Mais uma noite sem respirar e sem dormir e mais uma manhã exausta.
- Você precisa jejuar - recomendara-me meu amigo, no dia anterior - você está intoxicada.
- Eu não quero jejuar. Você não vê o prazer que eu tenho em comer? A felicidade que a comida me dá...
Fomos nos encontrar no meu cantinho do restaurante para o café da manhã, para, em seguida, irmos à clínica ayurvédica. Desta vez, tínhamos consulta e tratamento agendados.
O médico era um moço sério, mas suave. Tomou meus braços e pôs-se a tocar meus pulsos, fazendo considerações:
- Sua temperatura está alta. Você está levemente febril.
Depois ele concluiu que eu estava com o dosha kapha desequilibrado e que, por isso, meu organismo estava intoxicado e com baixa energia. Estranhei que logo meu kapha estivesse alto, pois, até onde eu sabia, era o dosha menos presente em mim.
- Nós não somos uma coisa só. Temos equilíbrios (e desequilíbrios) diferentes a cada momento. - explicou o médico - Por ora, evite comidas pesadas, massa, fritura, iogurte...
- Isso inclui o lassi?
- Inclui.
- Droga.
Meu amigo aproveitou a oportunidade:
- O que você tem a dizer sobre jejum?
O médico respondeu:
- Jejuar é ótimo para desintoxicar. Pode fazer duas vezes por semana, ou quando conseguir. Mas não precisa ser jejum total, é melhor tomar apenas líquidos do que não ingerir nada. Chá de gengibre com limão, por exemplo, é ótimo.
Pelo menos isso comemorei, já que bebo deste chá diariamente, o tempo inteiro.
Depois preenchemos questionários para saber nosso dosha geral, na vida. E ele me entregou um papel com a dieta ideal para meu tipo, vata. Recomendou que eu praticasse yoga diariamente, mas com práticas curtas, que eu também meditasse todos os dias e que não fizesse atividades físicas pesadas.
Em seguida fui para o tratamento que eu havia agendado. Chama-se nasya e é uma técnica de desobstrução nasal e facial. Confesso que estava com um pouco de medo. Mas no fim a sessão foi mais prazerosa do que eu temia. Muita massagem na face e no pescoço, inalação de vapor e um medicamento a base de ervas introduzido nas narinas.
Na saída, meu amigo sugeriu:
- Vamos fazer um jejum hoje? Eu te acompanho.
Admito que estava com fome e já pensando no que iria almoçar, mas acabei aceitando a proposta.
- Mas o médico disse que líquido está valendo. Então vamos agora tomar um suco.
Fomos à casa de frutas do outro lado da rua e cada um tomou um suco de romã. Depois entrei no meu modo avião, que é um modo de ser ainda mais aéreo do que o normal. Fui caminhando lentamente. Estava ainda sonolenta. Ainda fraca. Ainda tonta.
Compramos uma garrafa d'água e fomos para o rio meditar. Mas, em vez disso, passamos a tarde desenhando.
Às seis da tarde ele propôs:
- Vamos comer?
É claro que aceitei imediatamente. Fomos felizes para o restaurante e, depois de comer meu malai kofta com arroz branco, suspirei:
- Agora sim estou desintoxicada.
Dormi como um anjo à noite.
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