quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Humano, demasiado humano"


Hoje pela segunda vez na minha vida de Rio de Janeiro fui abordada por brasileiros falando chinês comigo. Eles se aproximaram doces e sorridentes e, a princípio, fingi não entender a língua para que eles não me aborrecessem. Mas, como eram muito educados, acabei parando para dar atenção. Eram, como da primeira vez, testemunhas de jeová. Aprendem mandarim apenas para converterem pessoas da etnia, nunca entendi o porquê. Entregaram-me um panfleto em chinês e outro em português. Os dois foram direto para o lixo.

Tive essa experiência alguns anos antes. Uma garota bonita e simpática se aproximou de mim, me entregou um panfleto em chinês, que não entendi nada, até me convidou para uma aula de mandarim. A pronúncia dela era melhor do que a minha, e ela era brasileiríssima. Achei interessante. Depois ela apareceu no pensionato onde eu morava na época, acompanhada da irmã dela, e me entregou um outro panfleto, desta vez em português. Quando li aquilo, fiquei horrorizada. O panfleto criticava as "falsas religiões", apontando-as como tolerantes com uma porção de coisas, incluindo o "sexo imoral", como o homossexualismo.

À medida que os anos passam, cada vez me vejo mais religiosa sem religião. Vejo mais valor no sentido do sagrado, da religiosidade que não é institucionalizada, preenchida de regras e, principalmente, de proibições. Tenho em mim essa necessidade de comunhão, de pertencimento ao universo que sou eu, que é Uno, que são todos. E que se realiza na trindade: Religiosidade, Arte, Amor. Esse é meu deus, que não tem desejos, pecados, castigos, regras. Que não aponta caminhos, que não pune, que não se vinga, que não condena.

Nesse deus demasiado humano, eu me recuso a acreditar. Deus não exclui.

9 comentários:

alicexavier@bol.com.br disse...

Que lindo Lian! A humanidade tem o costume de pôr em Deus a culpa do seu próprio preconceito, orgulho e egoísmo. Deus é só amor!!!!

Erika Lettry disse...

Verdade, Lian. O difícil é, depois q se abandona a religião, encontrar um "novo" Deus. Porque ao mesmo tempo é estranho moldá-lo ao que queremos. Enfim, complexo...hehee. Beijim

Eduardo Santos disse...

Olá. Interessante seu conceito em relação a Deus, de facto Ele não exclui, somos nós que o excluímos a Ele, não será? Claro que é possível ser religioso sem religião, mas será boa essa sensação de liberdade? Não é possível ter um Deus à nossa medida, ou O aceitamos, ou não, o resto vem por acréscimo. Religiosidade, Arte e Amor, qual será melhor para preencher o nosso ego? E onde fica tudo o resto que é bom para cada um de nós e para os outros? São muitas perguntas e poucas certezas para uma vida que se deseja ser vivida com amor, sempre. Foi um prazer passar pelo seu cantinho, voltarei assim que puder.

Daniel Borges disse...

mais uma vez me encontro com vc!!!
bjus

Lillian Bento disse...

Gostei muito do texto! Também não acredito nesse Deus mau e repleto de ira. Beijos

Julia Lemos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Julia Lemos disse...

Esse Deus das religiões em geral é demasiado humano no que diz respeito ao desumano no humano. E é nítido que foi moldado à medida do desumano nos homens. Também quero uma religiosidade que não seja cruel. Marx fala que trata-se de desvincular o espírito universal da humanidade do espírito geral das religiões. Eu acho que é por aí.

Geisa Gomes disse...

Concordo.
Hoje em dia as pessoas não buscam a DEUS, verdadeiramente, porque a igreja só prega que você vai obter beneficios, que vai conseguir obter seu carrio, ou sua casa, basta você crer.
Que legal! Enquanto isso, pessoas estão moreendo, sem salvação.
Criaram UM DEUS, pra ser refugio, se eu não consegui isso foi porque DEUS não quis.
è complicado a forma que as peessoas enxergam esse DEUS.

Adam Carter disse...

Viajando pelo mundo, eu tinha varios experiencas parecidas com americanos que se aproximou de mim. Sendo no outro lado do mundo, de vez em cuando, é bem legal conhecer alguem em que pode compartilahr similiridades culturais, falando das comidas ou lugares que inspiram saudades. Mas, na maioria dos casos, esse momento agradável foi perdido quando eles me dão o seu panfleto defendendo qualquer frase religiosa que foi inventado para "salvar almas."
No pasado, eu mordava minha língua (que significa nao falava nada), mas esses dias eu deixar claro que eu não aprovo seus métodos como se despojar a reputação do meu país (e minha espécie??).
Vc esta certo, o pensamento religioso só pode ser uma experiência individualizada!