O céu ameaçou a chuva que há tempos o tempo prometia. Chuva larga, de lavar o mundo, de inundar a casa. E eu fiz planos de tempestade.
Esperava muito, pois era promessa antiga. Esperava chuva grande, de tornar as coisas pequenas. Desses dias em que as poças d'água me espelham. E em que as ilusões, frágeis, dissolvem-se.
Sonhava com banhos de chuva de antanho. Da época em que descíamos com agasalhos de lã, encharcando-nos e cantando que "é a dança da chuva", até as empregadas, alarmadas, buscarem-nos pelos braços. Da época em que, após corrermos e nos abrigarmos embaixo de toldos, minha irmã sugeria que ignorássemos a chuva, então saíamos felizes e molhadas, andando como se fora um dia de sol. E com banhos de chuva de agora, caminhando saltitante com o amigo descalço.
Sonhava com uma chuva que lavasse tudo. Lavasse não, levasse embora. Uma chuva que afogasse as inquietações e trouxesse à tona apenas os tesouros. São tão poucos e pobres meus tesouros, que por isso me são mais caros.
Hoje o céu ficou repleto de nuvens pretas, com promessa de tempestade para os meus raios. Hoje eu quase chovi de alegria. Mas a chuva lá fora foi tão pequena que mal lavou o meu dia.
5 comentários:
Adoro as coisas que você escreve. Lindo!
Ah, quando eu era mais nova também gostava de tomar chuva... até que no 2º grau uma me pegou indo para a escola. Tinha uma prova importante e não pude voltar para casa. Passei tanto frio que traumatizou! Agora, prefiro um banho de mar ou de cachoeira para lavar a alma!!! bjo
Menina, você escreve com a alma, e pouco importa o porquê. Adorei sua leveza e intempestuosidade.
Continue,
L.
Muito belo....
Chuva é realmente uma coisa muito íntima... Belo, lindo, belíssimo seu texto, chovendo aqui perto. Bjs
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