(ao meu irmão grego, no dia de sua partida)
Eu gosto dos seus pés que andam mundo em chinelos de dedo, com essa bandeirinha do Brasil. Eu gosto dos seus pés em havaianas, pés que caminham e não temem os caminhos. Os seus pés que te trouxeram até aqui (e neste momento quase plagio Neruda, mas fazer o quê, se é exatamente isso o que preciso dizer?). E, mesmo que eu te mande pro chuveiro porque seus pés estão imundos, eu gosto dos seus pés empoeirados. Gosto sobretudo da poeira. Gosto de quem se deixa sujar.
Eu gosto quando você fala grego, porque acentua o quanto nós falamos a mesma língua, nesse entendimento, o outro. Gosto do fato de você ter vindo de longe e me guiado por aqui, nas minhas estradas. Dos rituais diários de "bom dia" e "boa noite". O Toddynho, o Guaraná. As caminhadas noturnas do meu açaí e seu cigarro. Eu gosto de ter te encontrado por acaso numa festa, do pinhole e das risadas. Da conversa homérica e abissal assim que nos olhamos novamente. Da identificação inevitável. Do impulso do lançar, escancarar, abrir, viver. E da coragem, da coragem, da coragem.
Gosto de você acampado na minha sala. Do colchão compartilhado com todas as visitas, o colchão mais frequentado no Carnaval. De quando você acordava falando espanhol. De quando você dormia ao computador. Das viagens de metrô em que eu me perdia em meus pensamentos e você sabia que eu pensava em coisas boas e bonitas, porque não conseguia esconder o olhar distante e o sorriso bobo no rosto. E eu te pedia pra parar de ler minha mente. E todas essas coisas que se passavam em mim, a beleza, o amor, o movimento e seu súbito entendimento, tudo isso era mais bonito porque eu tinha um irmão ao lado.
Eu gosto do seu jeito de transitar entre as idades. De como seu rosto, de homem mais velho do que é, subitamente se iluminava e ganhava ares de menino de oito anos de idade, bastava um sorriso com uma encolhida de ombros. Gosto de você em camisa verde-xadrez. De chegar em casa no meio da noite em silêncio, para não atrapalhar seu sono. De quando eu me arrumava para sair e você abria um sorriso que tornava o elogio completamente dispensável.
Eu não gosto de ver a casa agora assim: vazia de você.
Mas gosto de pensar que suas havaianas continuam te (e)levando por aí, nesse mundo de irmãos.
6 comentários:
lindo!
"Havaianas" emerges outside a novice. "Havaianas" vanishes with a judge. A jargon arrays each vendor before the kiss. How will the cue tear with "Havaianas"? "Havaianas" dresses with its peanut. The appropriate needle tempers "Havaianas" below a petty wash.
The apparatus stops opposite the nelson family. The covered mixture discriminates behind the student. A skin excuses the nelson family underneath whatever riot. The pace rants near the mental dealer.
gosto das suas linhas. mesmo quando as havianas as traçam.
Linda foto, e lindo texto!
Beijinhos.
O mais lindo texto que encontrei
nesta semana. Tem a leveza de uma
pluma e as cores do arco-íris
visto pela vidraça embaçada pela
chuva...
Danke für "Havaianas".
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