Pensou em voltar para a cama, mas sabia que quando pegasse no sono seria hora de levantar. Então ficou ali, sentada, com uma dor de cabeça de noite maldormida, pensando no que fazer naquele entre-tempo. Nisso tocou o interfone. Casa 15? Era para ela. Um sedex. Quando olhou para a caixa, reconheceu a letra, viu o endereço no pacote e leu o medo nas entrelinhas.
Já em seu quarto, diante da caixa aberta, olhava aqueles objetos sem saber o que seriam e muito menos o que significavam. Leu a carta e compreendeu. Um presente, talvez. Uma celebração. Um gesto. Mas um gesto de quê?
Havia aquele cheiro.
E ela tinha esse bicho que lhe antecipava o mundo olfativamente e decidia, de antemão, seus afetos. Esse maldito corpo que precedia toda sua tentativa de organização. Pensou em um nome para denominar os sentimentos suscitados. Mas eram muitos e contraditórios.
Fechou a caixa e seguiu a vida.
Um comentário:
A cabeça ainda um carrossel. A boca ainda em alho. O interfone em sol maior. A surpresa envolta em um embrulho. A saliva ainda no selo. Seguir o caminho antes de ler o bilhete até o final pode ser a melhor opção.
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