Começou a esquentar.
É claro, ainda não tem nada do que chamaríamos de quente. Mas, sim, esquentou.
Começamos a nos enrolar em menos panos, ao sair de casa. A dormir um pouquinho melhor, podendo até esticar o corpo dentro do cobertor. Os homens tomam banho de rio e depois ficam por ali, de cuequinha. Que não é bem uma cueca, mas uma espécie de pano enrolado.
Eu passo a abrir minha janela, de manhã, e ver um quase amarelinho.
Ainda é quase. E ainda é frio.
Um moço me contou que amanhã haveria um festival.
- Que festival?
Ele não soube me responder, com seu pouco domínio sobre a língua inglesa. Mas mostrou seu iPad, que explicava sobre a festividade do início da Primavera.
- Primavera? Quer dizer que o inverno vai acabar?
Estar aqui no frio faz você esquecer que tem um corpo. Com o tempo você deixa de ver sua pele. Você esquece que tem um tamanho.
Quando vai comprar roupa, é quase tudo tamanho único. E tanto faz, mesmo. Você se enrola em tantas coisas. Nada combina. Nada tem que combinar.
Eu vim com um bronzeado estranho nos ombros. De um dia em que fiquei esperando o ônibus, debaixo do sol. Alça de blusa misturada com sutiã. Ela ainda existiria? Nunca conseguira conferir.
Agora que esquentou um pouquinho, pude olhar no espelho, antes de me vestir correndo: ainda está lá. Fraca, mas está.
Começam a surgir pedaços de corpos. Você vê um ombro, de repente.
E passa aquela obsessão de ir para o sul.
Depois você conta os dias que tem, e são poucos.
Então um dia você descobre uma frutinha que parece uma flor ou uma carambola oca, feita de papel. Como aquela da Pedra da Gávea, cujo ciclo você acompanhou, mas pequenina. E descobre que, abrindo a flor, encontra um espécie de tomatinho. Com sabor de pêra. Você leva um saco para casa e come todos na cama.
E descobre uns cheiros. O cheiro aqui é de tudo misturado com tudo. Condimentos, excrementos, açúcar e incenso. Mas um dia aparece um cheiro de coco - talvez queimado - que você aprende a reconhecer.
E, quando se dá conta, está reconhecendo também algumas palavras.
- Teen. - eu compreendi, quando duas meninas me explicaram que queriam uma foto de nós três juntas.
Vai ficando cada vez melhor.
Começa a esquentar, por aqui.
É claro, ainda não tem nada do que chamaríamos de quente. Mas, sim, esquentou.
Começamos a nos enrolar em menos panos, ao sair de casa. A dormir um pouquinho melhor, podendo até esticar o corpo dentro do cobertor. Os homens tomam banho de rio e depois ficam por ali, de cuequinha. Que não é bem uma cueca, mas uma espécie de pano enrolado.
Eu passo a abrir minha janela, de manhã, e ver um quase amarelinho.
Ainda é quase. E ainda é frio.
Um moço me contou que amanhã haveria um festival.
- Que festival?
Ele não soube me responder, com seu pouco domínio sobre a língua inglesa. Mas mostrou seu iPad, que explicava sobre a festividade do início da Primavera.
- Primavera? Quer dizer que o inverno vai acabar?
Estar aqui no frio faz você esquecer que tem um corpo. Com o tempo você deixa de ver sua pele. Você esquece que tem um tamanho.
Quando vai comprar roupa, é quase tudo tamanho único. E tanto faz, mesmo. Você se enrola em tantas coisas. Nada combina. Nada tem que combinar.
Eu vim com um bronzeado estranho nos ombros. De um dia em que fiquei esperando o ônibus, debaixo do sol. Alça de blusa misturada com sutiã. Ela ainda existiria? Nunca conseguira conferir.
Agora que esquentou um pouquinho, pude olhar no espelho, antes de me vestir correndo: ainda está lá. Fraca, mas está.
Começam a surgir pedaços de corpos. Você vê um ombro, de repente.
E passa aquela obsessão de ir para o sul.
Depois você conta os dias que tem, e são poucos.
Então um dia você descobre uma frutinha que parece uma flor ou uma carambola oca, feita de papel. Como aquela da Pedra da Gávea, cujo ciclo você acompanhou, mas pequenina. E descobre que, abrindo a flor, encontra um espécie de tomatinho. Com sabor de pêra. Você leva um saco para casa e come todos na cama.
E descobre uns cheiros. O cheiro aqui é de tudo misturado com tudo. Condimentos, excrementos, açúcar e incenso. Mas um dia aparece um cheiro de coco - talvez queimado - que você aprende a reconhecer.
E, quando se dá conta, está reconhecendo também algumas palavras.
- Teen. - eu compreendi, quando duas meninas me explicaram que queriam uma foto de nós três juntas.
Vai ficando cada vez melhor.
Começa a esquentar, por aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário