segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Faxina


"Eu hoje joguei tanta coisa fora
E vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim."
Fazer faxina no quarto é atividade dolorosa/prazerosa. A gente revira os papéis e objetos guardados na alma. Encontra o passado, rasga aquilo que queremos apagar da vida, guarda com cuidado o que queríamos ter mantido, joga fora o que não nos faz sentido. A gente abre as gavetas há muito fechadas, levanta poeira pelo cômodo. O gato, animado com a bagunça, participa, quer pisar nos papéis, deitar nas gavetas. A gente acorda emoções que dormiam em alguma gaveta da alma. A gente encontra muitos "eus". Eu que queria mudar o mundo, no "Revolução em cadeia". Eu que tentava me encontrar em poemas. Eu estudante que fazia exercícios de Matemática. De quantos "eus" me faço e junto os pedaços para encontrar uma face que de tantas tem uma só certeza: sanidade é opção diária e exige esforço contínuo. E esse exercício de me ser é por vezes dolorido, pois quanto de mim tenho de abandonar. E abandono fazendo uma grande faxina, no quarto e na alma.

2 comentários:

Anônimo disse...

Me encontrei neste texto seu! rsrsrs

Julia Lemos disse...

este texto é um daqueles seus que me dá vontade de ler um livro inteiro de Lian Tai!! simplesmente flui, como alguns de Clarice...