Clarice Lispector tem um texto em que ela cita várias pessoas suas conhecidas que morreram. E encerra com a frase: "Desculpe, mas se morre". Quando li a primeira vez, fiquei abismada. Chocada com aquela verdade que parece tão simples e tão óbvia, mas que só de repente a gente a retém. A morte é questão que muito me intriga, quando, por um segundo, consigo compreendê-la, não com a compreensão racional e as frases que somos acostumados a ouvir e repetir ( "é o ciclo natural das coisas", etc. e etc. ), mas com a sensação profunda de alguém que, de repente, depara-se com a finitude.
Eu queria muito acreditar em religiões, em salvações, em almas. Mas não acredito. Também nunca compreendi o "eterno retorno", de Nietzsche, até um dia um professor explicar de um jeito que pareceu fazer sentido: "Se partirmos do princípio de que o universo é finito, então temos que concordar que há um número limitado de combinações possíveis dentro desse universo. Encerradas todas as combinações, é preciso que elas se repitam". Mas daí eu penso que isso só pode ocorrer se o universo for finito no espaço, mas não no tempo. Mas não existe tempo sem espaço... Divagações... A verdade é que essa idéia, que ameaça fazer algum sentido, parece ser a última religiosidade que me resta. Às vezes me agarro a ela com desespero.
Como é possível que pessoas vivam, sintam, amem, criem sentidos, pensem ... e um dia simplesmente acabem? A morte dos outros me espanta. A minha morte me espanta. Não faz muito tempo que descobri que morro. Então eu, eu também, sou mortal? Quando criança, eu me pendurava do lado de fora da varanda do meu apartamento, confiante em minha imortalidade. Eu já pulei do terraço do prédio para dentro da janela do andar abaixo, menina-aranha. Eu, naquela época, não morria. Hoje morro.
Faz alguns anos tive uma infecção. Decidi não tomar antibióticos, pensando: "Ou meu corpo se defende, ou morro. Como não morro, é claro que meu corpo vai se defender sozinho." Resultado: Fui parar no pronto-socorro e não morri. Mas descobri que poderia. Foi nesse dia que, em um choque, descobri minha mortalidade. Dois dias atrás, virei a madrugada no hospital, com crise asmática, bronquite, febre, respirando com dificuldade. Não era caso de morte, era só caso de tratamento. Mas levei a sério o ofício de cuidar desse corpo que é tão finito e que é tudo que sou. Este corpo, que é minha alma. E nada mais tenho além da leve esperança de que um dia, em um tempo humanamente imensurável, galáxias, estrelas, planetas ressurjam. E que entre eles, haja um planetinha azul, e que surjam vidas e que surjam povos, culturas. E que eles se encontrem. E que, dentre os encontros e desencontros, nasça uma garota chinesa em Goiânia, chamada Lian. E que ela viva, sinta, pense, ame, tema a morte, morra. E que tudo se repita infinitamente.
Eu queria muito acreditar em religiões, em salvações, em almas. Mas não acredito. Também nunca compreendi o "eterno retorno", de Nietzsche, até um dia um professor explicar de um jeito que pareceu fazer sentido: "Se partirmos do princípio de que o universo é finito, então temos que concordar que há um número limitado de combinações possíveis dentro desse universo. Encerradas todas as combinações, é preciso que elas se repitam". Mas daí eu penso que isso só pode ocorrer se o universo for finito no espaço, mas não no tempo. Mas não existe tempo sem espaço... Divagações... A verdade é que essa idéia, que ameaça fazer algum sentido, parece ser a última religiosidade que me resta. Às vezes me agarro a ela com desespero.
Como é possível que pessoas vivam, sintam, amem, criem sentidos, pensem ... e um dia simplesmente acabem? A morte dos outros me espanta. A minha morte me espanta. Não faz muito tempo que descobri que morro. Então eu, eu também, sou mortal? Quando criança, eu me pendurava do lado de fora da varanda do meu apartamento, confiante em minha imortalidade. Eu já pulei do terraço do prédio para dentro da janela do andar abaixo, menina-aranha. Eu, naquela época, não morria. Hoje morro.
Faz alguns anos tive uma infecção. Decidi não tomar antibióticos, pensando: "Ou meu corpo se defende, ou morro. Como não morro, é claro que meu corpo vai se defender sozinho." Resultado: Fui parar no pronto-socorro e não morri. Mas descobri que poderia. Foi nesse dia que, em um choque, descobri minha mortalidade. Dois dias atrás, virei a madrugada no hospital, com crise asmática, bronquite, febre, respirando com dificuldade. Não era caso de morte, era só caso de tratamento. Mas levei a sério o ofício de cuidar desse corpo que é tão finito e que é tudo que sou. Este corpo, que é minha alma. E nada mais tenho além da leve esperança de que um dia, em um tempo humanamente imensurável, galáxias, estrelas, planetas ressurjam. E que entre eles, haja um planetinha azul, e que surjam vidas e que surjam povos, culturas. E que eles se encontrem. E que, dentre os encontros e desencontros, nasça uma garota chinesa em Goiânia, chamada Lian. E que ela viva, sinta, pense, ame, tema a morte, morra. E que tudo se repita infinitamente.
