sexta-feira, 5 de março de 2010

O Jardim Japonês

Eu passo por Goiânia, cidade passada e presente. Eu passeio pelas ruas, dirijo na estrada, cantando com o rádio. Eu gosto de dirigir no fim de tarde, quando o céu é tão lindo. Eu já havia reparado, quando morava aqui, que o céu de Goiânia é assim tão limpo e claro? Eu fico com a cabeça e os olhos nas nuvens. Quando entro no condomínio aproveito o silêncio para escancarar as janelas do carro e deixar o vento entrar.

Eu encontro meus amigos, meus amigos do peito, para falar sobre a vida. Eu reencontro tanta gente que há tempos não via. A gente faz sarau, churrasco, almoço, clube da luluzinha. A gente canta e faz coreografia. Eu coloco meu futuro em pauta e deixo todo mundo dar palpite. Às vezes eu me canso de ouvir conselhos e declaro encerrado o assunto.

Eu como pamonha, cachapa, arroz com pequi, rodízio de crepe. Eu como o arroz branco da minha casa, que é único porque tem gosto de arroz de casa e eu tanto sinto falta quando não estou aqui. Eu tomo sorvete todos os dias com bananas e cereais e às vezes jogo um pouquinho de batida por cima e a mistura fica até bem gostosa.

Eu monto um quebra-cabeças defeituoso que estava guardado há vários e vários anos, porque eu não tinha paciência de ficar juntando tantas peças quebradinhas que não se encaixavam com perfeição. Eu fico espantada ao terminar de montar e constatar que não há nenhuma peça faltando. Eu começo a fazer metáforas com a minha vida, eu relembro uma música de que gostava do Pato Fu e penso que o quebra-cabeças, a música e meus sentimentos são peças que se encaixam.

Eu pinto retalhos da saia no quadro que deixei inacabado, em que me retrato sozinha no universo, mas levando na saia pedaços de tudo que me é significante. Eu pinto elefante, pinguins, coruja, envelopes, avião, a Muralha da China, tênis vermelhos, macieira, jasmim-manga, cachoeira. Mas o retalho mais doce talvez seja o das cravíneas que plantei um dia.

Eu brinco com onças crianças e elas pulam em cima de mim feito malucas e querem arrancar o meu cabelo. Eu carrego quatis e tamanduás, eu tiro fotos de todos os bichos, menos das aves, porque meu negócio é com os mamíferos. Eu saio toda suja e arranhada, bem que a Marina avisou para não ir de shorts e para usar roupas resistentes e que cubram meu corpo. Eu volto pra casa com a blusa rasgada e com terra até dentro da orelha.

E eu passeio por Goiânia e vou passando por tudo isso, mas às vezes acho que fiquei presa entre pedras e pontes e fontes, onde um dia se abriu uma brecha no tempo e no espaço, para se criar a materialização do que é a eternidade: aquele Jardim Japonês.

Um comentário:

Mr. G disse...

jardim japones??? achei q era chines!!! rs!!

gostoso esse re-viver, né?

bjs volta logo!