quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Entre meus venenos

O meu veneno

Sei que minha maior força é minha extrema fragilidade
Um modo que tenho de me abalar com todos os ventos
De cada vez sofrer e morrer com a mesma intensidade
E não criar espinhos ao passar pelos tormentos.

Assim sou defendida por exércitos, conquisto multidões
Desmoralizo os oponentes quando exercito as paixões.
Tanto mais me imponho à medida que me exponho,
Que o meu sonho é o que mantém minhas ações.

Também sei que minha maior mentira é minha imensa sinceridade
Essa ingenuidade com que me debruço sobre todas as coisas
E que na pele e no rosto e nos olhos explode emoções:
Eu trajo esse grande disfarce, que é minha verdade.

Minha doçura é meu veneno involuntário
É o que confunde qualquer adversário
Porém ser mulher e delicada não é escolha, é minha condição
E se tão facilmente me desfaço, se sou tão quebrável,
É que é o espaço em que me sinto confortável, não uma opção.

Encontro-me neste terreno, nele me decubro
E faço do meu corpo, este corpo magro e pequeno,
Meu maior escudo.


Este poema eu escrevi alguns anos atrás. É querido, pois foi o primeiro poema que já tive premiado. E conseguia me descrever, da cabeça aos pés. Agora vejo o quanto mudei. O quanto perdi a coragem de expor minhas fraquezas. O quanto me tornei dura. Mas, se antes ser frágil era minha força, agora minha dureza é minha maior fragilidade. E vejo que quanto mais aparento ser forte, mais vulnerável me torno. Um dia ainda escrevo outro poema sobre isso...

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sabia do seu talento para poesia. Linda de verdade!!!

Unknown disse...

Doce veneno: simplesmente lindo!
O outro poema existe?