9 comentários:
A MORTE
Não, não,
eu não morri não,
a morte veio,
bateu à porta,
mas eu não atendi,
ela foi embora,
não deixou recado,
não disse quando volta.
Bom,
enquanto isso,
sigo escrevendo,
lendo,
amando...
VIVENDO.
É nessas horas que percebo o quão bom é jogar Master, comer cachorro quente, chupar sorvete e conversar potoca.
Nossa lian.....Nem acreditei quando li sobre vc se pendurando do lado de fora da janela.....ou pulando do terraco para o andar de baixo.....Sabe que achava que so eu e o yuri nos lembravamos dessas coisas/!!!!!Incrivel como crescemos naquele predio, como eramos livres e terriveis......Se lembra quando A marina estava fazendo uma apresentacao no auditorio da faculdade na qual ela tocava piano e nos duas estavamos escondidas atraz do piano?claro que o resultado disso nao foi nada bom mas todas essas memoria juntas sao otimas, me lembro tb da gente passando pelo portao varias vezes indo e voltando ate que ele se fechasse......imagine se ficassemos presas ,acredito que com certeza ja ficamos presas neste portao, nao me lembro agora.....Realmente eramos imortais nesta epoca, ou os nossos anjos da guarda sofriam muito com a gente........acho que hoje estamos dando umas longas ferias a eles......pois hoje, tenho medo de andar em muros, ate mesmo subir arvores, escorregar em corrimoes de escadas, e tentar fazer o elevador parar para podermos ficar presas.........muitas coisas se passaram mas ficam na minha memoria e quando leio essas frazes suas, percebo que nao morremos nao, estaremos sempre guardadas em algum lugar dentro da gente....e seu eu morrer....claro que nao quero que seja breve....tenho certeza que estarei ainda de algum jeito em vc, no yuri, na marina, na camila, na melissa, na marcela, carol...tiago....Lembra quando cortamos meu cabelo, coloquei a culpa no Tiagao e ele nem estava em goiania,estava em Belo horizonte......So a gente mesmo......entao nao se preocupe com a morte nao....hoje descobri que nao morremos nunca estamos sempre dentro de alguem em algum lugar....sempre.......Beijao, saudades.....(Ah...por favor, nao repare nas ausencias de acentos, cedilhas e pontos.......nao tenho a minima ideia de como coloca-los em meu computer tenho que configura-lo...e tb pegar muitas aulas de portugues e computacao..............so p/ reaprender......)Beijao, Te adoro muito.......Saudades......Melanie Souza
Desculpe eu fofocar o seu blog, mas eu tava procurando por nietzsche e acabei topando com a sua reflexão. Percebi sua pertubacão com relacão à morte. E penso o seguinte, essa preocupacão com a morte se dá enquanto estamos vivos. Se há vida...
Os humanistas dizem: provavelmente Deus não existe, portanto curta a vida. Ok, eu sou agnóstico, não posso contestar isso com muita firmeza. Mas segunda a física, na natureza nada se perde, tudo se transforma.
De qualquer forma, não tem jeito, como dizia Vandré: "a morte o destino tudo". Tudo tem que ir, para dar lugar ao novo,já pensou se nada mudasse e as pessoas não morressem? O mundo seria o que era na época das cavernas, ou sei lá.
Desculpe mais uma vez a minha indiscricão com o seu blog. Se vc achar legal discutir isso, ou outras coisas, meu e-mail é: paulosiqueira@operaprima.net.
Adorei a história da janela da mulher aranha, fiquei imaginando a cena. Se fosse minha filha fcaria de castigo até 2020. Rs
Uau. Gostei do texto e tb do comentário da Melanie.
Ah, eu não sou anônimo, sou a Marina
É lindo...
(Pietro)
Nunca morremos. Fazemos história.
O importante é acreditar em alguma coisa que nos faça viver para sempre. Que nos impulsione pra vida, pra vontade de viver mais, pra coragem de ser quem somos e quem queremos ser. Um dia após o outro e sabe-se lá o que virá pela frente. Mas uma coisa é sempre certa. Colhe-se sempre o que se planta.
Mil beijos e adorei seu texto!
desculpa xeretar seu blog, mas li seu texto gostaria de fazer um comentário: o assunto da medo tenho, medo que a morte leve mais alguem que amo.
Perdi minha mãe e eu preferia ter ido no lugar dela pra não sentir essa dor, no entanto imagino ela sentido a dor de me perder e eu não queria que ela sentisse essa dor insuportavel, a pior dor é a da perda.
Porém, a morte passou por mim e me ensinou muito, passei por um momento de introspecção que me levaram a buscar uma nova forma de vida.
Então acredito que é bom pra vida pensar as vezes na morte.
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