quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um acidente lamentável


Foi no sábado de Carnaval que o inefável aconteceu. Brincávamos felizes em um bloco e não me ocorreu que ele fosse por demais frágil, ou que ele estivesse tão desprotegido. Repetíamos o bordão "PQP! É a gordinha mais gostosa do Brasil!", enquanto ela, a gordinha, apontava a mangueira para a multidão, molhando-nos e refrescando a tarde de verão carioca.


Apenas mais tarde, quando já havíamos saído do meio da multidão e fomos lanchar em um shopping próximo, que percebi que ele estava estranho. Ele não se comunicava mais comigo. Tentei secá-lo delicadamente, mas ele não dava sinal de vida. Morreu afogado - pensei. A volta para casa foi solene, fiquei tentando imaginar como seguiria sem ele.


Assim que cheguei em casa, deitei-o na varanda. Tinha esperança de que um pouco de sol talvez o salvasse, embora fosse noite, vá entender. Não é que na manhã seguinte ele deu um sinal de vida? Eu já ouvira falar de casos assim, aqueles que acordam do coma, depois de um afogamento. Pensei que, a partir daí, ele teria recuperação normal e eu voltaria a levá-lo em meus passeios. Ledo engano.


Hoje ele está vivo, ao menos. Mas é uma sobrevida dessas que nos faz questionar se vale a pena. Preso a cabos, constantemente internado. E nem assim ele funciona em sua plenitude. Fiz o teste hoje: se alguém liga, ele toca, toca, até desligar sozinho. E não registra quem ligou. Se efetuo uma ligação com ele, mesmo na tomada ele funciona por um instante e em seguida apaga. Talvez um transplante de bateria resolva. Talvez não.


Moral da história: Por enquanto estou meio indisponível pelo número da Tim, mas há outras maneiras de se comunicar comigo: 1) Pelo velho e bom telefone fixo (o de Goiânia, no caso, durante o mês de fevereiro); 2) Pelo já conhecido número da Claro, que é o que a maioria das pessoas já conhece; 3) Mandando um torpedo para meu Tim (para os que querem aproveitar as vantagens do Infinity Pré), eu troco os chips de aparelho e retorno por 25 centavos para falar o tempo que quiser!


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Era uma vez...


O fim do mundo fora enfim anunciado. Seria em agosto, com data e hora marcados. Segundo alguns intérpretes, assim rezava a profecia de Nostradamus. Deu nos jornais e na tv: o mundo findar-se-ia e todo mundo pagava pra ver.


Para mim, o mundo só começava. Eu era menina e vivia meu primeiro amor, o grande amor, o primeiro. Naquela época, vivia-se feliz para sempre.


Tontos de alegria pelo amor incipiente, fizemos nosso pacto inocente. Se o mundo deveria ter um fim, que findasse bem, que findasse sim. Mas que eu me fundisse naquele ser. E que ele se fundisse em mim.


Combinamos estratégias e um ponto de encontro, para onde correríamos a qualquer indício de fim de mundo. E ali, naquela praça, morreríamos juntos, abraçados. Morrer em estado de graça.


O dia esperado chegou. E o mundo não se acabou.


E vieram os anos, os enganos, a rotina, as ciladas. Até que não veio mais nada. E cada um foi para um lado.


Mas às vezes eu queria que o mundo tivesse acabado...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Carta à amiga

Júlia,

Eu hoje te daria um abraço de aniversário e de saudades, não fosse a distância que se interpõe por mais dois dias, quando então poderemos rir juntas e ter daquelas longas conversas sem pausas de duas amigas tagarelas que tanto têm a dizer.


Mas o que eu queria mesmo te falar é que é tão bom que você exista na minha vida, porque sua presença ou ausência (também tão presente) faz com que eu me sinta menos só no mundo. Não falo a respeito de companhia, mas de comunhão. Com você eu tenho a certeza de que existe alguém que compartilha comigo esse modo de ser e de ver a vida que às vezes faz com que eu me sinta um bicho do mato. Gosto da sua velocidade máxima de vinte páginas por hora, gosto que tenha alguém com quem o tempo possa parar. E gosto de você, sobretudo, porque você não veio ao mundo para conquistar territórios, mas para olhar a paisagem e sentir os sabores. Isso é o que nos faz irmãs de alma.

Muita vontade de estar ao seu lado. Ando cansada dessa gente toda que tem sede de sucesso. Cansada dessa gente que está sempre à procura de algo inalcançável. Cansada da pressa do mundo. Cansada.

Bom é ter a sua companhia para pintar quadros, fazer curso de crochê em barbante, criar teorias, viajar, tomar banho de cachoeira. Bom é fingirmos que somos bichinhos na piscina e brincarmos de fazer sons estranhos debaixo d'água. Bom é sonharmos com o mundo em que queremos viver, planejarmos tratados e revoluções. Bom é passar horas fazendo estrelinhas de origami com você. Que bom que sou sua amiga!

Vamos realizar nossos planos? Vamos juntas para a China, Machu Picchu e Grécia? Vamos mudar o mundo e instituir o ócio criativo? Vamos trabalhar um dia fazendo crepe em Paris, no outro pintando quadro na República Tcheca e no outro dando aulas para crianças? Vamos abrir lojinha de artesanato em Pirenópolis? Vamos criar um novo calendário, com novos deuses e feriados? Vamos criar um jornal fictício?

