- Vai começar a melhorar. - é o que me diziam.
E todos os dias, ao acordar, eu abria a janela e avaliava: Hoje está um pouco mais claro. Hoje está um pouco mais quente. É, acho que está melhorando.
Hoje abri a janela e o quarto permaneceu escuro. Saí às ruas e tinha chovido. O chão estava enlameado como quando cheguei. É claro que por aqui lama é sempre a melhor das hipóteses. Muitos dos nativos, entretanto, continuam andando descalços. Para mim, com minhas havaianas, era preciso cuidado no pisar. E havia, também, o frio.
Confesso que me senti enganada:
- Mas não vai melhorar nunca?
Então me lembrei do conselho que eu mesma havia dado, na noite anterior, em uma dessas conversas de horários desencontrados. Do lado de lá, o verão carioca. Por aqui, o inverno indiano.
Ele contou-me de sua vida revirada e perguntou:
- Quando mesmo acaba o Ano do Cavalo?
- Dia 19 de fevereiro.
- Só dia 19? Pensei que já seria no início do mês. Inclusive consolei todos os meus amigos, dizendo pra aguentar firme, que já estava acabando.
- Não é assim que se aconselha as pessoas. Não diga que vai acabar. Diga para receberem as mudanças com abertura. Se aceitar, dói menos. É necessário, esse momento.
É. Porque a verdade é que nunca acaba. Com mais ou menos intensidade. Mais ou menos frequência. As coisas vão e vêm. E a chuva voltará a cair. Sempre haverá um dia em que a chuva voltará a cair. Cabe a nós aceitá-la. Junto com a lama, que também virá.
Voltei para casa, entrei debaixo do cobertor e decidi que passaria a tarde ali, estudando na cama. Para mim, que sou tão solar, será difícil receber a chuva com a mesma alegria com que recebo a luz. Mas está tudo bem, quando você aceita que há dias para se abrir e que há dias para se fechar.
Então me lembrei de um outro dia, tempos atrás. Eu levara um amigo para subir a Pedra da Gávea. No caminho, encontrávamos pessoas já descendo, que diziam, para incentivá-lo:
- Já está quase chegando.
E chegamos.
Na descida, ele, à sua maneira simpática, começou a repetir essa frase a todos os trilheiros exaustos que encontrávamos:
- Já está chegando. Já está chegando.
Como descíamos, é óbvio que essa frase tornava-se cada vez menos verdadeira. Então passei a desmenti-lo:
- É mentira. Ainda está longe.
- Poxa, Lian, deixa eu motivar as pessoas!
- Mas isso não é motivação. Se você diz isso logo no início, elas vão se preocupar com a chegada. E ainda há muito caminho pela frente. Elas não têm que pensar na chegada agora, mas em cada degrau. O importante é subir.
Pois bem. Hoje chove. E eu tento escutar meus próprios conselhos. Aceitar o que vier e me ocupar com cada degrau. Aqui. Agora.
E depois do topo sempre tem a descida.
E todos os dias, ao acordar, eu abria a janela e avaliava: Hoje está um pouco mais claro. Hoje está um pouco mais quente. É, acho que está melhorando.
Hoje abri a janela e o quarto permaneceu escuro. Saí às ruas e tinha chovido. O chão estava enlameado como quando cheguei. É claro que por aqui lama é sempre a melhor das hipóteses. Muitos dos nativos, entretanto, continuam andando descalços. Para mim, com minhas havaianas, era preciso cuidado no pisar. E havia, também, o frio.
Confesso que me senti enganada:
- Mas não vai melhorar nunca?
Então me lembrei do conselho que eu mesma havia dado, na noite anterior, em uma dessas conversas de horários desencontrados. Do lado de lá, o verão carioca. Por aqui, o inverno indiano.
Ele contou-me de sua vida revirada e perguntou:
- Quando mesmo acaba o Ano do Cavalo?
- Dia 19 de fevereiro.
- Só dia 19? Pensei que já seria no início do mês. Inclusive consolei todos os meus amigos, dizendo pra aguentar firme, que já estava acabando.
- Não é assim que se aconselha as pessoas. Não diga que vai acabar. Diga para receberem as mudanças com abertura. Se aceitar, dói menos. É necessário, esse momento.
É. Porque a verdade é que nunca acaba. Com mais ou menos intensidade. Mais ou menos frequência. As coisas vão e vêm. E a chuva voltará a cair. Sempre haverá um dia em que a chuva voltará a cair. Cabe a nós aceitá-la. Junto com a lama, que também virá.
Voltei para casa, entrei debaixo do cobertor e decidi que passaria a tarde ali, estudando na cama. Para mim, que sou tão solar, será difícil receber a chuva com a mesma alegria com que recebo a luz. Mas está tudo bem, quando você aceita que há dias para se abrir e que há dias para se fechar.
Então me lembrei de um outro dia, tempos atrás. Eu levara um amigo para subir a Pedra da Gávea. No caminho, encontrávamos pessoas já descendo, que diziam, para incentivá-lo:
- Já está quase chegando.
E chegamos.
Na descida, ele, à sua maneira simpática, começou a repetir essa frase a todos os trilheiros exaustos que encontrávamos:
- Já está chegando. Já está chegando.
Como descíamos, é óbvio que essa frase tornava-se cada vez menos verdadeira. Então passei a desmenti-lo:
- É mentira. Ainda está longe.
- Poxa, Lian, deixa eu motivar as pessoas!
- Mas isso não é motivação. Se você diz isso logo no início, elas vão se preocupar com a chegada. E ainda há muito caminho pela frente. Elas não têm que pensar na chegada agora, mas em cada degrau. O importante é subir.
Pois bem. Hoje chove. E eu tento escutar meus próprios conselhos. Aceitar o que vier e me ocupar com cada degrau. Aqui. Agora.
E depois do topo sempre tem a descida.
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