, não precisei vir amarrada. Jacarepaguá é Goiânia na minha infância. É casa de campo, de praia, da montanha. Aqui a gente faz saladinha com verduras buscadas no mercadinho em frente, onde há detergentes caseiros embalados em garrafas de guaraná. Há detergente lilás, amarelo, azul. A gente passa a madrugada recortando papel. A gente entra de sunga e camiseta alaranjada na piscina. Enquanto é inverno no Rio de Janeiro, aqui é verão ensolarado. A gente atravessa a rua descalça. Passa o dia com roupa de menino e com a cueca do amiguinho. Faz torcida em jogo do Brasil com apenas três pessoas. Que se bastam. A gente faz bolinha com nossas apostas para o jogo. Toma suquinho de maracujá. Às vezes, pra fugir do mundo, só é preciso ir a Jacarepaguá.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Brincadeira de Barbie



Continuando na vibe "histórias da infância"...


Quando pequena eu e minha irmã brincávamos muito de Barbie. Tínhamos várias delas e de Kens, mas o elenco sempre era complementado por pônei, ursinho cor-de-rosa, um Chaves, uma cenoura de pano e outros bichinhos bizarros, que faziam a vez de meninas e meninos. Além disso, minha irmã tinha uma coleção de cachorrinhos de plástico, cada qual de uma raça. E após escolher o contexto da brincadeira e os núcleos (quais bonecos compunham a família, quais eram os amigos,...), ela sempre escolhia o cachorrinho de estimação da família.
Pois bem. Eu queria fazer a Barbie ir à escola, ao shopping, trocar de roupa, ser popular. Mas nunca consegui ter uma brincadeira normal. Minha irmã conduzia o enredo de um modo trágico. A mãe tinha câncer. As pessoas começavam a desaparecer misteriosamente, perseguidas por um psicopata. Eu ficava tensa. Chorava. O cachorrinho era pano pra muita manga. Podia morrer atropelado. Podia padecer de doença misteriosa. Havia infinitas possibilidades de sofrimento e morte:
- Esse é o cachorro da família.
- Ah, eu não quero que eles tenham cachorro.
- Por favor!
- Se tiver cachorro eu não brinco.
- Eu juro que ele não vai morrer!
- Mas você sempre diz isso e ele morre mesmo assim.
- Desta vez eu juro, ele não vai morrer!
- Nem ficar doente, ser mutilado, torturado?
- Nada disso, juro!
- Está bem.
E o cachorrinho morria.

domingo, 13 de junho de 2010

As festas que meu pai me preparava

Quando eu era criança, minha mãe preparava minhas festinhas de aniversário. Encomendava bolo, docinhos, fazia brigadeiro com a empregada. Tudo daquele jeito bem-feitinho, como é próprio de mães. Até que ela foi morar no Rio, para fazer doutorado, deixando-nos em Goiânia. Então meu pai passou a ser o responsável pelas minhas festas. Quando me lembro delas, desses anos e dos aniversários passados com meu pai, acho graça e me emociono. Porque os grandes gestos de amor dele vinham revestidos de uma falta de jeito que me comove. Ele comprava um bolo retangular que vinha pronto, no Carrefour. Os brigadeiros, ele também comprava desses prontos, de supermercado, brigadeiros gigantes, que ele tratava de dividir em bolinhas menores. Mas comprava os melhores balões, de bichinhos diferentes que sempre eram disputados ao final da festa.

