quarta-feira, 26 de maio de 2010

Coisinhas


Quando minha irmã veio ao Rio, no ano passado, estávamos fazendo coisinhas (no sentido Lian, não no sentido LR), quando ela me pediu uma borracha. Respondi que não tenho nenhuma. Tenho canetinhas, lápis de cor, papéis coloridos, tesoura ziguezague, carimbos, etc. e etc., mas não tenho borracha. Afinal, escrevo a caneta, pois não tenho paciência para a lerdeza exigida pelo atrito do grafite. E, quando erro, não apago, rabisco. Ainda assim ela achou um absurdo: "Como uma pessoa pode não ter borracha em casa?!!" Então pensei melhor e me lembrei de uma borrachinha colorida que ganhara tempos antes. Busquei-a feliz da vida, entregando-a para minha irmã, que respondeu: "Isso não é borracha, é balinha". E iniciou-se uma discussão sobre a natureza daquele objeto colorido dentro do plástico. Ela me desafiou: "Prova!" Tirei a suposta borracha do plástico e lambi. Era balinha.

domingo, 23 de maio de 2010

Minuto de silêncio


Eu também gostaria de ter conhecido esse homem que partiu. Partiu algo em mim, também. E, diante da impotência das palavras, menino, recordo seu rosto. De onde vem essa força que te antecede? De onde vem o brilho dos olhos, o negro da pele? E vejo que amo esse homem em você, meu menino. Esse homem que não conheço. Reconheço. E que não partiu. Repartiu.

sábado, 22 de maio de 2010

Auto-mimada

Um dia desses minha professora fez uma crítica a essas pessoas que não necessariamente foram mimadas pelo pai ou pela mãe, mas que se auto-mimam. São essas que têm que se satisfazer o tempo todo. Ela exemplificou dizendo que nós temos necessidade de comer toda aula (isso numa aula que dura cinco horas e não tem intervalo). Nesse momento, eu me identifiquei inevitavelmente.

Eu me presenteio, eu me satisfaço, eu me compreendo, eu me perdoo. Eu não deixo meu estômago vazio por muito tempo. Gosto de recompensá-lo com comidinhas, capuccino, yogoberry. Se vem o prato, mas não o talher, eu enfio a cara no feijão. Eu me dou presentinhos ao longo do dia, porque gosto de me ver feliz por coisas pequenas. Eu me compro um picolé ou faço um chá. Eu tenho vontade de falar o que não devia e acabo me dando o direito. Eu pago mico e não finjo que não me conheço. Eu erro e me perdoo. É fácil me perdoar, porque eu compreendo facilmente minha atitudes. E, mesmo quando não compreendo, imagino que eu deva ter um bom motivo. Eu sou auto-condescendente.

Acho que sou auto-mimada, sim.

domingo, 2 de maio de 2010

Mãe


Próximo domingo é Dia das Mães. Hoje é dia da MINHA MÃE. Essa taurina, como eu. Teimosa, como eu, que sou tão como ela. Que assim aprendi a ser a partir do que ela não me ensinou. Minha mãe não me ensinou a desconfiar. E aprendi a alegria de acreditar nas pessoas. Ela não me ensinou as primeiras lições da puberdade. E aprendi a me apaixonar e me jogar em um mundo tão estranhamente desconhecido. Ela não me ensinou a ir ao salão semanalmente, a andar arrumada, a me embonecar. E aprendi a beleza da simplicidade e da autenticidade. E assim, a partir das não-lições, minha mãe me guiou por uma vida que a ela dedico. Porque, à medida que me aproximo do melhor de mim, mais retorno a ela, minha mãe. E sinto que sigo pela vida, pelos lugares, pelos encontros, procurando eternamente essa sensação de aconchego, um porto seguro, um colo de mãe.