Conversando com um amigo sobre o que eu esperava de um relacionamento, ele me disse que eu deveria escolher entre liberdade, segurança e arrebatamento, pois eu não poderia ter os três ao mesmo tempo. Ele falou brincando, mas pensei a sério sobre o assunto. O que me é essencial e o que não é. O que me move.
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O dia estava lindo, estava livre. Pulei da cama pensando em pedalar pela cidade. Joguei meu kit de sobrevivência na cestinha da bike: um garrafa d'água, cachecol, bolsa e um livro. Saí feliz da vida. Já na primeira rua que atravessei, ouvi o barulho de algo caindo. Era a luzinha da roda. Não faz mal, pensei. Já pedalando no aterro, outro contratempo. Desta vez quem caiu foi a cesta da bicicleta, com meus objetos voando para tudo quanto é lado. Um senhor e um rapaz pararam para me ajudar. Tive que fazer uma gambiarra com elástico de cabelo, para fixá-la de volta, e não é que funcionou? Mas já fiquei alerta e me perguntando se não seria tudo um sinal. Talvez fosse hora de voltar para casa e ficar quietinha, antes que algo mais sério acontecesse. Não quis me ligar a esse pensamento e segui em frente.
Em Botafogo, parei em um posto de gasolina para perguntar como eu seguiria para Copacabana, se havia algum caminho com ciclovia. O rapaz do posto não soube responder e ainda pediu que eu tomasse cuidado, pois mais cedo mesmo tinha morrido um ciclista logo ali. Eu tapei os ouvidos e disse que não me interessava, que não queria saber. Ele ainda apontou o local, enquanto eu dizia: "não, moço, não me conta essas coisas". Saí pedalando entristecida de morte e me perguntei mais uma vez se não seria hora de voltar. Não quis. Mas fui pedalando com essa tristezinha a mais de ciclista morto atropelado. Então fui cantando "Pra acabar", do Marcelo Jeneci, e a tristeza foi passando. E quando me concentrei no mar, de repente tudo ficou grande, grande, e a tristeza ficou pequena até sumir e se transformar em uma onda de alegria, êxtase e plenitude.
Fui até o final da pista no Leblon, subi para almoçar no Balada Mix, desci ao Arpoador e fiquei um tempo lendo meu Artaud, até um grupo barulhento parar ao meu lado. Troquei de canto, li mais um pouco, depois deitei e fiquei sentindo o sol batendo no rosto. Peguei novamente minha bicicleta, dei a volta no Leblon, voltei, parei para pegar um brownie em Copacabana e segui para casa. Cheguei livre e preenchida de vida. Arrebatada.
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Meu amigo me disse para escolher entre segurança, liberdade e arrebatamento, pois tudo junto não pode ser. Depois de pensar sobre o que me move e o que me é essencial, optei pelos dois últimos. Estou pensando seriamente em me casar com a minha bicicleta.
4 comentários:
Serve um magrelinho??? rsrs
ótima conclusão, bjus!!!
Acho que não é preciso abrir mão de tudo. Dá para ter dose dos três na vida...
Queroo!!
PS: Maria Cristina, espero que você esteja certa!!!
É a velha história, aqui literalmente: ou casa ou compra uma bicicleta! rsrs
Pode ter certeza, que dá pra fazer isso a dois e ter momentos inesquecíveis!
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