Então eu saí decidida a fazer um
caminho diferente. Em vez de ir pelos ghats, chegaria ao último deles pela
estrada. Não sou boa de orientação, mas
parecia simples: a estrada é paralela ao rio.
Segui.
Passei por vários carrinhos de
comida de rua e fiquei maravilhada pelo que pareciam infinitas combinações de
pé-de-moleque. Amendoim caramelizado. Arroz caramelizado. Gergelim
caramelizado. E vários outros grãos e castanhas que não conheço. Passei por
vira-latas magrelos, como são todos daqui. Os mais lindos cachorros do mundo. E
sempre perto de alguma brasa, para se aquecer. Brasa sempre. Fogueiras. Fumaça
de todos os tipos, para todo lado. Os indianos estão sempre queimando alguma
coisa. Acho que passei pelo bairro muçulmano, porque de repente eram tantos com
aquela roupa típica, com o chapeuzinho. E as mulheres de burca. E eu passei
pelos homens escovando vacas e por um grupo de crianças que corriam.
Quando me dei conta, estava
completamente perdida. Tentei pedir informação a umas duas pessoas, mas nenhuma
delas entendia inglês.
Dei-me por vencida e achei que o
mais sensato seria voltar pelo caminho de onde vim – se eu lembrasse. Por precaução, sempre evito fazer muitas
curvas, quando não conheço o lugar.
Mas foi neste instante em que
apareceu uma procissão de homens carregando um defunto. O que provavelmente
significava que eles iriam ao ghat de cremação. Ou seja: o rio. Resolvi
segui-los. Eles andavam rápido, gritando coisas e jogando pétalas de rosas
sobre o corpo.
Em certo momento pararam.
Colocaram o corpo – envolto por tecidos coloridos vibrantes – sobre o chão.
Estariam descansando? Sei que notaram minha presença inconveniente ali, um
cochichou com o outro e todos me olharam. É verdade que eu não deveria
segui-los, essas procissões são só de homens e eu, afinal, nem conheço o defunto.
Mas eu só queria chegar aos ghats
– como explicar-lhes?
Não foi preciso. Eles pegaram o
corpo e continuaram a procissão.
E eu continuei a segui-los,
tentando desviar dos carros e pessoas e motos e bicicletas, em passos
apressados, até perdê-los de vista.
Sim, eu os perdi. E me senti
ridiculamente imbecil por conseguir perder um grupo de homens carregando um
defunto em tecidos vibrantes.
Então tive que voltar tudo. Andei
bastante, no sentido oposto, até conseguir me localizar. Como àquela altura eu
já estava esfomeada, resolvi que iria ao restaurante de sempre e só depois
recomeçaria meu caminho rumo ao Asi Ghat, meu destino original.
Cheguei ao restaurante, que
estava cheio, e acabei compartilhando mesa com um casal de israelenses. Começamos
a conversar e eu descobri que eles moravam exatamente aonde eu queria chegar.
- Você quer nos acompanhar,
depois do almoço?
- Claro.
E assim a vida tem me guiado,
pelos caminhos mais longos e mais certos.
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