Diretor: Sabe que eu tinha pensado em fazer isso que vocês fizeram? Colocar o cachorro como um humano leal.
Luís Renato: É, mas é melhor você procurar outra pessoa, que a Lian já é minha.
Professor: Sua? Sua o quê?
Luís Renato: Minha cachorra!
E cada vez mais reconheço meu lado cão. À medida que passam os anos vou abandonando a capa e o uniforme da heroína e começo a assumir essa verdade de que tanto fugi: eu me completo no amor ao outro, na doação, na lealdade. Eu não sou independente como eu proclamava ser, em uma época em que eu dizia que nunca abriria mão dos meus planos profissionais por causa de outra pessoa. Eu me espelho no outro e o mundo me faz sentido quando eu direciono amor.
Existe um conceito sociológico denominado "o outro significante". É aquele ou aqueles para quem você quer ser importante. É o olhar que te direciona. Há aqueles para quem o "outro significante" é o inimigo. São aqueles que agem pensando no julgamento do inimigo: "Se eu fracassar, ele vai achar bem feito". Nunca entendi bem a lógica de se deixar guiar por aqueles que não te querem bem. Outrora meu "outro significante" era um plural, um alguém anônimo, a humanidade. Eu me via sendo uma grande escritora, talvez uma grande filósofa. Eu me via sendo grande, enfim.
Hoje me vejo pequena. Amando e sendo amada. Família, filhos, amigos. Eu aprendi isso com um pé de caju, com uma tamanduá, com um passarinho. Eu aprendi com amores verdadeiros, amigos de língua, de fé, de vida. Eu aprendi com meu pai e minha mãe. E aprendi através de um longo caminho pelo qual segui sem olhar para trás e sabendo que lá deixava todas as não-coisas que mais me importavam. Porque eu tive que dar a volta ao mundo para chegar a este ponto do qual nunca saí: o amor.
Sou cachorro. Sou cachorro na vida e no horóscopo chinês. Antanho quisera ser tigre, dragão ou outro animal imponente. Lamentava ser cachorro, apenas. E hoje me vejo no espelho e sou: cachorro.