quinta-feira, 28 de maio de 2009

Nada demais


Hoje me forço a escrever no blog, pois sei que passei uns dias em falta com ele. Mas, honestamente, não tenho nada a declarar. Não, não é que não tenha me acontecido nada. É apenas que ultimamente tenho mais absorvido que devolvido ao mundo. Imersa em minhas viagens particulares de coisas sem importância. Tive um cachorrinho por uma semana. Ontem ele foi embora, após passar como um furacão pela casa. Comeu até a parede. Literalmente. Nos últimos dias fui invadida em meu autismo temporário por dúvidas. Questões a ser resolvidas, decisões a ser tomadas. Eu forçosamente devolvida ao mundo. Parida. Eu, que tenho preferido não falar as coisas que penso. Ou simplesmente não pensar.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Coisas da vida


Ventos bons cruzaram meus dias. Aniversário, amigos, poesia, música, teatro. Coisas que fazem a vida valer. Alegrias vindas de avião, dos abraços, dos telefonemas, do correio. Receber a visita do Gabriel, amigo goiano que mora em Brasília. Chegar em casa e encontrar um pacote enorme, que rasguei curiosa, e encontrar um presente da Júlia. Amiga que me faz ver que os aniversários não levam embora a infância. Amiga criança, companheira de brincadeiras, de jogos de linguagem, de estorinhas e coisinhas. Ganhei um super livro de origami cheio de papéis diferentes. Pelo correio também me chegou um envelope vermelho, do amigo mineiro João. Também amigo na linguagem e na sensibilidade, que manda notícias e fragmentos de seu mundo, tão diferente do meu. Sempre um cd com músicas, videos, adesivos, fotografias e exemplares de sua arte. Gosto disso, ter contato com o mundo do outro. Seja no corpo, na palavra ou na arte. No sábado fizemos sarauzinho no Forte de Copacabana, sob a lua cheia. Tocamos nossas músicas, lemos nossos poemas. E saímos nos conhecendo um pouco mais, cada um de nós. Finalmente, no domingo completei meus 27 anos. Distraio-me do susto com a idade ao reunir meus amigos em torno de uma boa comida e conversa. E vejo que diante das amizades, da alegria e da poesia, meus próximos 80 anos são muito pouco tempo. A vida é demasiado curta para sua imensidão.

sábado, 9 de maio de 2009

10 de maio


Vinte e sete anos atrás. Dia das mães. O presente: meu nascimento. Talvez um presente de grego, eu sei. Anos antes minha irmã nascera como uma boneca. Eu, quando nasci, minha mãe levou um susto, ela conta. Chorando com uma boca que ocupava o rosto inteiro. No dia das mães, a minha ganhou uma filha de presente. Nada mais próprio. Eu ganhei uma vida e uma mãe.
Todas as pessoas falam que sua mãe é perfeita, a melhor. A minha é imperfeita, imperfeita, imperfeita. Mas a melhor de todas.
Imperfeita porque apenas após o crescimento de duas filhas, um dia descobriu que bebês são bonitinhos: "Agora que tenho gatos, percebi a graça dos bebês. Eles são como gatinhos!" Imperfeita porque só sabia contar uma estória, que ouvíamos sempre com a alegria da primeira vez. Imperfeita porque viveu longe por quatro anos e nos fez encontrar sozinhas a porção que tínhamos de infância, de maturidade e de loucura. Imperfeita porque fala mais do que deve e é campeã de ratas e micos. Imperfeita porque seu extenso repertório culinário se resume à comida da empregada requentada no microondas. Imperfeita porque, quando fui morar sozinha, me deu a seguinte lição: "Vou te ensinar a lavar roupa...nunca use roupas brancas, só use roupas coloridas, em que a sujeira fique imperceptível". Imperfeita porque quase me nomeou por "Chenny".
Mas a melhor de todas porque, em seu jeito comicamente distraído ante o mundo, ensina uma profunda lição: existem poucas coisas que realmente têm valor e às quais vale a pena dar atenção. A melhor de todas pois sempre prezou nossa felicidade em detrimento de qualquer dinheiro ou posição social. A melhor de todas ao me ensinar com seu exemplo que pequenas vantagens não trazem vantagens reais, e que muitas vezes é preferível ser passada para trás a voltar a mente para mesquinharias. E nisso ela me deu a real dimensão de sua generosidade. A melhor de todas porque o mingau que fazia na nossa infância era motivo de festa entre as crianças da vizinhança, que se sentavam à mesa para celebrar sua alegria. A melhor de todas porque levava de ônibus todas as crianças do prédio para o clube, com a paciência de outra criança.
A melhor de todas porque, com sua humanidade e sua imperfeição, salvou-me de uma vida encontrável e definível. E deu meus contornos de uma pessoa inalcançável: impossível.

sábado, 2 de maio de 2009

Coleção

Começou quase sem querer. Eu pegava foto de um, foto de outra... quando vi, estava colecionando fotos 3X4. Já tentara colecionar outras coisas, mas acabava invariavelmente deixando de lado. Hoje contei 128. São poucas, para uma coleção que, mesmo despretensiosamente, começou há uns dez anos. De vez em quando tiro todas da gaveta e fico revendo-as. Têm sua vida, sua época, sua história. De algumas pessoas, tenho várias fotos. Comparo-as, por vezes impressionada com as mudanças que o tempo imprime nos rostos de cada um. Pessoas que há muito saíram da minha vida. Pessoas que permanecem. Pessoas que saíram, mas sempre permanecerão. Cachorros, gato. Sim, também deles tenho fotos 3X4.

Hoje resolvi fazer um álbum para minha coleção. Fiquei recortando papéis coloridos e ressuscitei os adesivos de dupla face especiais para fotografia que havia comprado tempos atrás. Separei as fotos por tipos de relações e épocas. Família, amigos de colégio, de faculdade, do Rio de Janeiro... Tarefa que deu dor nas costas e prazer na alma. Depois fiquei o dia inteiro apreciando meu álbum. Vendo e revendo, folheando.

Ah, aceito mais doações para minha coleção!!!