Meu desejo para seu aniversário é que todos seus sonhos se realizem, pois sei que, se o mundo for à imagem e semelhança de seus sonhos, então ele será belo e justo, e é nesse mundo que eu quero viver.

Lian




sábado, 13 de fevereiro de 2010

Vamos fugir...

Um lugar onde o ar é mais fresco e a água mais azul. Onde se mergulhe de olhos abertos e se veja peixinhos coloridos e tartarugas marinhas. Um lugar onde se coma peixes e ostras frescas. Um lugar com ruas de pedra e pessoas que desaceleraram o mundo para fazer da vida uma coisa bonita. Eu poderia viver essa vida.


Voltei ao Rio de mal com a cidade, chateada com o ar abafado, com o barulho do trânsito, com o taxista mal humorado. E estou desde então tentando fazer as pazes com este lugar, minha paixão dos últimos anos, agora acinzentada aos meus olhos. Fui dar uma volta de bicicleta na lagoa e, assim, em movimento, a cidade é mais agradável. É o primeiro Carnaval que passo no Rio e estou tentando aproveitar. Ontem fui ao meu primeiro bloco, está certo que cheguei quando ele já tinha terminado, mas ainda assim constatei que realmente não sou pessoa de multidões. Só pra constar, até entortei o
dedo de um garoto que encostou em mim. E me diverti muito mais andando do Leblon a Copacabana, em busca de outro bloco, jogando conversa fora com os amigos.


De qualquer jeito, hoje saio fantasiada, tentando descobrir o prazer desse outro lado, que me é estranho.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"É bom olhar pra trás..."

"... e admirar a vida que soubemos fazer..."



O meu amigo Eduardo Sartorato propôs o seguinte joguinho: relembrar o que você fazia em um passado próximo e em um passado nem tão próximo assim. Peguei as agendas antigas que estavam guardadas no armário e resolvi entrar no jogo. Descobri que o blog, mais que as agendas, ajudam a recordar o que se passava em minha vida a cada época. Infelizmente é um registro recente. Enfim, vamos ao jogo:

1 semana atrás (janeiro de 2010): Ipanema, almoço no Delírio Tropical, praia com livro da série "Encontros", sobre a Nise da Silveira e, em seguida, chegada da Carol. Mar brabo, chuveirada, volta no metrô concentrada no livro. Chuva à noite, eu deslumbrada com Nise da Silveira, sobre a qual continuei devorando os livros que tenho durante o resto da semana.

1 mês atrás (dezembro de 2009): Montagem de final de semestre, com a peça "Anjo Negro", de Nelson Rodrigues, que apresentamos durante quatro dias. Ao fim de tudo, descanso do desgaste físico e emocional. Férias merecidas ao lado dos amigos. Árvore de Natal com doces na parede, Natal com família carioca, pintura em portas dos outros, Terra Encantada, praia, comidinha de mães substitutas e Ano Novo em São Carlos, com reunião familiar.

6 meses atrás (julho de 2009): Passei uma semana de férias em Goiânia, o apartamento já quase desmontado por causa da mudança para a casa nova. Clube da Luluzinha, comidinhas, pamonha. Sempre estranho voltar para a cidade onde passei grande parte da minha vida.

1 ano atrás (janeiro de 2009): Visita dos meus amigos Nel, Júlia e Fernando. Nel veio, por minha sugestão, fazer o mergulho teatral na CAL e resolveu ficar. Primeiro amigo que consegui trazer para o Rio, depois de anos tentando convencer meus amigos a morarem aqui. Mudança definitiva para o apartamento das meninas, casa com caixas espalhadas pela sala. Período confuso, mas que deu início às melhores coisas que conquistei nesta cidade: laços e liberdade.

2 anos e meio atrás (julho de 2007): Comecei o mês na China, onde fui participar das filmagens de "Destino". Viagem incrível, com paisagens deslumbrantes, comidas maravilhosas e esse sentido especial que o país tem em minha vida, de remontar minhas origens. Volta ao Brasil e em seguida ida a Goiânia, animada para mostrar as fotos, contar os fatos, distribuir os presentes. Nesta época ainda estava no mestrado em Comunicação, na UERJ, que defendi em maio do ano seguinte.

5 anos atrás (janeiro de 2005): Ainda morava em Goiânia, cursava meu último ano de faculdade e dava aulas de Inglês na Hoffmann House. Planejava o mestrado e, a essa altura, a vida universitária já começava a me cansar, apesar de ter sido o período mais feliz da minha vida. Tinha ao meu lado pessoas super especiais, incluindo aquelas amigas que continuam próximas como se morassem na casa ao lado. A faculdade de jornalismo foi divertidíssima, com coxinhas e sucos de cupuaçu na FAV, brigas com a Mulherzinha, grupinho de estudos de filosofia, saraus, Bar Rio.

10 anos atrás (janeiro de 2000): Nessa época eu voltava do meu intercâmbio estudantil em West Virginia, nos Estados Unidos. Reencontro e readaptação. Volta ao Colégio Dinâmico, desta vez com outra turma. Ano de vestibular.

Enfim, adorei a proposta do Eduardo. Se alguém mais se dispuser a entrar no jogo, posso dizer que é muito interessante... Esses dez anos estão guardados na minha memória como um passado tão recente, olhando assim para trás de repente a gente se dá conta do quão rápida é a vida. E olhando assim eu tenho essa certeza, essa plena certeza do quanto sou feliz e de como a vida vale a pena.