quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Promessa de chuva


O céu ameaçou a chuva que há tempos o tempo prometia. Chuva larga, de lavar o mundo, de inundar a casa. E eu fiz planos de tempestade.

Esperava muito, pois era promessa antiga. Esperava chuva grande, de tornar as coisas pequenas. Desses dias em que as poças d'água me espelham. E em que as ilusões, frágeis, dissolvem-se.

Sonhava com banhos de chuva de antanho. Da época em que descíamos com agasalhos de lã, encharcando-nos e cantando que "é a dança da chuva", até as empregadas, alarmadas, buscarem-nos pelos braços. Da época em que, após corrermos e nos abrigarmos embaixo de toldos, minha irmã sugeria que ignorássemos a chuva, então saíamos felizes e molhadas, andando como se fora um dia de sol. E com banhos de chuva de agora, caminhando saltitante com o amigo descalço.

Sonhava com uma chuva que lavasse tudo. Lavasse não, levasse embora. Uma chuva que afogasse as inquietações e trouxesse à tona apenas os tesouros. São tão poucos e pobres meus tesouros, que por isso me são mais caros.

Hoje o céu ficou repleto de nuvens pretas, com promessa de tempestade para os meus raios. Hoje eu quase chovi de alegria. Mas a chuva lá fora foi tão pequena que mal lavou o meu dia.

5 comentários:

Ana disse...

Adoro as coisas que você escreve. Lindo!

Maria Cristina disse...

Ah, quando eu era mais nova também gostava de tomar chuva... até que no 2º grau uma me pegou indo para a escola. Tinha uma prova importante e não pude voltar para casa. Passei tanto frio que traumatizou! Agora, prefiro um banho de mar ou de cachoeira para lavar a alma!!! bjo

Poesia de Aluguel disse...

Menina, você escreve com a alma, e pouco importa o porquê. Adorei sua leveza e intempestuosidade.

Continue,
L.

Kris com K disse...

Muito belo....

W L disse...

Chuva é realmente uma coisa muito íntima... Belo, lindo, belíssimo seu texto, chovendo aqui perto. Bjs