Então eu me lembrei de uma época em que não tínhamos essa lucidez dos sensatos. Aproximamo-nos mais, muito mais do que era possível a nós, ouriços. E nossos espinhos cravaram-se um no outro. Mas eles não nos feriam, extasiados que estávamos ao nos reconhecermos como um.
Poderíamos nos manter eternamente espetados e unidos, um pelo outro, um ao outro, não fosse a lentidão com que dois corpos se movimentam juntos, não fosse o peso, não fosse a minha pressa e a ânsia de me lançar ao espaço. Não fosse a brusquidão com que separei os corpos perfurados para só então me dar conta do sangue que corria pelos poros já não tapados pelo espinho que outrora se agregara. Agora alheio.
Hoje você me manda esta foto: um ouriço. E ela me faz pensar que o medo não é das perfurações, mas da retirada dos espinhos.
5 comentários:
Curti muuuito, o texto e a foto, quero segurar um bebê ouriço também!!!
Nossa, doeu na alma, isso sim...
Lindo, Lian. Lindo.
Me lembrou muita gente, obrigado!!
Fiquei imaginando essa dor...
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