Meu último amigo a fazer um blog, o Leon, escreveu um primeiro texto sobre a relação dele com as tecnologias. Algo que ia do computador ao porco, sei lá. Aí fiquei pensando no meu modo de lidar com as novas e as não tão novas tecnologias.
Pra começar, eu sempre tive uma relação conflituosa com meios de comunicação em geral. Adoro o máximo de contatos face a face e gosto da introspectividade das cartas, o que me causou certa aversão inicial a internet e celular.
Telefone, eu já não gostava. Amo conversar, papear, falar abobrinha, mas quando posso olhar para a cara da pessoa. O telefone tira de cena aspectos essenciais para uma boa comunhão: a linguagem corporal e também o silêncio. Quando estamos com alguém, as conversas são alternadas com momentos de silêncio, que enriquecem a cumplicidade e o entendimento mútuo. Pelo telefone, é necessário falar sem parar.
Conservadora que sou, me recusei a fazer um e-mail por algum tempo. Quando fiz intercâmbio nos Estados Unidos, em 99, me comunicava por carta. Escrevia pelo menos três cartas por semana, que demoravam uns quinze dias para chegar. Trocava cartas com todas as pessoas queridas, aqui no Brasil, e as notícias vinham sempre desatualizadas. Acho que foi em 2001 ou 2002 que fiz meu e-mail. Mesmo assim eu o utilizava apenas para questões de trabalho, mantendo as cartas para os contatos mais íntimos.
Celular, demorei a comprar. Achava invasiva a idéia de ser sempre encontrada. Todo mundo já me cobrava que eu tivesse um, pois nunca conseguiam falar comigo. Um dia passei na frente da loja e pensei "se eu não quiser, é só não atender". Entrei na loja e comprei meu primeiro aparelho. Quando mostrei em casa, pensaram que era de brinquedo. "A Lian com celular? Essa é nova!" Ainda assim, eu nunca atendia a uma ligação. Quando reclamavam, eu explicava que ele não tocava. É que eu o programara para apenas vibrar, mas como não o mantinha por perto... Eu segui à risca a história de não atendê-lo, na maioria das vezes nem quando queria. Ainda assim tive vontade de jogá-lo contra a parede inúmeras vezes. Me sentia sufocada ao pegá-lo e ver um monte de chamadas não atendidas. E era cobrada por todos, que achavam que eu tinha a obrigação de atendê-lo. Eu me explicava: "Eu o comprei com o meu dinheiro, para atender às minhas necessidades, não para ser controlada pelos outros."
Em Orkut e MSN eu era decidida a não me cadastrar nunca. Mas, ironicamente, minha linha de pesquisa no mestrado é justamente Novas Tecnologias. E meu projeto é especificamente sobre sociabilidade na internet. Resultado: entrei em ambos de má vontade. No início do MSN eu até curti um pouco. Hoje ele é praticamente aposentado, um inválido total. Pra quem não tem paciência pra conversar por telefone, imagina se vou ficar papeando por MSN. Orkut, entrei só pra fazer pesquisa, criei um perfil chamado "Mestranda UERJ", sem fotos, sem informações pessoais, apenas para entrar nas comunidades de meu interesse. Um dia encontrei uma comunidade da minha turma do colégio. Fiquei com vontade de participar e criei meu perfil atual, com fotos, nome, amigos.
O resultado de tudo isso: Aprendi que cada instrumento de comunicação se serve melhor a um tipo de uso. Escrevo longas cartas, selo e levo ao correio, para tratar de questões introspectivas, que não necessitem de urgência. Tem o toque, tem o capricho, tem o cuidado. Levo horas escrevendo cada uma, me abrindo, expondo a alma. E recebo cada uma com carinho. Utilizo o e-mail para avisos rápidos e questões práticas. Impossível ficar sem. Tem quebrado muitos galhos em minha vida. Orkut, uso-o para manter o contato com os amigos. É diferente do e-mail, porque enquanto este funciona para quando tenho um assunto para tratar, pelo Orkut posso simplesmente deixar um "oi", reforçando laços através de um convívio que não necessita de questões concretas. Celular? Ainda estou pagando pela minha avesrão inicial. Hoje é ele que não gosta muito de mim. Mas vamos aprendendo a conviver e um dia ele ainda vai ser bonzinho comigo, vocês vão ver só. Ah, quase me esqueço de falar do blog. É mais um jeito de manter as pessoas queridas próximas, sabendo do que se passa em minha vida. Também visito quase diariamente os blogs dos meus amigos, para me sentir próxima deles. Pena que algumas pessoas quase não os atualizem (isso é uma bronquinha para quem a carapuça servir)!
Enfim... internet vicia? Digamos que, desde que tenho internet no meu quarto, pelo menos minha postura e minha visão pioraram significativamente. Mas não, não me isolo para ficar na internet. Fico porque já estou isolada. Porque a maioria das pessoas que me são mais queridas estão longe. A internet me conecta ao mundo, possibilita que eu mantenha a convivência com tanta gente que me é cara. A prova disso é que, em Goiânia, o computador fica esquecido. Hoje eu falo ao celular, me comunico no Orkut e por e-mail. Mas, se eu pudesse, eu estaria em uma rodinha de amigos, com um violão, uma comidinha, ou simplesmente um bate-papo fluindo solto.