Eu não esqueço um desses aniversários, em que, quando os convidados foram embora, entramos eu e minha irmã no quarto e encontramos dois jogos embaixo da estante. Um tinha a caixa azul e chamava-se "Pássaro na mão", o outro, da caixa vermelha, era um de monstros. Ficamos intrigadas, pois não sabíamos quem tinha levado aqueles presentes. Cogitamos alguns nomes, alguns amigos. Até que resolvemos perguntar ao meu pai, que confirmou que os presentes foram deixados por ele. Pode parecer trivial, mas, para quem conhece a dificuldade que meu pai tem para comprar presentes e, mais ainda, fazer surpresas, aquele foi um gesto de indescritível doçura. Um desses momentos que ficam permanentemente inscritos na memória, como um dos meus tesouros.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Copa do Mundo



Confesso: Na última Copa do Mundo eu torci para a República Tcheca. É verdade, fiquei encantada por um jogador tcheco, Rosický, que, ainda por cima, fez dois ou três gols contra os Estados Unidos. Sem contar com o fascínio que eu tenho pelo país, desde que conheço a literatura de Milan Kundera.
Mas, antes que me crucifiquem, deixem que eu me explique: a primeira vez que acompanhei uma Copa do Mundo com emoção foi em 1994. Ouvia falar em tetra, tetra, e perguntei ao meu pai do que se tratava. E ele me explicou que o Brasil fora campeão mundial três vezes e que nenhum país era tetracampeão. Se o Brasil ganhasse, seria o primeiro. Nesse ano nosso país ganhou o campeonato, nos pênaltis, em uma disputada partida contra a Itália.
Desde então aprendi a acompanhar os jogos da Copa, mas sempre desejando disputas acirradas e fortes emoções. Adquiri a mania de torcer por empates, só para o jogo ser decidido no pênalti. E não me interesso em assistir aos primeiros jogos do campeonato, pois só vejo graça quando a partida decide a saída ou permanência do time.
Vibrei no tetra. Vibrei no penta. Depois já achei que era demais.
Se não deixarmos outros países nos alcançarem, que graça vai ter?

Meu Museu de Imagens do Inconsciente - I


Sonho da madrugada de 04/06: Coelho levita, levando tartaruga e mariposa consigo.

sábado, 5 de junho de 2010

Eu tô tão feliz!


Estou com um novo blog no ar, junto com meus amigos André Locatelli, Luís Renato Oliveira e Marina Mota. É o espaço onde registraremos nossas conversas e debates do dia-a-dia. Pra quem quiser conferir: http://www.eutotaofeliz.blogspot.com/ .

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Frankenstein


Este é um texto escrito conjuntamente, por mim, Luís Renato Oliveira e Marina Mota. É resultado daquela brincadeira em que uma pessoa escreve um trecho, a outra lê apenas a última frase, dá continuidade e assim por diante. Não tem pé nem cabeça, mas nós temos feijões mágicos!
***
Ele andava pelas ruas procurando algo interessante, não importava a natureza desse "algo". Catava pedaços de comida pelo chão e colocava na boca. Sabores diferentes, inusitados. Era definitivamente diferente de comer o que lhe era oferecido sobre a mesa. Às vezes se cortava com objetos que apalpava. Queria sentir as texturas. Texturas que faziam parte da minha vida e eu nem sabia que existiam.
Assim como ele. Estava sempre presente, mas eu não sabia. Mentira! Sabia sim, só não queria enxergar, porque para isso eu precisaria me descobrir, entender, e eu não estava preparado para isso. Então resolvi ir embora e procurar um ofício verdadeiro. Alguma coisa em mim dizia que minha vocação era ser sapateiro, pois eu tinha loucura por sapatos. Andava pela rua olhando para o chão, me fascinavam os sapatos em movimento, com suas cores e seus brilhos.
E neste quadro multicores ela se via, como num espelho em que toda sua história era contada. Sua infância e seus sonhos, as fadas brilhantes e os contos que seu pai contava. Assim, se lembrou de um dia em que seu cachorro saiu correndo pela chuva e se machucou numa lata de lixo. Confusão! Todos saíram correndo, menos o pobre tamanduá, que ficou ali parado, todo molhado e com muita dor na cabeça.
Depois de horas, uma jovem chinesa com uma máscara para queimaduras apareceu e levou o coitadinho pra casa. Sua cara estava avermelhada, mas ele não tinha vergonha, pois aprendera a assumir sua essência. Os dois andaram lado a lado, com um sorriso no rosto e de mãos eternamente coladas.