Não sei que caminhos me trouxeram até aqui: essa vida que tratei de explicar e dissecar, à procura de um controle. Com os muitos espinhos eu me domei. Até um dia me encontrar nessa vida toda construída, cerceada, podada, reprimida, logicizada. E resolvi que precisava dar uma enlouquecida, remexer minha obscuridade, mergulhar ou fugir pra valer. Meditação ou mochilão. Arte ou ritual. Catarse. Purificação. Profundidade.
Fui ensaiar uma cena de "Vestido de Noiva" com uma colega doce. No primeiro ensaio, ela não teve coragem de me dar o tapa que a cena pedia. Então fizemos um exercício para desenterrarmos nossa violência. Lutávamos sem nos tocar e, por fim, nos aproximávamos e começávamos a nos estapear, cada vez com mais intensidade. Entrávamos em cena e ela fluía com a temperatura certa. Na saída eu lhe dizia: "É tão bom bater e apanhar, não é?" Ela não devia concordar, pois sorria calada.
Não sei quantos medos foram necessários para silenciar minha alma. Sei que agora, através do teatro, tento, de maneira indireta, alcançar minhas emoções anestesiadas: os segredos que não me conto. Mesmo que doa. Pois a dor vem com este grande prazer: o de me certificar viva.
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