Enfim encaramos a estrada. Juntamos tudo que iríamos levar no mochilão dele, deixamos o resto guardado na recepção do hostel, alugamos uma moto e fomos. Ele foi de motorista e me sobrou o papel de portadora da mochila.
Confesso: detesto andar de moto. Ficar sentada sem poder mudar de posição, sem conseguir conversar direito e, sobretudo, ter que usar capacete. Mas era por uma boa causa: explorar a região de uma maneira prática e barata.
À medida que íamos saindo da cidade, víamos senhorinhas coloridas trabalhando em simpáticas plantações de arroz, longos campos verdes e amarelos, tendas pequeninas feitas de palha e montanhas atrás de montanhas.
Paramos para almoçar em um restaurante com varanda para uma imensidão de paisagem. Depois seguimos para nosso primeiro destino: Nagarkot, de onde tínhamos uma vista deslumbrante das cadeias de montanhas. De lá, continuamos a viagem rumo a Changunarayan, um vilarejo bonito e tranquilo em meio ao campo.
Cheguei dolorida das horas de viagem, mais o peso da mochila. Com dor de cabeça pela pressão do capacete, mais as sacudidas da moto. Estava louca por um repouso e um banho. Mas era tão bonito o local. E era final de tarde, havia aquela luz suave amarelada. Passávamos pela área de um grande templo e era incrível pensar que ficaríamos ali. E as pessoas eram morenas e sorridentes e pareciam saídas de um filme.
Por isso encontramos uma hospedagem e saímos correndo para aproveitar os últimos minutos de luz. Demos uma volta pelo vilarejo e eu queria fotografar as árvores, os cães e as cabras, naquele cenário que parecia de contos de fadas. Depois encontramos um ponto para ver o pôr do sol e nos espantamos com o horizonte até ficar frio demais. E depois faltava água quente e eu tive que tomar um banho gelado e minha cabeça doía muito e fazia um frio de congelar os ossos.
Não. De congelar a alma.
Sei que assim foi porque eu fiquei triste, mesmo que o dal bat feito pelo garoto fosse delicioso e quente. E não quis sair para ver a cerimônia no templo, porque qualquer vento a mais poderia me despedaçar. Então fiquei por ali mesmo, conversando com meu amigo sobre coisas da vida. E, porque a cabeça já doesse muito, as palavras saíam quase sussurrantes, mas espessas. E quando acabou a luz, eu quase lhe disse que não precisava encontrar uma lanterna, pois a gente aprenderia a encarar a escuridão.
Aprende? Nem sei. O túnel sempre nos obriga, suponho.
Mas logo a luz voltou e depois da noite veio outro dia e, dentro dela, muitos sonhos. Sei que sonhei com a Bolívia e com exposições de desenho e com água. Sonhei que quase afogava, mas que alguém me puxava, entre as águas agitadas, pela mão. E era minha irmã que puxava.
Acho que não me afoguei, porque acordei de manhã e a cabeça já não doía.
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