Acordei, vi o quarto todo iluminado e pensei: será que já é tarde?
Imediatamente me respondi: calma.
E ainda argumentei com a canção: "Lembra que o sono é sagrado e alimenta de horizontes o tempo acordado de viver..."
Ainda eram oito da manhã. E era a primeira vez em uma semana que eu dormia a noite inteira, oito horas, quase ininterruptamente. Um resfriado misturado com rinite alérgica tem-me feito virar noites em claro. Então era bom acordar depois de finalmente dormir.
É que as noites aqui tem sido longas, enquanto os dias são curtos para tantos sonhos.
- Daqui pra frente, tem que fazer tudo que você planeja, porque o tempo vai voar sem que se perceba - ele me disse.
Já voa. E como o que planejo é muito pouco, cabe-me mais viver os planos do acaso.
Ajudamos uma cabra, que estava acorrentada muito rente à parede.
- Vamos afrouxar sua corrente. - propus.
Quando o bicho percebeu, começou a tossir de emoção.
- Não se anime muito, não vamos te soltar. - expliquei-lhe.
Mas acho que ela não entendeu, pois continuou tão emocionada que fez xixi. Logo depois, fez cocô.
Já se passou mais de um mês e tudo ainda me surpreende. Eu acho graça das coisas e os indianos acham graça de eu achar graça das coisas. Todo mundo vem me ver quando resolvo tirar foto com a cabra de pernas cruzadas sobre o banco. A cabra se faz de gente, mas a atração sou eu.
Acho que eles sabem há muito que gente, cabra, vaca... é tudo bicho igualmente. E é tudo deus.
Estranha é essa menina, que não sabe nada disso.
É como se eu tivesse entrado no sonho alheio. E por isso ele fosse mais meu.
Estar desperto é sonhar muito profundo.
Talvez por isso eu não durma.
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