quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dos desejos


Quando mais nova, eu costumava dizer que tudo que eu desejava acontecia. Naquela época eu era mais sábia. Em caso de estrela cadente, disputa de cílios ou osso de galinha, meu pedido era sempre o mesmo: FELICIDADE. E felicidade era acontecimento constante.

Eu tinha essa prudência de não fazer pedidos concretos, pois acreditava piamente na força dos desejos. E sabia que aquilo que eu queria - os fatos, pessoas, objetos - não necessariamente me fariam feliz. Mas, quando algo me surpreendia, normalmente algo em que nunca tinha parado para pensar, eu agradecia ao universo. Aquela era a dádiva: felicidade em forma de algo que eu desejava tão profundamente, que nem tivera a ideia de desejar.

Algum tempo atrás eu resolvi nomear felicidade. Ela se revestiu de uma cara específica. Desta vez eu quis. Eu quis tanto que felicidade se conformasse àquilo que eu decidira ser caminho. Eu mobilizei o mundo, os pensamentos, os amigos. Eu concentrei todas as minhas energias na conquista daquilo que eu julgava quase impossível. Até que o impossível aconteceu.

Então eu não quis mais.

Não venham me dizer que a gente só valoriza o difícil, pois não é verdade. Eu sou feliz com picolé de morango, com brisa e com risada de criança. Mas aquilo, aquilo por que eu tanto pedi ... aquilo eu desnudei e não encontrei felicidade.

Hoje, tesoura em mãos, cortei um dos últimos resquícios daquele desejo: a fitinha vermelha do Senhor do Bonfim, que persistia no tornozelo. Ainda me perguntei se poderia negociar com o santo, trocar o pedido, mas não. Não quis querer felicidade nomeada e definida.

Não sei dos caminhos certos.

Eu quero o mundo em aberto.

Amém.

5 comentários:

Erika Lettry disse...

Já que vc não quer mesmo o que pediu, vc pode contar o que era...hehehe. Fiquei curiosa!

Daniel Borges disse...

Lian, vou acrescer essa característica em minha lista de mais uma coisa em comum, até o fato de perceber que não encontrar felicidade naquilo que tanto se desejou!! bjus

Maria Cristina disse...

Não precisa contar o pedido não que é óbvio rs (depois te conto Erika). Agora seu corpo gêmeo sempre soube, né?! rs Seu desejo vai muito além das amarras de uma fita... É bom que se aprenda isso, aliás, estou aprendendo e revendo esses desejos concretos. Pedir felicidade é muito bom e vou pedir isso sempre!

Mr. G disse...

Não sei dos caminhos certos.

Eu quero o mundo em aberto.

Amém.


Obrigado! Beijo! G.

Leilane disse...

Ehhhhhhhhhhhh!