Outro dia uma colega me contou que, quando criança, ela pensava que sonhos eram experiências compartilhadas. Ou seja, se ela sonhava com fulano, então fulano tinha o mesmo sonho. Ela devia ter uns quatro anos de idade quando, um dia, após sonhar com seu irmão, ela acordou e comentou com ele: "foi muito engraçado aquilo que você fez...", referindo-se a seu sonho. Ele riu. Então, decepcionada, ela descobriu que aquilo, o sonho, só se passara com ela.
Eu demorei muito mais para fazer essa descoberta. Há muito passara da infância. Ou quem sabe era a infância que passara da idade, mas não passara de mim. Sei que por muito tempo acreditei que as experiências eram sonhos compartilhados. Que, se eu vivia um momento com alguém, então necessariamente este alguém vivia o mesmo momento comigo. Depois vim a descobrir que compartilhar o ambiente e o tempo com alguém não significa compartilhar experiências. Que um momento pode ser especial, tedioso ou apaixonante apenas para você, pois o outro é um universo insondável. E que as almas são, sim, incomunicáveis, pois mesmo na linguagem, único ponto de encontro, existe um abismo intransponível.
Depois disso deixei de ser criança.
4 comentários:
Que texto maravilhoso, Lian. Que imagem ótima, essa do sonho. Sou realmente uma admiradora desse seu jeito forte, sábio e bonito de dizer.
Faz pouquíssimo tempo que eu deixei de ser criança.
Traz esse no próximo encontro?
Beijos
Dizem que sonho que se sonha junto é realidade... Talvez viver seja justamente compartilhar sonhos, encontrar companheiros.
ai ai!! concordo em genero, número e grau!
Tenho um amigo, antigo namorado, esses que a gente amou muito. Tenho sonhos com ele incríveis. Acordo com a certeza de que nos encontramos. Há cinco anos não nos vemos. Os últimos sonhos ele vinha me contar alguma coisa, chorava muito e não dava pra me dizer o que era, o sonho terminava. Consegui mandar um e-mail e falei dos meus sonhos pra ele. que eu tinha vontade de ter notícias, saber se ele estava bem, falar da vida... ele não respondeu. uma semana depois, ele veio na minha casa. veio de São Paulo só pra me dizer que teve os mesmos sonhos comigo, e que veio apenas pra dizer o que queria falar nos sonhos e não conseguia: queria me pedir perdão. Perdão por ter me deixado há mais de dez anos atrás, porque era o pior arrependimento da vida dele. No entanto, ele estava casado e eu também estou. A vida continuou. Foi bom pra gente ter certeza que o amor não termina, ninguém está na nossa vida por acaso. Estaremos sempre ligados de alguma forma, contemplando, admirando, conservando a amizade, porque a vida é mesmo um mistério. E que mistério bom de viver... Poder sorrir pra ele, abraçá-lo e ouvir que eu ainda sou a mesma menina me fez sentir viva, alegre. Tenho certeza que meu marido entende isso e jamais pensa em traição, pois é o meu escolhido quem eu compartilho a vida, com o desejo de que fiquemos juntos para sempre. Mas... para cada um, um carinho ou um amor diferente. Se eu não puder amar (pura e simplesmente) estarei traindo a mim mesma e não estarei vivendo a minha vida plenamente.
Bjos, Adorei seu texto!
(e desculpa o "desabafo", rs)
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