A gente se relaciona com uma cidade através de várias camadas, nenhuma mais verdadeira que a outra. E a gente leva a vida inteira para conhecê-la e não a conhece. Pois ela é tecida por fios de tempo, de pessoas, de histórias que se cruzam.
E quanto mais leio sobre Varanasi ou ando por seus becos, mais sei que nunca saberei um mínimo. Como compreender, em uma vida humana, uma cidade de mais de três mil anos?
Penso em Galeano citando seu amigo Fernando Birri, sobre a utopia: “A utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se afasta dez passos. Pois a utopia serve para isso, para caminhar”.
Estar aqui às vezes me parece um sonho, uma irrealidade ou delírio. E compreender a dimensão disso tudo é a utopia.
Sinto-me dando esses passos. Caminhando. Ou melhor, remando por este rio: o Ganges. Tentando cruzá-lo, para quem sabe ter uma vista panorâmica, enxergá-lo. Mas o Ganges é um rio que não se cruza. Reside na terceira margem, sua verdade.
Mas hoje fez um dia bonito e teve um quase sol. Eu passei o dia estudando às margens do rio. E foi calmo. E foi claro. E no final do dia um amigo me convidou para pegar o barco.
Pegamos. Ele queria remar, então dispensamos o barqueiro e negociamos um bom preço, com o argumento de que o moço nem precisaria trabalhar.
- Mas subam o rio. – ele advertiu – Pois para baixo é mais movimentado e eu vou ter problemas, se virem vocês remando.
Subir o rio a remo não é fácil. Mas eu, que estava de passageira, fiquei despreocupada, admirando a paisagem. O barco movendo-se quase em círculos e eu apenas feliz por estar ali. Longe da terra e por trás dos prédios podia-se ver: uma linda bola alaranjada que se punha em meio à névoa. Lá estava ele, o sol.
Resolvemos cruzar o rio. Algumas remadas em direção à utopia. Chegamos. Era uma paisagem tão estranha, quase desértica, não fosse estar às margens do rio. Havia algumas tendas sabe-se-lá de quê. Havia mulheres vendendo flores e meninos oferecendo passeios a cavalo. Pegamos, cada um seu cavalo, puxado por um dos garotos. E depois ficamos chateados porque vimos que o metal preso ao animal machucava sua boca. E ficamos caminhando de bobeira, vendo o entardecer e os ghats iluminados na outra margem.
Era bonito. E era pleno. E podia-se ver, de lá, um pouco mais da cidade.
Mas eu não me iludo. Sei que o Ganges é um rio que não se cruza.
E continuo remando sempre.
E quanto mais leio sobre Varanasi ou ando por seus becos, mais sei que nunca saberei um mínimo. Como compreender, em uma vida humana, uma cidade de mais de três mil anos?
Penso em Galeano citando seu amigo Fernando Birri, sobre a utopia: “A utopia está no horizonte. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Se eu caminho dez passos, ela se afasta dez passos. Pois a utopia serve para isso, para caminhar”.
Estar aqui às vezes me parece um sonho, uma irrealidade ou delírio. E compreender a dimensão disso tudo é a utopia.
Sinto-me dando esses passos. Caminhando. Ou melhor, remando por este rio: o Ganges. Tentando cruzá-lo, para quem sabe ter uma vista panorâmica, enxergá-lo. Mas o Ganges é um rio que não se cruza. Reside na terceira margem, sua verdade.
Mas hoje fez um dia bonito e teve um quase sol. Eu passei o dia estudando às margens do rio. E foi calmo. E foi claro. E no final do dia um amigo me convidou para pegar o barco.
Pegamos. Ele queria remar, então dispensamos o barqueiro e negociamos um bom preço, com o argumento de que o moço nem precisaria trabalhar.
- Mas subam o rio. – ele advertiu – Pois para baixo é mais movimentado e eu vou ter problemas, se virem vocês remando.
Subir o rio a remo não é fácil. Mas eu, que estava de passageira, fiquei despreocupada, admirando a paisagem. O barco movendo-se quase em círculos e eu apenas feliz por estar ali. Longe da terra e por trás dos prédios podia-se ver: uma linda bola alaranjada que se punha em meio à névoa. Lá estava ele, o sol.
Resolvemos cruzar o rio. Algumas remadas em direção à utopia. Chegamos. Era uma paisagem tão estranha, quase desértica, não fosse estar às margens do rio. Havia algumas tendas sabe-se-lá de quê. Havia mulheres vendendo flores e meninos oferecendo passeios a cavalo. Pegamos, cada um seu cavalo, puxado por um dos garotos. E depois ficamos chateados porque vimos que o metal preso ao animal machucava sua boca. E ficamos caminhando de bobeira, vendo o entardecer e os ghats iluminados na outra margem.
Era bonito. E era pleno. E podia-se ver, de lá, um pouco mais da cidade.
Mas eu não me iludo. Sei que o Ganges é um rio que não se cruza.
E continuo remando sempre.
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