domingo, 24 de janeiro de 2010

Para um menino, em seu aniversário


É necessário que você permaneça sendo o que é: um menino. Que talvez tenha crescido demais. Que talvez até tenha feito anos demais. Mas que o tamanho e a idade não te iludam: que você seja esse menino que ri alto e que brinca de ver o mundo de um jeito bonito. Que você nunca persiga cegamente falsas vitórias, alegrias ilusórias. Que suas buscas tenham a pureza do garoto descalço que corre atrás da bola.


É estritamente necessário que você seja menino. Para isso é preciso ter talento para infância, ter olhos curiosos para perceber que o mundo é sempre novo, ter mãos ágeis para fazer música e pintar árvores na parede, ter lábios grossos para fazer bico e conseguir todas as suas vontades. Tem que ter vocação para reinventar sentidos cotidianamente, inventar definições engraçadas para palavras desconhecidas e conseguir convencer de que a sua é a definição do dicionário.


É preciso que seja menino. Que ao ganhar mais um ano, você perca um pouco de juízo. É preciso que saiba fazer caretas, imitar vozes, pular como macaco e rosnar como leão. É necessário que às vezes você tenha a capacidade de jogar tudo para o alto, de se dedicar uma semana inteira à mais pura vadiação. De vez em quando é preciso que você deixe o cabelo desgrenhado, que você use uma camiseta rasgada ou verde-água, para camuflar na parede. Mas que a soma dos anos não camufle sua verdadeira idade: um menino.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Regresso


Desta vez foram suaves os dias que passei em Goiânia. Pela primeira vez em quatro anos não tive tanta certeza de que não voltaria a morar nessa cidade. Um lugar de aconchego onde tenho pai e mãe, comidinha familiar, espaço para ler meus livros e pensar na vida. Fizemos nossa tradicional festa de Natal dos Amigos, Clube da Luluzinha, rodízio no japonês. Matei a saudade de Pirenópolis, junto com um bom amigo. Fizemos trilha, tomamos banho de cachoeira e batemos longos papos. Comi arroz com pequi e pamonha. Recebi a visita de um grande amigo carioca-santista, o Luís Renato, que trouxe o Diego de bônus. E, por incrível que pareça, voltei ao Rio contrariada. Queria ter ficado mais tempo, desta vez. Felizmente a chateação passou tão logo encontrei alguém que me esperava com saudades, nesta tão quente cidade...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Um tapete

Há alguns anos resolvi tecer um tapete. Seria um presente de Natal para uma pessoa querida. Comprei os materiais, criei o padrão e escolhi o tipo de bordado. Um tapete grande e personalizado, que ficasse no chão do quarto. Para que ele pisasse leve. Para que seu mundo fosse macio, eu o teceria. Seria assim meu presente: feito de lã, sonhos, dedicação. Aquele espaço que eu queria construir: onde ele se deitasse e repousasse suas preocupações, uma a uma. Onde ele pudesse pisar com segurança, sem medo dos percalços que se espalham por outros caminhos.


Comecei a tarefa um mês antes do Natal. Passava horas trancada, tecendo, tecendo. Todo aquele tempo que eu gastava em meu empenho se concretizava em apenas um pedacinho a mais de tapete. Percebi que a tarefa era grande e o tempo, pouco. Tinha crises de alergia por conta dos fiozinhos que voavam da lã. Mas persistia na tarefa, correndo contra o tempo. E de repente me dei conta de que não terminaria o presente a tempo de entregá-lo no Natal. O dia chegou e o tapete estava pela metade. Ofereci-o mesmo assim, como uma promessa. Entreguei o tapete inacabado, prometendo que em breve ele estaria pronto, estendido no chão para amaciar seu caminho.

Mas sonhos e dedicação são coisas incertas, não podem ser prometidos. Com o tempo fui desanimando, cansando da tarefa repetitiva e das crises de alergia decorrentes. E a rotina de entregar meu suor, de dedicar minhas horas livres para que essa outra pessoa pisasse leve tornou-se sufocante. Um dia enfim desisti. O tapete permanece inacabado em um fundo do armário - nunca tive coragem de jogá-lo fora. E a pessoa em questão... espero que seus caminhos sejam sempre macios...