Acho drogas uma caretice.
Do rivotril à maconha. Da cocaína ao McDonalds. Da ritalina
ao álcool. Da nicotina à Coca Cola.
Sou dessas que não bebem e não fumam nada. Ou seja, chata.
Mas careta, jamais.
Careta é o conservadorismo que mantém no poder o poder
econômico. Careta é acreditar que o valor de um ser humano reside em seu carro,
em sua casa, ou em seu cargo. É olhar atravessado para essas tantas pessoas
destituídas de “valor” e dedicar a vida a conquistá-lo. E tomar uma droga para
não sucumbir. E tomar outra droga para ser produtivo. E fumar outra droga na
pausa do respiro. De novo para não sucumbir. E tomar outra droga para conseguir
se concentrar. E comer uma droga no meio da correria. E beber outra droga para
ser sociável. E tomar outra droga para dormir.
Careta é o status quo.
Por isso falar palavrão não nos deixa menos caretas. Falar
alto no bar também não. Nem pegar todas na balada. Nem ficar high com os amigos. Nem ficar eufórico, nem ter alucinações, nem
ficar chapadão. Careta, careta, careta.
É claro que entre as tantas drogas, algumas aceito, outras
tolero e a outras mais tenho aversão. Tolerância zero para cigarro, por
exemplo. Que faz mal à saúde própria, à saúde dos outros, que é um desrespeito
ao espaço público, que é um desrespeito ao meio ambiente, que fede e fomenta
uma indústria que também fede.
Já a maconha é uma das drogas mais engraçadas, pois
geralmente quem fuma pensa que transgride alguma coisa. Ou que atinge algum
tipo de comunhão, sei lá. Tenho uma amiga lúcida, que sabe que fuma apenas para
aguentar a porrada da vida. Eu costumo lhe dizer que, se é pra amortecer,
melhor que seja maconha do que droga de farmácia. Mas que, se for pra resolver,
o bom mesmo é yoga.
Também conheço aqueles que dizem que não precisam de maconha
e que seria lindo se se pudesse plantá-la. É. Mas precisam a ponto de fomentar
o tráfico. Não acho pouca coisa. Agora, lúcido, lúcido mesmo, é Mujica, que
promulgou a lei que regula o mercado de maconha no Uruguai. Sem essa caretice
de “uhu, que legal!”, mas como uma atitude política séria e necessária,
rompendo tabus e moralismos vazios.
Pois, cá entre nós, de que adianta reprimir, se a verdade é
que vivemos em uma sociedade que produz a necessidade de drogas? Uma sociedade
que sufoca, que impõe um ritmo de vida e de trabalho que desrespeita o ritmo do
corpo e da natureza, uma sociedade que exige que sejamos alegres o tempo
inteiro, que sejamos magros, produtivos e fortes? Uma sociedade que exige que
escondamos atrás de regras e superficialidades nossas verdades escuras? Como se
pode, sóbrio, sobreviver?
Por isso compreendo o consumo de todas as drogas, legais e
ilegais. Mas não sem achar careta. Porque não se trata de alternativa à
sociedade materialista/capitalista/individualista como é, mas de encaixe e
reprodução. Porque usá-las é necessidade criada por esse mundo castrador, mas
também uma maneira de mantê-lo e de torná-lo viável.
Superar a caretice não é ficar doidão, mas estar conectado
ao mundo. É essa conexão que transgride o sistema que oprime. A conexão existe
em vários níveis, nem sempre racionais. Acredito, inclusive, que todos os
estados produzidos pelas drogas também podem ser atingidos através de trabalho
corporal. Meditação. A diferença é que meditação é processo. Processo é transformação.
Enquanto droga é resultado rápido. Segue a lógica do mundo moderno. E a
modernidade é démodé. Conservadora. Opressora. Ultrapassada, desde que a
ultrapassemos.
Para isso temos que aceitar a travessia. Essa é outra
viagem...
4 comentários:
Amo-te.
Adoro como esse pequenos estreitos olhos são capaz de enxergar através e além!!
Bom!
Lian, minha droga mais forte é a vida! Dáo maior barato.
Mas uma cervejinha, um vinho só fazem bem ao coração, na medida certa, acredite.
Abraço.
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