quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

No fim...


Virou moda nas redes sociais postar cápsulas de auto-ajuda sem critério. Imagens com mensagens que dizem como se deve agir e o jeito certo de encarar o mundo. É verdade que às vezes, dependendo do tamanho do absurdo, eu me divirto e até me irrito. Mas normalmente costumo ignorá-las, mesmo que façam algum sentido. É que nunca aceitei que me apontassem caminhos.

Por isso me espantei ao perceber que uma dessas frases, postadas por alguém, continuava rondando meus pensamentos por dias e dias. Havia aqueles que concordavam, curtiam e compartilhavam. E eu não consegui parar de pensar: "Então se acredita nisso?" Eu não acredito.

A mensagem falava sobre decepções e terminava assim: "No fim, é você e Deus. E não você e as pessoas."

Que me perdoem meus amigos cristãos, mas pra mim esse "você e Deus" soa como "você sozinho". A não ser que...

A não ser que por Deus se nomeie o mundo. Que ele seja tudo. O bem e o mal, que não existem. O claro-escuro. Os seres todos. As pessoas, inclusive.

Todos os dias quando acordo (eu sei que dá vontade de cantar "não tenho mais o tempo que passou", mas não, não é isso) eu tenho o meu tempo de me entender viva. O tempo de me sentar na cama e perguntar: "Por quê?" É um "por que tenho de me levantar?" e a resposta pode ser o pão com manteiga (sempre acordo faminta), um sol e uma bicicleta, um compromisso de trabalho ou um alguém. Mas eu sei que meu diário "por que hoje?" no fundo é um permanente "por quê?" Por que vida?

Que esteja talvez errada minha interpretação, mas se "eu e Deus" for eu sozinha e "eu e as pessoas" for eu e o mundo, eu fico com as pessoas. Eu sempre ficarei com as pessoas, mesmo que elas me decepcionem diariamente e eu, também, as decepcione com frequência. Mesmo que estejam de passagem, eu fico com as pessoas. Eu fico com o amor. Mesmo que ele morra e renasça transfigurado. Mesmo que doa.

Porque eu não vejo sentido na vida se não o de acrescentar à Vida, aquela outra, que é muito maior.

Eu sei. Eu sei que depositar o sentido da própria existência nos outros (nunca é apenas um outro imutável) nos faz frágeis. E eu sei que de fragilidade é feita toda terra por onde correm os rios. É o deixar-se perfurar que nos nutre. Por isso fomos feitos de vazios, para que nos deixemos atravessar.

E entre as tantas formas de amor em que já me transfigurei, não me lembro de ser tão fácil levantar da cama plena de sentido como quando fui mãe-tamanduá. Havia um filhote para alimentar e ensinar a ser. Havia uma vida para entregar, sendo, ao mundo. Responsabilidade de fazer com que vida seja, torna simples entender por que se é. Eu era.

Eu em mim seria um bloco sólido. Amor nos torna perpassáveis. Eu me quebrei em pedaços, mais uma vez, quando soube da morte daquela bebê tamanduá. Ela que me fez mãe. E a dor me fez pó, areia, terra. Mas, porque posso me despedaçar, é que as árvores em mim se enraizam. Isso é vida.

No fim, eu nunca é só eu.

9 comentários:

Anônimo disse...

estou super fuxicando os arquivos :s e achando excelente essa estratégia livre de template e linguagem, porém bastante comprometida com o conteúdo! =DDDD bjs, Pérola

Anônimo disse...

aliás, pra falar a verdade, tem muita coisa em cada post. a ideia vem carregada dum inconsciente ágil, todo momento, todo momento! =) enfim...

Leilane disse...

Nunca, nunca mesmo. E como sempre te digo: você compreende muito mais Deus, o amor, do que os que acham que O entendem.

Unknown disse...

No fim, somos o que fizemos de nós!
E continuaremos sempre, sempre e sempre a ser e a nos fazer...
Tenho gostado dos textos viu!
;D
Inté!

Clarice disse...

Coincidência ou não derramei mais um texto sobre esse tal Deus, invenção do homens.
Coincidência ou não, morreu hoje o autor de "Deus não é grande", um livro imperdível.
Tão frágeis somos nós que precisamos crer que existe algo além de toda essa maravilha e finitude que é o universo?
No final somos nós e nós mesmos. E só. Kaput! Mactub!
Abraço e bom final de semana.

Clarice disse...

Lian, passo por aqui desta vez para desejar que você possa construir com seus amigos e com quem você ama um excelente ano novo.
Beijo.

Anônimo disse...

E Deus criou o homem à sua imagem e semelhança... discordo disso.

Para mim, Deus muito maior que isso, ou seja, Deus é a própria natureza. E sempre será, ou seja, Deus é o todo. Só assim posso tentar entender alguma coisa que faça sentido. Sou filho de Deus, sim, da natureza, do universo. Isto é superior de verdade.

No entanto, o orgulho humano tenta sempre criar um Deus à sua imagem e semelhança, ou seja, um Deus meio "humano"...

Anônimo disse...

Perdemos tanto tempo com DEUS...
Percamos tempo com o outro que esta ao teu lado...
Bonito texto!!
Parabéns pelo seu talento!!!
Uns anos cheio de vida e uma vida cheio de dias...

Unknown disse...

Quanta beleza pode haver nos simbolismos? Raríssimas pessoas conseguem traduzir Deus de uma forma tão bonita e verdadeira. E o amor. Quase sempre você me dói.