terça-feira, 29 de julho de 2008

A delicadeza dos motoristas de caminhão

Não sei por que estou falando disso logo hoje. Mas anos atrás, ao fazer uma viagem de carro, comecei a observar a dinâmica das estradas. O assunto me era totalmente estranho, já que costumo ser desligada quanto a esse tipo de questão. Só descobri que existe seta, luz baixa, luz alta e pisca-alerta, por exemplo, nas aulas de auto-escola. Enfim, ao observar o comportamento dos motoristas, descobri algo que me surpreendeu: os motoristas, principalmente os caminhoneiros, têm uma forma de comunicar e cooperar entre si. Eles dão seta para avisar que o outro carro pode ultrapassá-lo, para comunicar que a ultrapassagem é inviável, mudam de pista para auxiliar o outro veículo. Fiquei maravilhada com a descoberta. Em um mundo em que atributos como gentileza e delicadeza fazem tanta falta, é encantador encontrá-los onde menos se espera.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O fazer coisinhas


Fazer coisinhas é uma arte. Não é exatamente fazer tricô, nem découpage, nem scrapbook. É a vontade de fazer tudo isso e depositar um carinho em cada objeto feito. A minha história com coisinhas vem de longa data. Desde que eu me entendo por gente, quando tentava reproduzir as instruções do livro "Fazendo e brincando", da coleção "O mundo da criança". Também adorava aqueles programas de tv que ensinavam a fazer objetos de sucata. A algumas coisinhas eu resisti durante bom tempo, por puro preconceito. Na adolescência, via as mães fazerem tapetes enquanto esperavam os filhos na natação. Morria de vontade de fazer. Mas essa atividade, assim como tricô, crochê e bordado, eram vistas por mim como coisas de dona-de-casa. Anos depois aprendi a fazer tricô com minha avó. Fiz um cachecol, dei de presente e nunca mais toquei naquelas agulhas.
Também já tive a minha fase de ponto-cruz, de móbiles de origami, de tentar aprender macramê e de começar um tapete. Inventei de fazer um tapete gigante, mas ele era quase infinito. Não importava o quanto eu bordava, sempre faltava um pedaço imenso. Ainda por cima, soltava tantos fiapos, que tornava a atividade impossível, por causa da minha alergia.
Na faculdade, conheci a Júlia, que também tivera uma infância com "O mundo da criança". Juntas, fizemos curso de crochê em barbante, para aprendermos a fazer aquelas bolsas de bicho-grilo e morríamos de rir da aula, cheia de velhinhas, cujo assunto eram as próprias avós. Também nos divertíamos quando recebíamos recado em casa: "Sua professora de crochê ligou convidando para a festinha da turma". Também pintávamos quadros, fazíamos scrapbook e tivemos uma oficina de caixinhas. Passávamos noites pintando e colando guardanapos em caixinhas, fazendo porta-cartas, porta-ovos, porta-lápis. Enfim, não faltava com o que portar as coisas. Tivemos momentos memoráveis, como o diálogo com o Marcelo, quando o convidamos pra fazer origami com a gente:
Marcelo: Podem fazer, vou ficar só olhando.
Lian: Você não gosta de fazer coisinhas?
Marcelo: Não.
Lian: Nenhum tipo de coisinha?
Marcelo: Não.
Lian: Ué, mas você pinta!
Marcelo: É.
Lian: Então você faz coisinha!
Marcelo: Ah, tá. Eu não sabia o que "coisinhas" abrangia!
Depois me prometi fazer uma bolsa de patchwork quando entrasse no mestrado. Entrei, saí, e a bolsa, nada. Aqui no Rio, ficava horas fazendo scrapbook com a Érika. O resultado são álbuns e álbuns. Um mais geral, outro com detalhes, outro de viagem, um de receitas... E também fazíamos filminhos.
Enfim, minhas últimas coisinhas são o cachecol e a faixinha de cabelo da foto, feitos com tear de prego, e uma touca de cabelo, de crochê.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Sampa


Foi bom passar uns dias em casa, mesmo que, tecnicamente, São Paulo nunca tenha sido minha casa. Ainda assim a casa da Tia Stella tem aquele gostinho de lar, com bate-papo até de madrugada, chazinho, comida chinesa. Consegui reencontrar meus pais, tios e primos. Aprendi a fazer tricô com tear de prego, crochê e bolo de banana. Fiz um cachecol, uma faixa de cabelo e uma touca. Foram apenas cinco dias, mas o suficiente pra me fazer recordar quais as coisas mais importantes na vida.

sábado, 12 de julho de 2008

Anjo da guarda em ação


Ainda bem que eu tenho um super anjo da guarda que me protege de tudo, inclusive de mim mesma. Hoje quando eu estava na CAL, esperando a aula começar, resolvi sentar em um murinho que era mais ou menos baixo do meu lado, mas alto do outro lado. Pulei lá em cima e, quando ergui as pernas para me ajeitar, eis que caio do outro lado. No infinito de tempo desse percurso vertical já fui pensando que desta vez quebraria alguma coisa, pois estava caindo do alto e ainda com as pernas para cima. Enfim, me virei de um jeito que mal acreditei, continuei inteira, só com uns poucos arranhões no braço. Meu anjo da guarda realmente merece um prêmio...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

3 de julho

Eu devia ter uns cinco anos de idade, não sei com precisão. Estávamos no carro, meu pai dirigindo, eu, minha irmã e outra amiguinha no banco de trás. O nome dela era Nádia, e uma das poucas coisas que eu sabia sobre ela era que ela não tinha pai. Não era preciso saber muita coisa, afinal, na infância, basta o fato de a outra pessoa também ser criança para se tornar sua amiga. Ela frequentava nossa casa e brincávamos. Quer dizer, na maioria das vezes, ela e minha irmã brincavam de fugir de mim, como se faz com as caçulas. Mas voltando àquele dia no carro...

Eu, levianamente, falei cantando: "A Nádia não tem paaai!", ao que meu pai imediatamente me repreendeu. Com toda razão, é claro. O que ninguém soube eram as minhas razões para falar aquilo. Eu não tinha a mínima intenção de magoar a outra garota e, na minha pouca idade, nem pensei que aquilo aconteceria. Na verdade aquela provocação não tinha nada a ver com a menina. Mas, quando eu disse que ela não tinha pai, o que eu queria era, indiretamente, fazer uma declaração de amor ao meu pai. Queria que ele percebesse o quanto eu me orgulhava de tê-lo em minha vida e o quanto eu o amava.

Passaram-se muitos anos e aprendi a me expressar um pouco melhor, embora ainda possa magoar pessoas sem querer. Mas hoje, que sei falar com um pouco mais de clareza, e que é aniversário do meu pai, aproveito para dizer: Pai, tenho o maior orgulho de ser sua filha. Amo você incondicionalmente.