Nesses dias tenho conversado muito com meus amigos de faculdade sobre o que a graduação significou para nós. Depois de quatro anos passados, vemos com certa distância o que éramos naquele tempo e o que nos tornamos depois. Ontem foi a colação de grau da minha irmã e, enquanto o orador da turma proferia seu discurso, fiquei pensando no que eu vivi durante meu curso e resolvi escrever aqui não meu discurso, já que anos depois posso dispensar as formalidades inerentes ao ritual, mas meu depoimento de formatura:
Em 2001 ingressei na Faculdade de Comunicação da UFG. Era uma garota que adorava escrever e que queria mudar o mundo e, por isso, escolhi a profissão: jornalista. Não se passou um mês para que eu percebesse que escolhera o curso errado. Mas o que demorei a perceber era que o curso errado era tão certo em minha vida.
No início os novos colegas pareceram estranhos e ameaçadores a mim, que estudara a vida inteira em colégios burgueses e era acostumada a pessoas uniformes, uniformizadas. Com o tempo aquela mistura de pessoas diferentes, vindas de diversos lugares e classes sociais, começou a tomar forma e alguns rostos passaram a se destacar. Os rostos amigos: aqueles que partilhavam das afinidades. O jornal literário, os saraus, as coreografias, o grupo de Antropologia, as discussões filosóficas.
Houve as disciplinas essenciais, as inesquecíveis. As aulas da Selma, que nos dava as primeiras noções de cultura e relativização. A leitura sistemática de textos filosóficos com o Jordino, em longas aulas sobre o ser do ente. As inter-relações entre Nietzsche e Dostoievski que geravam interessantes discussões nas aulas da Cláudia. Os trabalhos do Signates, que me forçavam a pensar a institucionalização sistêmica dos meios de comunicação. Houve a disciplina da mulherzinha, que aproveitei por teimosia, já que fazia questão de estudar e tirar boa nota como resposta a sua mediocridade. Houve as inúmeras disciplinas que cursei como núcleo livre na faculdade de Filosofia: Lógica, Filosofia da Mente, Filosofia Contemporânea, Filosofia da Linguagem,... Houve as aulas de fotografia e produção audiovisual, em que passei tardes entretida ampliando fotografias ou noites gravando curta-metragens. E houve também as disciplinas que cursei porque eram obrigatórias, mas pelas quais não tinha o mínimo interesse, já que não pretendia ser jornalista.
Vendo, hoje, à distância, percebo que tanto aprendi quando pensava estar perdendo tempo. Enquanto matava aula para comer coxinhas na Faculdade de Artes, enquanto brigava com a professora que nos acusou de cola injustamente, enquanto trocava bilhetinhos nas aulas. Aprendi sobre a vida e as pessoas, com uma dimensão impossível de ser apreendida em salas de aula.
Saí da faculdade em 2006 com um diploma em uma mão e tesouros muito mais preciosos na outra: amizades verdadeiras, idéias expandidas, experiências impagáveis. E hoje, passados quatro anos, afirmo com certeza: se eu fosse escolher um período da vida para o tempo se congelar, eu me eternizaria naquela garota de saia longa, passeando pelos corredores da faculdade, comendo coxinhas e suco de cupuaçu, ao lado das melhores companhias do mundo. Ser feliz com o máximo de intensidade: eis outra lição que aprendi na faculdade.