quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ser mãe


Já faz alguns anos, mas tenho essa lembrança retida de forma tão nítida na memória: Era uma recém mãe que me contava: "A sociedade nos passa constantemente a mensagem de que somos dispensáveis. Podemos ser substituídos no trabalho, nas relações sociais, no casamento. Se você não cumprir sua função, não satisfizer seu companheiro, não atender às expectativas, você é substituível, substituível, substituível. Mas, quando se tem um filho, a primeira certeza que se tem é de que você é indispensável".
Isso ficou marcado em mim. Mas voltou mais forte agora, que me tornei mãe. E logo de uma bebê tamanduá. Já convivi com gatos, cachorros, passarinhos, sempre em relação de amor. Mas era a tia. Com a tamanduá, me conferi o papel de mãe. Responsável por seu bem-estar, por seu crescimento, por seu futuro. Carregando-a nos ombros, fazendo piquenique com ela no quintal, vibrando a cada conquista, as primeiras caminhadas e cavucadas na terra, o primeiro leitinho na tigela. E ficando com o coração partido de preocupação por como ela virar-se-ia sem mim, sonhando com ela já grande, carregando nas costas, um dia, seu próprio bebezinho.
Comecei a entender essa grandiosidade da maternidade. Ser mãe é querer um mundo melhor. Um mundo sem sofrimentos, digno de seus filhos e dos filhos destes. E me peguei assim, por amor a essa bebê, mãe de toda a espécie. Com medo do perigo iminente: a extinção. Revoltada com o relato de um amigo, de que o pai dele encontrou um tamanduá adulto em sua fazenda e o matou. Parei pra pensar que essa deve ser a prática corrente entre fazendeiros, encontrar um bicho estranho e matá-lo, sem nem saber o porquê. Concluí que uma educação ambiental se faz necessária. Não destas de teatrinhos para crianças em escolas, não essas de pieguices e romantismos sobre a natureza. Mas um programa de educação ambiental informativo e conscientizante voltado para os habitantes do meio rural.
E foi assim, tornando-me mãe de uma filhotinha de tamanduá, que me dei conta de que maternidade é ampliar os limites de sua individualidade. É ser indispensável, ser maior do que se é. E sonho com aquele outro mundo, esse que eu criaria para minha bebê, um mundo em que eu fosse, sim, dispensável. Onde eu nem ao menos a encontraria, não seria nunca mãe de um filhote de tamanduá, pois ela estaria tranquila nas costas daquela outra mãe: a que a gerou.
PS: Hoje um amigo me encomendou um sorriso, que adianto na foto deste post, embora prometa ainda escrever sobre o assunto.

3 comentários:

Daniel Borges disse...

Essas coisas de ser mãe, ser indispensável, ser amada incondicionalmente.
Outro dia me peguei com um sorriso lacrimejado, sentindo saudades dos filhos que ainda não tive, enquanto observava meus sobrinhos brincando no quintal.

PS. Obrigado!

Mahh disse...

Maravilhoso texto!

Ana disse...

Adorei o texto Lian. Ser mãe deve ser algo grandioso, tenho medo dos meus pequenos adolescentes ( que terei) e tenho já saudades do bebezinho que ainda chamarei de meu filho.