sábado, 9 de maio de 2009

10 de maio


Vinte e sete anos atrás. Dia das mães. O presente: meu nascimento. Talvez um presente de grego, eu sei. Anos antes minha irmã nascera como uma boneca. Eu, quando nasci, minha mãe levou um susto, ela conta. Chorando com uma boca que ocupava o rosto inteiro. No dia das mães, a minha ganhou uma filha de presente. Nada mais próprio. Eu ganhei uma vida e uma mãe.
Todas as pessoas falam que sua mãe é perfeita, a melhor. A minha é imperfeita, imperfeita, imperfeita. Mas a melhor de todas.
Imperfeita porque apenas após o crescimento de duas filhas, um dia descobriu que bebês são bonitinhos: "Agora que tenho gatos, percebi a graça dos bebês. Eles são como gatinhos!" Imperfeita porque só sabia contar uma estória, que ouvíamos sempre com a alegria da primeira vez. Imperfeita porque viveu longe por quatro anos e nos fez encontrar sozinhas a porção que tínhamos de infância, de maturidade e de loucura. Imperfeita porque fala mais do que deve e é campeã de ratas e micos. Imperfeita porque seu extenso repertório culinário se resume à comida da empregada requentada no microondas. Imperfeita porque, quando fui morar sozinha, me deu a seguinte lição: "Vou te ensinar a lavar roupa...nunca use roupas brancas, só use roupas coloridas, em que a sujeira fique imperceptível". Imperfeita porque quase me nomeou por "Chenny".
Mas a melhor de todas porque, em seu jeito comicamente distraído ante o mundo, ensina uma profunda lição: existem poucas coisas que realmente têm valor e às quais vale a pena dar atenção. A melhor de todas pois sempre prezou nossa felicidade em detrimento de qualquer dinheiro ou posição social. A melhor de todas ao me ensinar com seu exemplo que pequenas vantagens não trazem vantagens reais, e que muitas vezes é preferível ser passada para trás a voltar a mente para mesquinharias. E nisso ela me deu a real dimensão de sua generosidade. A melhor de todas porque o mingau que fazia na nossa infância era motivo de festa entre as crianças da vizinhança, que se sentavam à mesa para celebrar sua alegria. A melhor de todas porque levava de ônibus todas as crianças do prédio para o clube, com a paciência de outra criança.
A melhor de todas porque, com sua humanidade e sua imperfeição, salvou-me de uma vida encontrável e definível. E deu meus contornos de uma pessoa inalcançável: impossível.

6 comentários:

Eduardo Sartorato disse...

PaRaBéNs em triplo, Lian!!

1o- Pelo seus 27 aninhos (agora temos a mesma idade, rsrsrsrsrs)

2o- Pelo texto maravilhoso que você escreveu

3o- Pela mãe que tem

Sem palavras, só o desejo de muitos anos de vida e felicidade!! BJÃO!!

Ah, fomos comer salada de fruta lá no Frans hj e lembramos de vc!! Tem que vir aqui antes de 15 de junho para a gente comemorar os nivers, rsrsrsrsrs!!

Anônimo disse...

Primoroso, Lian!

Criatividade, sensibilidade, conectividade... poder de afetar e produzir afetos. Para alguns filósofos contemporâneos, essas são características que definem o valor de uma pessoa.

Nessa "economia dos afetos" seus textos dão provas de que o seu saldo é altamente positivo!

Parabéns,
Fernando Dominience

Ana disse...

Parabéns Lian! POr ser essa mulher fantástica que transborda bons sentimentos. Tenho certeza que muito do que é se deve a mãe imperfeita e plena que descrevou.

Ontem, lembramos muito de você. Eu,Érika e Eduardo

Felicidades

Rodrigo Alves disse...

Parabéns, Lian! E parabéns, para a mamãe, que ganhou esse presente no Dia das Mães. Felicidades para as duas!!

Edificarte disse...

interessante seu blogger.

quando der visitte o meu

deixe recados..

abraços

Veronica Luz disse...

Linda sua mãe,mas me deu uma dor ler seu texto... minha mãe é um mosaico de ausências tão profundas,me distâncio,quando na verdade aos 40 anos,eu só queria uma convivência mais tranquila...