(SOUTH AUSTRALIA)
Cheguei ao aeroporto de Adelaide ainda levemente estressada, pois havia perdido o primeiro voo. Sensação de ter saído da bolha de sabão que era a Nova Zelândia, o excesso de zelo. Tudo muito limpo e organizado, as pessoas sempre atenciosas e prestativas.
Então, mal saí do avião e lá estava ela, minha irmã, me esperando. Terra firme em um lugar tão distante. E, porque havia uma semana eu não encontrava um rosto conhecido e talvez houvesse um ano que eu não encontrava aquele rosto conhecido, nós não paramos de falar. E, quando digo nós, era muito mais eu, que não me calei durante três ou sete dias. Queria contar-lhe do mundo, do meu mundo, ja que usamos lentes tão parecidas. E ela também me contava de sua vida, o que me fazia rir, pois gosto desse humor de quem não faz piadas, apenas tem uma forma única de experimentar e narrar o mundo.
- Este lugar é muito deserto - ela disse - eu contei quantas pessoas...
E eu interrompia com uma crise de riso, porque pensava que ela contara as pessoas do local.
- Não, eu contei quantas pessoas atrapalham minha vida. Cinco. É muito, pra um lugar tão pequeno. Tem a mulher da cantina, a da administração geral, o motorista do ônibus... - e, quando via que eu achava graca, continuava, séria - o motorista do ônibus me faz muito infeliz!
E eu lhe contava os acontecimentos da minha vida, até ela me interromper, dizendo:
- Nossa, você não para de falar! ... Mas tudo bem, pode falar, mas eu preciso me concentrar no transito de vez em quando.
Gostei de conhecer sua casa, a comida da cantina com a salada que ela preparava, o edredom verde mais quente e macio que existe. Gostei do pássaro com TOC que confundimos mudando os carros de lugar, as comidas típicas australianas que ela me ia apresentando. Os tim tam que eu roubava sempre na geladeira, apesar do ímã com porcos logo na porta, que dizia: "we should stop eating like this". Gostei de passear nos parques, de abraçar cangurus e coalas e de rir da minha irmã dando um cutucão na barriga do morcego. E, quando eu a repreendia, ela dizia: " Eu sei, eu não deveria fazer isso, eu sou veterinária. Mas não resisti." A nossa indignação com os cangurus: "Por que eles saltam, meu deus?" E depois, voltar para casa com alguém ao meu lado dizendo, durante o trajeto inteiro: "poim, poim, poim..."
Eu reconheço nossa linguagem onomatopéica. Eu reconheco imediatamente ela em mim, pois ser uma irmã da familia Tai é isso: ter em uma só conversa crises de riso e de choro: pela situação dos aborígines na Australia, pelo mendigo no Largo do Machado e pela confusão sem fim do mundo. E falar sobre crises que só a outra entenderá. Sobre estar em um lugar estranho. A liberdade de se ser tudo, já que são os laços sociais que nos definem. E o quanto isso nos assusta. É tão difícil ser tudo de novo.
E, sendo transportada a sua vida, conhecendo seu namorado, sendo levada a lugares belíssimos e a experimentar diversos sabores, era engracado como no meio de tudo aquilo que me era desconhecido, eu me sentia em terra tão firme.
As tais raízes.
Então, mal saí do avião e lá estava ela, minha irmã, me esperando. Terra firme em um lugar tão distante. E, porque havia uma semana eu não encontrava um rosto conhecido e talvez houvesse um ano que eu não encontrava aquele rosto conhecido, nós não paramos de falar. E, quando digo nós, era muito mais eu, que não me calei durante três ou sete dias. Queria contar-lhe do mundo, do meu mundo, ja que usamos lentes tão parecidas. E ela também me contava de sua vida, o que me fazia rir, pois gosto desse humor de quem não faz piadas, apenas tem uma forma única de experimentar e narrar o mundo.
- Este lugar é muito deserto - ela disse - eu contei quantas pessoas...
E eu interrompia com uma crise de riso, porque pensava que ela contara as pessoas do local.
- Não, eu contei quantas pessoas atrapalham minha vida. Cinco. É muito, pra um lugar tão pequeno. Tem a mulher da cantina, a da administração geral, o motorista do ônibus... - e, quando via que eu achava graca, continuava, séria - o motorista do ônibus me faz muito infeliz!
E eu lhe contava os acontecimentos da minha vida, até ela me interromper, dizendo:
- Nossa, você não para de falar! ... Mas tudo bem, pode falar, mas eu preciso me concentrar no transito de vez em quando.
Gostei de conhecer sua casa, a comida da cantina com a salada que ela preparava, o edredom verde mais quente e macio que existe. Gostei do pássaro com TOC que confundimos mudando os carros de lugar, as comidas típicas australianas que ela me ia apresentando. Os tim tam que eu roubava sempre na geladeira, apesar do ímã com porcos logo na porta, que dizia: "we should stop eating like this". Gostei de passear nos parques, de abraçar cangurus e coalas e de rir da minha irmã dando um cutucão na barriga do morcego. E, quando eu a repreendia, ela dizia: " Eu sei, eu não deveria fazer isso, eu sou veterinária. Mas não resisti." A nossa indignação com os cangurus: "Por que eles saltam, meu deus?" E depois, voltar para casa com alguém ao meu lado dizendo, durante o trajeto inteiro: "poim, poim, poim..."
Eu reconheço nossa linguagem onomatopéica. Eu reconheco imediatamente ela em mim, pois ser uma irmã da familia Tai é isso: ter em uma só conversa crises de riso e de choro: pela situação dos aborígines na Australia, pelo mendigo no Largo do Machado e pela confusão sem fim do mundo. E falar sobre crises que só a outra entenderá. Sobre estar em um lugar estranho. A liberdade de se ser tudo, já que são os laços sociais que nos definem. E o quanto isso nos assusta. É tão difícil ser tudo de novo.
E, sendo transportada a sua vida, conhecendo seu namorado, sendo levada a lugares belíssimos e a experimentar diversos sabores, era engracado como no meio de tudo aquilo que me era desconhecido, eu me sentia em terra tão firme.
As tais raízes.