Planejei um dia de chuva fina em Kathmandu. Caminhar um pouco, observar, comer, ter tempo para viver devagar e me recuperar da viagem. Depois de um bom café da manhã e de alguma meditação, fui andar pelo bairro. Chama-se Thamel, o lugar onde estou. É a área turística da cidade, com suas lojinhas de artesanatos e agradáveis restaurantes. Acho engraçado como quase todos os bairros turísticos em tantos países tão diferentes se parecem. Por um momento, me sinto em Quito, no Equador. Não me desagrada a sensação.
Entro em um restaurante bonito e tenho que pescar qualquer coisa no cardápio. Por aqui grande parte dos pratos leva algum tipo de carne, e eu estava acostumada com os menus indianos, quase sempre vegetarianos. Escolho um prato chamado "Magic Hot Pot". Se tem "magic" e "hot" no mesmo nome, deve ser bom. E é. Uma espécie de caldo suave de tomate, com vegetais perdidos no meio, servidos em uma panela tapada por um pão. Furo o pão e sinto o vapor quente da comida. Cai bem neste frio. Vou encontrando os vegetais como tirasse surpresas do caldeirão.
Passo quase o dia todo entrando e saindo dos restaurantes, provando comidas, escolhendo sobremesas e bebendo chás. Paro em uma loja de frutas e pergunto o preço do suco de romã. Acho caro. O moço me informa que o de frutas variadas é mais barato. Gosto da ideia e resolvo prová-lo. Vejo cenouras, abacaxis, laranjas e maçãs. Tomo um gole e tem gosto de goiaba. É bom. Ao meu lado, duas chinesas compram frutas. Então uma delas se vira para mim e pergunta pelo suco. Quer saber o preço.
- Ba shi. - respondo em mandarim e fico toda orgulhosa.
Ela nem se altera. O amigo, que viu a cena de fora, conta que fiquei mais espantada do que ela, ao me ouvir falar chinês.
Passo por templos e me divirto com as cenas que vejo: grupos de jovens fumando sobre as stupas budistas. "Ah, a juventude!" - suspiro, sendo quase velha. Depois admiro as velhinhas vendendo legumes nas praças e sou quase jovem.
Quase não entendi ainda que estou no Nepal. Fico olhando para as pessoas na rua e procurando rostos nepalenses. O que é uma besteira e mania de querer fazer o novo caber na ideia preconcebida. Eu sei, mas procuro. É tão suave estar aqui que não entendo.
Lembro de algum momento conversar sobre lei da atração e de contar como tenho sorte na vida, pois tantas coisas que desejo caem do céu. Mas o melhor são aquelas que não desejo. Ou que desejo tão profundamente que nem sei. São os presentes do acaso, com que o universo frequentemente me presenteia.
Acontece que é um dia qualquer da minha vida e aconteceu de eu estar no Nepal.
Agradeço ao acaso.
É como uma paz.
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