quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Eruptível


No dia seguinte abriram-se secos os olhos vulcânicos. À custa de tantas camadas de medo adormecera o líquido espesso magmático que fluíra desde sempre. Agora anestesiado, como se possível fosse reter o que se origina do fundo mais fundo: então era o núcleo, a essência daquilo que avivava, e ela não sabia. Mas sabia. É que precisava experimentar água para solidificar-se em terra. Como explicar os caminhos tortos? A diagonal nunca fora seu princípio de vida, sua via principal. Eram longos seus percursos. Foram fios de água que fluíram em chuvas e rios, em um trajeto que tinha fim em seu ponto de origem. Então ela aquosamente reconheceu-se no solo terroso. Ao cravar as mãos na terra, descobriu-o ali: eruptível. Era a essência do mundo - ela não mais se iludia: não iria se apaziguar.

E assim, anos depois, despertaram lacrimosos os olhos vulcânicos.

2 comentários:

Aquela que lê ;) disse...

Leio seu blog com freqüência. Gosto da maneira que escreve. Não nos conhecemos, mas lendo, vc se parece muito comigo quando eu tinha a sua idade. E este texto utiliza a mesma metáfora que utilizei para o meu último texto antes da metamorfose em quem sou hoje. Não é ruim, mas dá saudade da época que era assim como vc é hj. Espero que não lhe aconteça o mesmo, não tão cedo.
Cuide de seus processos magmáticos.

Aquela que lê ;) disse...

Leio seu blog com freqüência. Gosto da maneira que escreve. Não nos conhecemos, mas lendo, vc se parece muito comigo quando eu tinha a sua idade. E este texto utiliza a mesma metáfora que utilizei para o meu último texto antes da metamorfose em quem sou hoje. Não é ruim, mas dá saudade da época que era assim como vc é hj. Espero que não lhe aconteça o mesmo, não tão cedo.
Cuide de seus processos magmáticos.