quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ouriços

Hoje você me mandou esta foto, que me fez recordar uma história que minha terapeuta costumava contar, sobre os ouriços: Eles, na noite fria, aconchegam-se para dormir. Precisam do calor um do outro. Porém não podem aproximar-se demais, ou acabam se espetando. Nós, ouriços, somos assim: constantemente medindo a distância adequada entre mim e o outro. O quanto somos capazes de agregar sem ferir.

Então eu me lembrei de uma época em que não tínhamos essa lucidez dos sensatos. Aproximamo-nos mais, muito mais do que era possível a nós, ouriços. E nossos espinhos cravaram-se um no outro. Mas eles não nos feriam, extasiados que estávamos ao nos reconhecermos como um.

Poderíamos nos manter eternamente espetados e unidos, um pelo outro, um ao outro, não fosse a lentidão com que dois corpos se movimentam juntos, não fosse o peso, não fosse a minha pressa e a ânsia de me lançar ao espaço. Não fosse a brusquidão com que separei os corpos perfurados para só então me dar conta do sangue que corria pelos poros já não tapados pelo espinho que outrora se agregara. Agora alheio.

Hoje você me manda esta foto: um ouriço. E ela me faz pensar que o medo não é das perfurações, mas da retirada dos espinhos.

5 comentários:

Leilane disse...

Curti muuuito, o texto e a foto, quero segurar um bebê ouriço também!!!

Maria Cristina disse...

Nossa, doeu na alma, isso sim...

Douglas Kawaguchi disse...

Lindo, Lian. Lindo.

Daniel Borges disse...

Me lembrou muita gente, obrigado!!

Ana disse...

Fiquei imaginando essa dor...